terça-feira, 31 de maio de 2016

Sempre na espera


* Por Daniel Santos


Homens, muitos e muitos. De cueca e camiseta. Nas noites de calor, deixam aberta a porta das cabines e espreitam em expectativa o convés por onde, não demora, elas surgem do nada, talvez da espuma das ondas.

Impossível saber qual a mais bela. Vestem o tule e a organza inverossímeis da bruma e desfilam vagarosas como um sonho que não quer terminar, enquanto eles anseiam por um gesto, um sorriso que seja!

Há tempos, quando elas começaram a aparecer, foi a felicidade. No entanto, logo os homens se danaram; alguns, ao menos: ao tentarem alcançar essas que fácil se esfumam, perdiam-se ao fundo do oceano!

A partir daí, para não se perderem de vez, aprenderam a viver na contenção, no aguardo de uma escolha que, a rigor, sabem improvável. Por isso, em vez de avançarem nelas, suportam, mal e  mal, a imobilidade.

Quietos como hominídeos com receio de sair da gruta, aguardam sua vez. Quem sabe, uma delas chame. Quem sabe, enfim adormeçam. Quem sabe, o vento bata a porta e termine de vez com a visita do delírio.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.







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