A poética do pardalzinho
* Por
Gustavo Pilizari
De repente,
assombro-me com um barulhinho de chiado... viro a face... e no escuro do canto
da casa, vejo o bater contorcido de um animalzinho que, naquela situação, me
faz parar tudo para ajudá-lo – e, assim o fiz...
Fui pego pelo grande
prazer de poder acolher em minhas pálidas mãos um pequeno bichinho tão
docilmente comum, tão banalmente presente em nossas vidas e tão desprezado
pelos nossos olhares – nós não olhamos mais com o compasso cadencioso de uma
bailarina...
Assim, uma criaturinha
frágil, de olhos brilhosos feito burcas novas, pedia o clamor da liberdade,
enquanto seu corpinho, de plumagens cinzentas-marrons, com pezinhos feito
galhinhos secos perdidos no gramado, mantinha um doloroso tremor...
Mantive-o abraçado em
minhas mãos por mais tempo apenas por uma necessidade racional de repensar a
vida... acariciando seu corpinho liso, de penas viçosas e bem distribuídas, captava
seu olhar sereno, aberto a um negror ovalado nunca visto antes... queria poder
dizer a ele que segurá-lo fazia um bem muito bom pra mim, como se a paisagem da
vida parasse apenas para admirar este poético enquadramento de vida...
Ali, em pé, observando
meus dedos brancos formarem uma jaula de proteção ao pequenino passarinho, sai
de mim e me vi por outro ângulo - de fora - na necessidade de pensar a vida que
temos...
...Alguém que nesta
curta vida tenha o privilégio de se embriagar com o brando olhar luminoso e
frágil de um doce pardalzinho não pode pensar em guerras, não pode ser assolado
por pensamentos negativos, não pode pensar em maldade ao próximo...
Aquele pardalzinho
suplicava piedade em seus olhinhos cheios duma pintura matinal, quando o mesmo
nos oferece o gostoso chiado de seu piado, anunciando as manhãs...
O pardalzinho foi,
para mim, inspiração para composição desta crônica; foi uma composição poética
a me fazer refletir e parar por minutos em meu eixo... Para o pardalzinho, eu
era um mostro gigantesco, pronto para devorá-lo com minhas enormes brancas mãos
erigidas como jaulas... seu coraçãozinho versava um tom disparado em minhas
frágeis mãos – estava em pânico, pedindo uma chance para voar e dançar no céu
uma valsa conjunta com seus amigos...
E, com lágrimas no
rosto, soltei-o...
Nunca pensei que um
pardalzinho pudesse fazer toda a diferença...
*
Jornalista
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