terça-feira, 22 de março de 2011


Memorial de Maria Moura

* Por Adelcir Oliveira

Faz tempo aprendi que o amor entre pessoas não está garantido pelo grau de parentesco. Muitas vezes corre sangue seu na veia daqueles que são seus maiores inimigos. E exatamente dois primos foram as pessoas que mais desejaram a morte de Maria Moura, uma líder de um bando, que herdou terras de seu pai e teve que correr atrás para tomar posse delas.

Limoeiro era o nome do sítio de Moura, tão cobiçado pela dupla de primos, comandados pela esposa de um deles, aquele que era o mais sanguinário, mas que acabou morto pelo bando de Moura. De qualquer forma, não se pode dizer que estes eram os maiores inimigos desta mulher que se tornou destemida na história escrita por Raquel de Queiróz. Em verdade, aquele que lhe fez mais mal foi exatamente o homem que ela amou. A traição colocou em risco a vida de Moura e seu bando. Maria Moura declara a um primo adotado que tal homem é seu maior inimigo. E isto se dá exatamente por amá-lo.

Antes do dia em que seu homem pagasse com a vida pela traição, ele e ela têm uma última noite de amor. Para o espectador é revoltante ver que ela se entrega a ele depois do modo como ele a traiu. O momento exato de sua morte fica em suspense face à habilidade do diretor desta mini-série produzida pela Globo. O casal dorme após os desejos de seus corpos saciados. Pela manhã, ela lhe ordena que se levante e se vista. Feito isto, diz a ele que está livre, pode ir. Ele se despede e fala em amor. Maria Moura, embora líder de um bando de malfeitores, é uma mulher com suas fragilidades. Sempre precisou de um homem para amar. E sofre com toda esta situação. Por ter confiado em Cirilo, vidas foram tiradas.

Cirilo se veste. Despede-se e caminha mancando rumo à saída. Um dos homens de Moura ajuda-o a montar a cavalo. E Cirilo parte com o mesmo sorriso cínico na face. Até que o primo adotado chama por Cirilo e lhe desfere um golpe de faca no coração. Seu algoz é homem de circo, atirador de facas, e jamais havia matado alguém.

De dentro da casa, no quarto onde se amaram, chora Maria Moura. Sofre a morte do seu homem. Explicita sua fragilidade tantas vezes demonstrada em diversas passagens da história. O lenço branco com o sangue de Cirilo deixado à mão de Maria Moura é a satisfação dada por aquele que cumpriu tarefa inédita. É exatamente o sangue daquele que salvou a vida de Maria Moura por duas vezes.

• Jornalista e cinegrafista

Um comentário:

  1. Foi uma das melhores obras produzidas pela Rede Globo.
    Todos os detalhes da saga de Maria Moura, suas nuances
    seu sofrimento.
    Uma belíssima história retratada de uma forma primorosa.
    Abraços

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