quinta-feira, 26 de maio de 2016

A menina do chemisier rosa

* Por Alberto Cohen

Devo confessar que meu grande amor é uma menina. Às vezes ela tem quatorze, outras vezes quinze anos. Não mais que isso.

Amo seu jeito de andar com a cabeça levemente inclinada para um lado, como se escutasse alguma melodia, e de estreitar os olhos quando olha para mim. Ela usa óculos.

É, ao mesmo tempo, gozado e enternecedor vê-la, quando lê ou estuda, enrolar com os dedos a mecha de cabelos lisos, cor de cobre, e comovente ouvir seus planos de ser médica para ajudar as pessoas.

Lembrei, agora mesmo, que seus cadernos são de folhas avulsas cortadas ao meio e quase todos têm, colados na capa, um passarinho, uma flor, um coração.

Como posso deixar de amar essa menina tão bonitinha em seu chemisier rosa e tão perfumada de White Magnólia? E como gosta, realmente, de poesia! Principalmente a minha aos dezessete anos!

Aos domingos, quando a levo à missa numa igrejinha de subúrbio, vou coberto de orgulho por tê-la ao meu lado e ouvi-la dizer que somos namorados. Nessas horas, sinto que será, sempre, a minha menina.

O mais importante é que, no meu coração, ela permanecerá toda a vida, meiga e boa, terá quatorze ou quinze anos e não irá crescer para se tornar, talvez, uma mulher maldosa e amarga que não lembre que, um dia, fazer-me feliz foi seu maior sonho.

Não! A minha menina, meiga e bonitinha, quatorze ou quinze anos, chemisier rosa, White Magnólia, jamais me fará infeliz.

Deixem-na assim, fiel e constante, morando em minhas lembranças e nos meus sonhos (a casa de sonhos que lhe prometi). Nosso tempo será démodé, mas dourado, com beijos roubados, poemas de amor e a emoção imensa de andar de mãos dadas pela vida inteira.


* Poeta paraense.

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