quinta-feira, 31 de março de 2011


Comportamento humano


O homem – em sentido genérico, ou seja, eu, você, fulano, sicrano, beltrano e, virtualmente, todos os que vivem, já viveram ou viverão um dia – está longe de se comportar como ser humano. É uma fera que anda sobre os dois pés, raciocina, fala, mas cujos atos são, guardadas as devidas proporções, típicos de qualquer outro animal. É um predador por excelência, com uma característica peculiar: é o único que depreda o meio em que vive.

Essa afirmação sobre o homem pode até parecer paradoxal (não fôssemos um feixe de paradoxos), mas tem lá sua lógica. Nosso comportamento (salvo raras e honrosas exceções), ainda está tão distante do nosso potencial de inteligência, poder e bondade como a Terra está da constelação Alfa Centauro.

Somos, ainda, escravos dos nossos hormônios (aquela nossa parte instintiva e animal, alheia à nossa vontade), em detrimento dos neurônios. Ou seja, a imensa maioria das nossas reações a determinados estímulos prende-se aos instintos e não à razão, que é o que nos distingue (ou deveria nos distinguir) dos demais seres vivos. Agimos, quase sempre, por impulsos (salvo raras exceções) e não sob o comando do raciocínio. Não exercitamos, pois, o livre-arbítrio, que tanto apregoamos. Ainda não sabemos optar entre o bem e o mal. Somos escravos das circunstâncias.

Estudos revelam que utilizamos, no máximo, 5% dos bilhões de neurônios que temos no cérebro ao longo de uma vida, digamos, de 80 anos. Isso, no caso dos gênios, absolutas raridades mundo afora. Há quem utilize, quando muito, 0,5% (se tanto). A média anda por volta dos 2,5%. Ou seja, estamos muito distantes de utilizar plenamente, em todo o seu potencial, o órgão mais poderoso e mais nobre, o que comanda todos os nossos atos, voluntários ou involuntários e que é a sede da vida, de que a natureza nos dotou.

Outro aspecto, que determina nosso comportamento, é o fato de não subordinarmos nossa sabedoria ao nosso conhecimento. Ao contrário do que muitos pensam, são coisas distintas. Não somos seletivos quanto ao que deveríamos conhecer. Abarrotamos o cérebro de bugigangas, de quinquilharias, de informações inúteis e até prejudiciais, que não nos servirão nunca para nada ou que irão nos determinar um comportamento doentio, violento e distorcido, em detrimento do que poderia nos elevar, engrandecer e humanizar. Desperdiçamos, pois, os poucos neurônios que utilizamos com “lixo”, em vez de preenchê-los com aquilo que nos confere sabedoria, em sentido lato.

Quando me refiro à “humanização”, estou pensando num homem que realmente seja a imagem e tenha a semelhança com o Criador. Em nosso atual estágio de evolução (e de “civilização”), não somos, sequer, ainda, caricata e ridícula imitação, extremamente mal-feita, da divindade, do suprassumo da perfeição.

Um terceiro (e não menor do que os outros) obstáculo a ser superado é a nossa impossibilidade de conjugar os propósitos que temos ao nosso poder. Claro que me refiro aos positivos, nobres e construtivos e não aos distorcidos, egoísticos e corrompidos. Queremos muito mais do que podemos. E por que não conseguimos essa conjugação, se nosso cérebro é, potencialmente, tão poderoso? Exatamente por não concretizarmos esse potencial. Por sermos incapazes de utilizar mais de 95% dos neurônios de que a natureza nos dotou.

Arrogantes, como somos, achamos que esta geração (não toda, mas ínfima parcela dela) atingiu o ápice da evolução. Apontamos, como “provas”, nossas miraculosas conquistas tecnológicas, que deixariam pasmos e aterrorizados nossos até recentes ancestrais (digamos, do século XIX). Afinal, dizem os defensores dessa suposta “Idade das Luzes”, já voamos mais rápido do que os pássaros (nos aviões que construímos), nos deslocamos na água com maior velocidade do que os peixes (em nossos navios) e nenhum animal nos supera em rapidez na terra (nos automóveis, motos etc. que construímos). Até fora do nosso Planeta já fomos.

Todavia, em termos de raciocínio, de domínio da razão sobre os instintos, de auto-conhecimento (que é o que importa)... não evoluímos um único milímetro. Temo, até, que tenhamos retrocedido vários metros, se não quilômetros.

Daí tanta ganância, tanta violência, tantas injustiças, horrores, massacres, cinismo e tamanha solidão. Daí tanta fome, mundo afora, em meio à superabundância de alimentos. Daí tanta poluição, tanta destruição, tanto desperdício de recursos, talentos e vidas. Daí tamanha exploração do homem pelo homem. Daí esse comportamento que nada tem a ver com o verdadeiro ser humano, aquele que ainda não existe, mas que pode existir um dia (se o suposto Homo Sapiens não destruir a Terra e, com isso, desaparecer do universo).


Boa leitura.


O Editor.


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2 comentários:

  1. Pena que seja preciso muitas das vezes a natureza
    intervir na ação do homem com sua força
    indomada, que não separa o joio do trigo
    arrastando tudo a sua volta.
    Abraços

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  2. Momento com certa dose de raiva. Precisamos lembrar que, após a nossa morte, muito pouco e por um mínimo tempo ficará de nós. Quando nossos netos morrerem -e isso se tiverem nos conhecido-, seremos retirados até das lembranças de alguém. Assim, precisamos deixar de pensar nas nossas mesquinhas necessidades e fazermos algo realmente grande: cuidar dos homens e do nosso planeta.

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