Cães ladram e a caravana...
* Por Arita Damasceno Pettená
Cansada da luta diária, eu tentara tirar um soninho depois do almoço. Mal cerrara os olhos, um vira-lata atrevido começa a latir deseducadamente. Ligo o rádio. Inútil. O locutor por mais que quisesse colaborar comigo não conseguia abafar os grunhidos daquele irracional.
Levanto. Abro a janela. E, para meu regalo, lá estava o cachorro que era meu a se esganiçar por uma coisa que não era minha: um gato. Já que não podia dormir, resolvi impregnar-me de espírito e observar a cena que, por sinal, estava achando bastante curiosa.
O gato, o grande pivô do crime sem mortes, jazia impassível no muro que era meu. O cachorro não se conformava. Quis fazer entender ao felino, através de suas gritarias, que ele estava errado. E por incrível que pareça, o gato continuava imóvel e parecia até sorrir, com aqueles bigodes longos e espalhados, da criancice “cachorral”.
E eu lamentei Fedro já não mais existir para uma de suas “fabulosas fábulas”. Bem, quem não tem cão, caça com gato. Resolvi dar uma de Esopo. Comecei a comparar animais com pessoas. E, na minha observação sem pretensões, vi que o cachorro jazia agora extenuado sobre a relva do jardim. Seu alarido desarrazoado não perturbava sequer os ouvidos de seu adversário.
Agora, olho o gato e vejo, com espanto, que este se espreguiça feliz, levanta-se ligeiro e toma outro destino. Que teria acontecido? Ah! agora já posso ver a razão. Do outro lado, num remelexo dengoso, uma linda gatinha branca faz o seu footing da tarde. O gato não perdeu tempo. Seguiu-a com os olhos, com os desejos, até que se perderam do meu olhar pela barreira de um muro.
Pensei comigo mesma: “Devem ter partido para os seus arroubos ‘gatais’, coisa muito comum em animais, e, porque não dizer, em seres humanos também. Então comecei a imaginar... Que bom seria se pudéssemos nos portar como aquele gato, indiferente ao clamor da turba, às calúnias sem razão, às línguas ferinas que só se abrem para destruir porque não conhecem outra utilidade que não seja essa.
Que bom seria se pudéssemos fazer ouvidos de mercador a essa gente “maroqueira” que, não tendo o que fazer, inscreve-se no “Instituto de Faz Trancinhas” e vive a arquitetar mentiras “cabeludas” para prender, na rede dos incautos, um sem número de vítimas indefesas.
Que bom seria se pudéssemos permanecer insensíveis quando todos nos injuriam de modo covarde e só nos movêssemos quando alguma coisa de mais importante passasse pela nossa vida, como aquela gatinha dengosa e cheia de mimos passou um dia pela vida daquele gato bigodudo e cheio de sabedoria.
• Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campinense de Letras e da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas. .
* Por Arita Damasceno Pettená
Cansada da luta diária, eu tentara tirar um soninho depois do almoço. Mal cerrara os olhos, um vira-lata atrevido começa a latir deseducadamente. Ligo o rádio. Inútil. O locutor por mais que quisesse colaborar comigo não conseguia abafar os grunhidos daquele irracional.
Levanto. Abro a janela. E, para meu regalo, lá estava o cachorro que era meu a se esganiçar por uma coisa que não era minha: um gato. Já que não podia dormir, resolvi impregnar-me de espírito e observar a cena que, por sinal, estava achando bastante curiosa.
O gato, o grande pivô do crime sem mortes, jazia impassível no muro que era meu. O cachorro não se conformava. Quis fazer entender ao felino, através de suas gritarias, que ele estava errado. E por incrível que pareça, o gato continuava imóvel e parecia até sorrir, com aqueles bigodes longos e espalhados, da criancice “cachorral”.
E eu lamentei Fedro já não mais existir para uma de suas “fabulosas fábulas”. Bem, quem não tem cão, caça com gato. Resolvi dar uma de Esopo. Comecei a comparar animais com pessoas. E, na minha observação sem pretensões, vi que o cachorro jazia agora extenuado sobre a relva do jardim. Seu alarido desarrazoado não perturbava sequer os ouvidos de seu adversário.
Agora, olho o gato e vejo, com espanto, que este se espreguiça feliz, levanta-se ligeiro e toma outro destino. Que teria acontecido? Ah! agora já posso ver a razão. Do outro lado, num remelexo dengoso, uma linda gatinha branca faz o seu footing da tarde. O gato não perdeu tempo. Seguiu-a com os olhos, com os desejos, até que se perderam do meu olhar pela barreira de um muro.
Pensei comigo mesma: “Devem ter partido para os seus arroubos ‘gatais’, coisa muito comum em animais, e, porque não dizer, em seres humanos também. Então comecei a imaginar... Que bom seria se pudéssemos nos portar como aquele gato, indiferente ao clamor da turba, às calúnias sem razão, às línguas ferinas que só se abrem para destruir porque não conhecem outra utilidade que não seja essa.
Que bom seria se pudéssemos fazer ouvidos de mercador a essa gente “maroqueira” que, não tendo o que fazer, inscreve-se no “Instituto de Faz Trancinhas” e vive a arquitetar mentiras “cabeludas” para prender, na rede dos incautos, um sem número de vítimas indefesas.
Que bom seria se pudéssemos permanecer insensíveis quando todos nos injuriam de modo covarde e só nos movêssemos quando alguma coisa de mais importante passasse pela nossa vida, como aquela gatinha dengosa e cheia de mimos passou um dia pela vida daquele gato bigodudo e cheio de sabedoria.
• Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campinense de Letras e da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas. .
Seria uma benção...mas não consigo.
ResponderExcluirUma vez que o vulcão desperta não mais
sossega. Poderia fazer ouvido de mercador
mas se me ferem no orgulho...
Um dia serei agraciada com algumas doses de sabedoria.
Abraços