sábado, 28 de maio de 2016

Poliglota!

* Por Luciane Evans


Radinho à pilha  no ouvido. Torcida tensa. Timão em campo. Domingo é dia de jogo em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, interior de Minas. O sol escaldante exigia uma boa gelada para ajudar torcedores a engolir as falcatruas do juiz.  E não é pra menos. Antes mesmo dos 5 minutos do primeiro tempo, o homem já havia atirado dois cartões amarelos e muitos apostavam que o vermelho não ia custar a sair.

O que era tensão virou desespero. As duas torcidas (não cabe aqui dizer quais eram os times) já estavam indignadas com a postura daquele  homem todo de preto,  que achava que  ter um apito em mãos  era  o mesmo que ter o rei Pelé na barriga.   A coisa esquentou quando o juiz marcou um pênalti que nem mesmo a torcida que seria beneficiada acreditou no que via. No auge da baderna, os palavrões dos fanáticos prejudicados ganharam o estádio.

Era xingamento para tudo quanto é lado. "Vai roubar da mãe", dizia um. "Viado que gosta de.....", gritava outro. "Fedaputa sem vergonha, chupador...", esbravejava algum sem noção. Bom, as frases  eram disso para pior. Mas ninguém contava com a astúcia de "Seu Joaquim" - homem pacato, honesto, com três filhos marmanjos e uma moça prestes a se casar. Com a sua bermuda surrada e o chinelo de dedo tradicional do domingo, Seu Joaquim, que não perde a paciência por nada nesse mundo, não aguentou  ver o timão levar de goleada por roubo de juiz. Aliás, ninguém aguenta.

Mas com Seu Joaquim foi diferente. A paciência perdeu o limite. E vendo os companheiros soltando a franga (na melhor das intenções) ele respirou fundo, pois a essa altura o sangue já estava quente.  Encheu o peito, levantou da arquibancada (ainda cambaleando de raiva), olhou para o juiz e com todo o ódio que lhe cabia  lascou o palavreado: "Seu poliglota!!!!!!!!". Ninguém mais disse uma palavra sequer.


* Jornalista

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