terça-feira, 17 de maio de 2016

Espectros



* Por Alberto Cohen


De que me servem as flores do tapete se não tenho um jardim? E as janelas com o mundo verdadeiro lá fora fazem de mim um prisioneiro por livre opção?

O fato é que perdi o jeito de viver, de ser mais um na multidão dos seres com múltiplas finalidades, desejos humanos e um saber buscar.

Homens, mulheres e crianças com um objetivo, seja ele qual for, penetram as ruas, correm, andam e cantam com a vida a chamá-los para a farra diária do ter o que fazer. É o mundo encantado do existir apenas para o dia de hoje que será hoje de novo amanhã.

Os espectros como eu fazem parte de janelas espectadoras e de flores bordadas industrialmente, sem cheiros e com mentirosas cores. Nada além de lembranças que quase nem lembram e saudades verbais do que não aconteceu. Zumbis ainda de carne que se prenderam em ambientes fechados e soturnos com olhos-mágicos nas portas.

Passar os dias sem contar as horas. Esperar pela noite para o esquecimento do sono que pode não vir. Medo das calçadas e dos imprevistos que elas podem ou não trazer.

A casa é o forte onde as ameaças e esperanças já nem batem à porta e as flores do tapete sempre estiveram lá e estarão para sempre.

* Poeta paraense.


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