O meu circo – e o cerco deles,
ou Lobato contra Tio Sam (1ª parte)
* Por Cacá Mendes
Isso aqui não é estudo, não quer dar ciência nem nada, só quer um ir, voluntário, se colocar em posição diante da vida que pulsa em meu país. Assim os olhos e eixos àquele que me conduz na luz dos ditos e não ditos aqui, o leitor.
No feriado, véspera de ano novo, viajando ao interior de São Paulo, em casa de meus queridos familiares, bem na porta da casa de um deles lá havia um circo funcionando e, justo, bem justo naquele dia 30, cravado de dezembro haveria espetáculo, sim senhor! Daí que fui... Um bairro afastado do centro, mas nada que se possa dizer que seja um bairro de pobres esquecidos. Gente de classe media baixa, bem ajustada, se comparada as gentes da mesma tintura social da capital paulista.
Todavia, um lugar ermo de lazer e de cultura (como na maioria desses brasis). Vai que, um circo lá, num longe de tudo disso, é sucesso de bilheteria no pleno do garantido - e adeus Vênus Platinada nesses dias de circo, lá! By, By Brasil! - um ato contrário, espontâneo, quase ingênuo do colonizado ao colonizador (que de longe continua ocupando a nossa Terra)!
Mas assim vi, bem olhado, medido, volteado, apalpado em centímetro o cada bago de olho vidrado de criança e adulto, naquilo deles se matando de viver em emoções e risos, diante de tão simples que precisam as coisas pra serem. Independente se boas, ou ruins. Um ser que faz um bem a um convívio, a um toque, esbarramento, coisa de arrancar-se de fiapos em pele, contacto, movimento social de vanguarda popular, se tivesse que (a semelhança com o bizarro é proposital) nomenclaturar aquilo, por mim. Mas algo tão somente isso e, pronto de aquilo de essencial pra vida, que os maiores dos senhores das tantas das autoridades acadêmicas da vida civilizada, se prostrariam de quatro, fazendo “v”. Aquilo pra coisa, de tão importante que há de ser e o é: o inconteste toque de pele entre comuns e, até não comuns, se for o caso de sê-lo.
(Rá, rá. Eu imagino. E rio como posso nisso, num gozo incontinente de olhar. E me sei no redondo e no quadrado, que venham os contrários para o choque de coisas se dizendo. De viver em comunidade, ninguém, ninguém, nem satã se o for, que seja, pode se recusar. Nem eu)
Mas como a vida não é de graça, a inexorável contrapartida vem: ou com, ou no, ou ao, ou do – que, se em tempos de cavernas vivêssemos, pra se comer da caça, haveria de dela ou de outras ter-se dado dos seus suores – e sangue, às vezes. Na dúvida, fica-se fora do banco dos prazeres – ou banquete, como se quer a norma da língua.
O ingresso, a entrada, nos seios daquela lona custam míseros 3 reais, apresentando filipeta promocional, fartamente distribuída no bairro. Assim foi que fui ao circo naquele penúltimo dia do ano de 2010. Lá de dentro ( e não de fora) que pude melhor observar os esquemas daquele círculo de distração: as portas se abriram às 20h30, pra se começar às 21 h, depois, no vão de 60 minutos, bem no meio, uma paradinha para um descanso da trupe e, recomposição das respirações... E, claro, novamente as vendas das pipocas, refris, batatas fritas e afins. O que foi antes do início, no intervalo daquele recreio, repete-se a pequena e modestíssima farra do comer-se, do gastar-se... Ponto nisso. Passo ao miolo do assunto.
* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com
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