O
corno pão-duro
* Por Celamar
Maione
Laurita era muito bonita. Daquelas
loiras altas, bem boazudas. Casada com Genival há 10 anos. Amava sinceramente o
marido e apesar das cantadas que recebia, sempre foi fiel . Genival só tinha um
problema: era pão duro! Só tinha duas calças compridas. E obrigava a mulher
Laurita a economizar em tudo.
Machista, não deixava Laurita trabalhar
fora. Ela havia se conformado com essa vida controlada. A mãe dela é que não
gostava nada de ver o jeito pão duro do genro:
-Minha filha, você tem que dar um rumo
na sua vida. Arrumar um emprego, arranjar uma maneira de ganhar dinheiro, não é
possível ficar convivendo com esse homem pão duro.
Laurita, mulher apaixonada , dava de
ombros e respondia à mãe :
-Faço por amor mãe...amo meu marido e
eu o aceito assim. Do jeito que é.
A mãe acabava sem argumentos e desistia
de incentivar a filha a sair do casamento com Genival, que na rua era conhecido
por todo mundo pelo seu jeito pão duro de ser. Até que um dia a máquina de
lavar escangalhou. Não teve conserto. Assim que Genival chegou do trabalho,
Laurita foi falar com o marido, fez aquela voz meiguinha com direito a biquinho
e falou com boca mole:
-Genival...a máquina de lavar não tem
jeito. Ou compra outra, ou você vai ficar com as roupas sujas. Lavar roupa na mão, nunquinha.
O marido que assistia ao jogo de
futebol, nem desgrudou os olhos da TV e foi logo respondendo :
-Se vira Laurita. Não tenho dinheiro
para comprar máquina nova.
A mulher esperneou, bateu o pé mas
Genival foi duro:
-Nada de máquina de lavar. Se você não
quiser lavar as roupas, que se dane, uso roupas sujas.
Não adiantava. Laurita sabia que quando
o marido batia o pé desse jeito, não havia quem o fizesse mudar de idéia. O
jeito foi lavar a roupa na mão. Um mês depois, com as mãos estouradas e as
unhas todas quebradas, foi reclamar com
a mãe. A mãe aproveitou para colocar lenha na fogueira:
-Ué, você não ama o Genival ? Agora
agüenta, lava as roupinhas dele na mão.
Laurita voltava para casa triste,
cabisbaixa...Pela primeira vez seu casamento corria o risco de acabar. E veja
só: por causa de uma máquina de lavar.Vinha ela, distraída com seus
pensamentos, quando encontrou Seu Antonio, dono do armazém da rua do lado, que
era vidrado nela. Quando ela passou, como sempre fazia , jogou uma piadinha:
-Já vai gostosa ? Vem cá ....vem...que
eu te dou o que você quiser ! Só pra ter uma noite de amor com você..
De repente, Laurita estancou. Ficou
parada pensando. Seu Antonio ficou assustado e pensou:
“Pronto...é agora que ela se encheu das
minhas cantadas e vai me dar um tapa na cara”.
Mas não foi o que aconteceu. Ela voltou
e decidida perguntou:
-Se eu for para cama com você, você me
dá uma máquina de lavar ?
O homem nem acreditou. Esfregou as mãos
e empolgado respondeu :
-Mas é claro...o que você quiser. Até
uma máquina de lavar.
-Então primeiro a máquina, depois eu
durmo com você.
Dois dias depois chegava a máquina de
lavar na casa de Laurita: novinha em folha. A mulher ficou boba. E cumpriu o
trato. Dormiu com o homem do armazém. Depois da tarde de sexo arroz com feijão,
Seu Antonio empolgado fez a proposta:
-Então ? Gostou ? Te dou o que você
quiser para você ficar comigo.
Laurita se vestindo apressada
respondeu:
-Não posso, amo meu marido. Só queria
mesmo a máquina de lavar.
À noite, quando o marido chegou em casa
e viu a máquina de lavar, Laurita tomou coragem e contou para ele que havia
dormido com o homem do armazém só para ter a máquina de lavar. A esperança de
Laurita é que ele agora tomasse vergonha na cara e parasse com essa mania de
ser pão duro.
Mas a reação de Genival foi a mais
anormal do mundo. Ou quase. Ele olhou a casa toda, deu um sorrisinho de
satisfação e respondeu :
-Laurita...estamos precisando de uma
televisão nova. Dessas de 29 polegadas.
Os dois se abraçaram, riram juntos e
foram felizes para sempre. Finalmente Laurita achou uma solução para o
pão-durismo do marido.
*
Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas
Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do
Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos. É autora do
livro de contos “Só as feias são fieis” (Editora Multifoco).
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