Moderno
ou eterno?
Carlos Drummond de Andrade, nos
primeiros versos do poema “Eterno”, desabafa:
“E como ficou chato ser moderno
Agora serei eterno”.
Há, principalmente entre os escritores
novos (e alguns aspirantes a escritor) uma obsessão pela modernidade. Muitos,
que nem sabem o que ela, de fato, signifique, findam por produzir textos
caricatos, autênticas “conversas de louco”, eivados de neologismos
desnecessários, de galicismos sempre dispensáveis e de anglicismos macaqueados
do inglês falado nos EUA, a pretexto de serem “modernos” ao escreverem dessa
forma. Evidentemente, não são. Sem que se apercebam, descambam, na verdade,
para o ridículo.
O que escritores (não importa de que
tempo) precisam é criar um estilo próprio de escrever. Após criado,
compete-lhes aperfeiçoá-lo e manterem-se fiéis a ele. A boa literatura não é
nem moderna e muito menos arcaica: é eterna. Sobrevive ao tempo, à efemeridade
e ao esquecimento. Encanta gerações e mais gerações e se perpetua. A
modernidade justifica-se, sim, mas nos meios de difusão do que se escreve. Ou
seja, nos avanços tecnológicos que tornam possível o máximo de alcance das
idéias produzidas que se queiram veicular.
Curiosamente, justo este tipo de
“novidade”, que deveria ser recebido, sempre, com festas e com entusiasmo, é o
que desperta maiores temores em algumas pessoas. A informática, por exemplo,
que veio facilitar a vida de todo o mundo, ainda é encarada com reservas
(quando não, com pavor) por alguns, que temem não se adaptar a ela. Por isso,
utilizam-se de meios hoje arcaicos e nada práticos para produzir e difundir
seus textos.
Mas o que está ocorrendo, atualmente,
em relação à eletrônica, sequer é novo. Nem nisso a atual geração consegue ser
original. É o mesmo que já ocorreu no século XIX, por exemplo, com o avanço da
tipografia, que significou um salto notável na indústria gráfica, popularizando
o livro e ensejando o surgimento da imprensa diária.
Victor Hugo descreveu da seguinte forma
o que se pensava na época: "Trata-se, antes de mais nada, de um pensamento
de padre. Do assombro do sacerdote diante de um novo agente, a tipografia. Do
espanto e do deslumbramento do homem do santuário diante da imprensa de
Guttenberg. Foi o encontro entre o púlpito e o manuscrito, a palavra falada e a
palavra escrita, alarmando-se com a palavra impressa; algo comparável ao
estupor de um passarinho que visse o anjo legião abrir suas seis milhões de
asas. Foi o grito do profeta que ouve já zurrar e pulular a humanidade emancipada,
que vê no futuro a inteligência minar a fé, a opinião destronar a crença, o
mundo livrar-se de Roma". Evidentemente, isto não aconteceu.
A tecnologia, seca e fria, jamais
matará a arte e a criatividade. Se
alguém acalenta esses terrores, precisa se conscientizar, e logo, que eles são
insanos e injustificáveis em relação ao o que é novo. Não se deve, pois,
confundir “meio” com “mensagem”. Este, convém que seja sempre o mais moderno,
prático e racional que puder ser. Aquela, contudo, não pode se submeter a
nenhuma limitação, nem temática, nem formal, nem de tempo e nem da moda,
porquanto é desejável que seja eterna.
Boa leitura.
O Editor.
E como tem pessoas que se sentem sabidas demais aponto de achar que podem ditar normas de como se deve escrever, quando não sobre o quê e como falar.
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