quinta-feira, 17 de março de 2011




Rassudocando

* Por Fernando Yanmar Narciso



Tudo que é bom um dia termina, a exemplo de minha paciência com a humanidade, os Beatles, o McRib e a graça da festa do Oscar.
Na contramão, o mundo, por ser uma coisa horrível e intolerável, nunca vai acabar. E olha que ele sempre tenta morrer, quase tanto como nós tentamos matá-lo. Spielberg já o fez uma dezena de vezes. Seu imitador, Roland Emmerich, o fez em Independence Day, O Dia Depois de Amanhã e 2012. Dias Gomes já acabou com a raça do planeta uma vez, lembram? A propósito, o “ano maldito” vem aí, minha gente. Fujam por suas vidas!
Mas, fora do plano da ficção, esse tão sonhado momento nunca foi transformado em fato. Sempre que ocorre algo considerado incomum no planeta, não tardam a dizer a célebre frase “É O FIM DO MUNDO!”
Qualquer coisinha que rola por aí é motivo pra tanto. Big Bang? Virada de 1899? 1ª guerra mundial? O Titanic afundou? Crise de 1929? Bomba atômica em Hiroshima? O Cometa Halley vem vindo? Bug do milênio? 11 de Setembro? Tsunami na Ásia? É sempre O FIM DO MUNDO!
Mas o desgramado colabora? Não. Os profetas do Apocalipse- Todos nós…- e o dito cujo nunca entram num acordo. O tal Fim dos Tempos já foi adiado mais vezes que o regresso de Jesus Cristo. A última hora marcada foi no ano 2000. Alguém o viu por aí?
Do jeito que tratamos os profetas modernos, provavelmente já o devem ter trancafiado num hospício assim que começou a pregar.
Nada tem poder maior de testar nossa integridade e nossas crenças que uma situação inesperada. Peguemos um suicida em potencial. Mal o pobre acaba de falar que não suporta mais viver, vem um leve abalo sísmico, ou então um bandido com um AR-15 em punho atravessa sua janela. Quem é o primeiro a sair correndo pra rua ou se encolher e chamar a mamãe? Nunca ouvi falar de um que, nas situações citadas, ousou ficar de braços abertos, esperando por seu destino. Estamos todos a bordo do mesmo barco, folks.
Com o mundo vai tudo muito bem, obrigado… CONOSCO é que tudo vai mal!
Em minha opinião, o mundo não vai acabar. Ele simplesmente está em constante renovação. E nós, pretensiosos e umbigocêntricos que somos, não podemos fazer absolutamente NADA a respeito, a menos que sejamos o presidente dos Estados Unidos em mais um blockbuster.
A respeito de filmes- catástrofe, vocês já repararam como todo mundo vive se comportando de maneira ridícula nesses filmes? Quer dizer, os alienígenas chegam à América- sempre lá ou em Tóquio…- em missão de paz, o general manda passar fogo neles mesmo assim e leva o líder moribundo preso para prestar explicações. Guerra declarada.
Ou um caso tão comum quanto: Um meteoro do tamanho de, sei lá, meia Rússia vem em rota de colisão com a Terra, faltando menos de um dia e meio para a colisão e, consequentemente, nossa aniquilação, ou então um terrorista maluco está ameaçando despachar 1500 mísseis ao redor do mundo. O que todos fazem? Saem correndo desesperados, saqueando lojas, se escondendo em bunkers ou no porão. Isso faz algum sentido? Se o planeta vai sumir, nós também vamos. Então, pra que se esconder embaixo da mesa? E pra que continuar vivo num mundo totalmente devastado, sem energia elétrica, petróleo ou comida? Haja assunto para os beatos da ficção…




* Designer, filho de Mara Narciso, colunista do Literário

2 comentários:

  1. Dos profetas do Apocalipse quero
    distância.
    Prefiro a figura de José Daltrino mais
    conhecido pela alcunha de Profeta
    Gentileza.
    Gentileza remava contra a maré do desengano
    do egoísmo e do fim que nos arrebatará.
    "Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".
    Abração

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  2. Eduardo Dusek cantou sobre o fim do mundo em Nostradamus:
    ' O dia ficou noite

    O sol foi pro além

    Eu preciso de alguém

    Vou até a cozinha

    Encontro Carlota, a cozinheira, morta

    Diante do meu pé, Zé

    Eu falei, eu gritei, eu implorei:

    "Levanta e serve um café

    Que o mundo acabou!"'

    De qualquer modo quero estar presente e consciente quando, enfim, o mundo se acabar.

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