domingo, 27 de março de 2011



Ganho e perda de tempo


* Por Pedro J. Bondaczuk


O fracasso, em qualquer dos nossos empreendimentos – quer no amor, quer numa amizade, quer nos estudos, no trabalho, nos esportes etc. – pode ser classificado como perda de tempo? Entendo que não! Muitos, no entanto, interpretam como sim. É questão de ponto de vista. Ponderemos. Por mais que um determinado insucesso tenha nos machucado, doído e causado frustrações, ele sempre deixa algum saldo positivo. Compete-nos procurá-lo atentamente. Ou seja, temos que ser sábios o suficiente para extrair lições dos nossos erros e fraquezas para que, com sua devida e competente correção, possamos chegar ao sucesso: sólido, consistente e duradouro. Perda de tempo, na minha visão, é sequer tentarmos conquistar um amor, por exemplo, ou consolidarmos uma amizade, ou fazermos um curso para o qual somos potencialmente aptos, ou buscarmos uma promoção profissional, ou vencermos uma competição esportiva etc.etc.etc., tudo por medo de fracassar. Esse temor em si já será um fracasso. Com a agravante de não termos lição alguma (mesmo que dolorosa ou vexatória) a extrair. O filósofo Francis Bacon faz a seguinte e lúcida constatação a respeito: “Não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar”. A segunda dessas perdas é infinitamente maior. Salomão já dizia, na sua velhice, depois de conhecer o máximo do sucesso, ou seja, riquezas, fama, poder, glória etc., que tudo debaixo do sol tem seu devido tempo: o de nascer e o de morrer; o de amar e o de detestar; o de agir e o de descansar e vai por aí afora. É uma mensagem direta, simples e até óbvia à qual, no entanto, raramente atentamos devidamente. Fracassamos, muitas vezes, em nossos empreendimentos, por querermos colher os frutos prematuramente, quando estes ainda estão verdes e amarram a boca, tendo um sabor amargo ou ácido. Deixássemos amadurecê-los e nos deliciaríamos com sua doçura. Devemos ter em mente o tempo certo para realizar o que pretendemos (e saber fazê-lo, claro). Isso não significa adiar indefinidamente nossas realizações. Através da intuição, sabemos o momento certo de agir. O que ocorre é que raramente lhe damos ouvidos. Há um outro aspecto a ponderar. A mera preocupação com o futuro, sem a conseqüente e posterior ação, no sentido de construí-lo concretamente, achando que as coisas irão se materializar por si sós, à nossa revelia, como que num passe de mágica, é uma estupidez sem tamanho. É assim, todavia, que a maioria age. E os resultados são, invariavelmente, os previsíveis: fracasso! Se quisermos que nossos projetos se concretizem (e isso se os tivermos) temos que agir nesse sentido. Precisamos estudar, trabalhar e nos preparar com método, organização e aplicação, dia a dia, anos a fio, sem nos deixarmos abater pelo desânimo e nem nos submetermos à sedução da pressa. Ainda assim, não há a menor certeza de sucesso (nunca há e para ninguém). Reitero o que já escrevi inúmeras vezes, mas que é sempre oportuno relembrar: não temos sequer certeza de que amanheceremos vivos amanhã, quanto mais sobre os resultados dos nossos esforços num remoto e nebuloso futuro. Todavia, se nos prepararmos adequadamente, se aprendermos todo o conhecimento a que tivermos acesso, se realmente quisermos, agindo para concretizar esse querer, nossas possibilidades de sucesso crescerão exponencialmente. Ele será, pelo menos, mesmo que remotamente, viável. Afinal, como constatou Francis Bacon, “o futuro do homem está oculto em seu saber”. E, tenha certeza, pelo menos em termos potenciais, de fato, está. Mas não podemos nos fiar, apenas, na inteligência para tentarmos concretizar nossos sonhos e projetos. Esta é importante, não há dúvidas, mas não sozinha. Solitária, ela é inerme e não nos leva a lugar algum. Precisa do auxílio de uma série de sentimentos e virtudes que a impulsionem e a façam efetiva. Por exemplo, um dos fatores imprescindíveis é a fé em nossas possibilidades. Se iniciarmos algum empreendimento, não importa qual, sem acreditarmos no seu sucesso, é melhor que sequer venhamos a sobrecarregar nossos neurônios e despender energias. Ele estará, liminarmente, fadado ao fracasso. Outra emoção valiosa é a esperança. Mas ela, igualmente, não pode vir desacompanhada. Deve ser respaldada e complementada por ações que a viabilizem. Se nada esperarmos da vida, senão seu complemento (a morte), já estaremos espiritualmente mortos, mesmo que isso não nos seja aparente. O escritor francês, Roger Gard, escreveu: “A inteligência só conduz à inação. É a fé que dá ao homem o ímpeto indispensável para agir e o entendimento para perseverar”. Notem que o ilustre pensador não defendeu a burrice como forma de obter o sucesso. Longe disso! Aliás, nem seria maluco de recomendar uma coisa estapafúrdia dessas. Apenas ressaltou que a inteligência, sem o respaldo de outras virtudes, é impotente para promover, sozinha, o êxito que tanto almejamos. Portanto, amigo leitor, planeje, estude, se prepare, lute e tente. Aprenda a se levantar, sempre que cair (e esteja certo de que cairá inúmeras vezes), e a continuar a jornada. Agindo assim, mesmo que não consiga o que tanto quer, terá, pelo menos, logrado um feito considerável: terá construído uma vida exemplar, digna de admiração e respeito. E isso é ganhar tempo, e com sobras, por sinal!



* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Diante da frustração da derrota, invariavelmente lamentamos a perda de tempo. Algumas vezes há ganho de experiência, ensinamentos para, da próxima, abrir o olho e ter outra atitude, mas há casos em que não acontece nada, nem mesmo isso.

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