Cangaceiros II
* Por Marco Albertim
Por influência de padre Cícero, Sinhô Pereira e Luís Padre vão para Minas Gerais. A mesma influência faz Lampião aceitar a proposta de combate à Coluna Prestes. Virgulino é recebido em Juazeiro do Norte, como herói, e dá autógrafos. O funcionário federal Pedro Uchoa de Albuquerque concede-lhe a patente de capitão e promete-lhe armas. Com a palavra empenhada ao vigário de Juazeiro do Norte, de abandonar o cangaço tão logo ponha fim à Coluna, volta para Pernambuco. É atacado pela polícia, bate em retirada. Não recebe armas, dinheiro nem o fardamento prometidos.
O bando está enfraquecido, posto que no confronto de Triunfo morreram Luís Pedro – lugar-tenente depois da morte de Levino -, Virgínio, Ezequiel, Mergulhão e Mariano. Para despistar a polícia, espalha seus homens por Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará, Sergipe e Rio Grande do Norte, os cinco estados juntos na caça ao cangaceiro. Estabelecido na Bahia nos anos l928 e l929, ordena um baile depois de efetivar um massacre no município de Queimados.
Constam do currículo de Lampião a morte de cinco mil pessoas, o incêndio de 500 propriedades, a morte de cinco mil reses, o estupro de 200 mulheres e 200 confrontos. Com a Revolta Constitucionalista de São Paulo, o governo precisa de tropas. Para compensar, utiliza rádios em vilas e cidades. Sabendo da novidade, Lampião diz: “No dia que pegá um trem deste, o macaco que tivé com ele, tem que enguli tudo.”* Também perdia a calma quando ouvia falar em ônibus, porque o veículo podia transportar as volantes.
Em 1931, apaixonado por Maria Déia de Oliveira, a Maria Bonita, leva-a para o bando. Desde então, com o dinheiro acumulado, passa a ter costumes sofisticados; permite o uso do álcool pelos seus “cabras.” Para ele, conhaque Macieira ou uísque; para o estado-maior, Old Tom Gin; para os “cabras”, cachaça, genebra e quinado.
A vinda de Maria Bonita abre caminho para mais 38 mulheres cangaceiras. Distinguem-se Dadá, mulher de Gato, presa em Alagoas, em l936; Luísa, mulher de Cabeleira; Ana do Bonfim, mãe de João do Bonfim e hábil no uso da peixeira; Lili, viúva de Lavandeira; Lídia, bonita, fogosa, mulher de Zé Bahiano; Sila, Nilda Ribeiro de Souza, raptada aos 14 anos por Zé Sereno; e Adília, mulher de Canário. Todas cangaceiras, dividindo tarefas com os homens, inclusive nos recontros, e tendo direitos iguais.
Antes de ser cercado pelas tropas chefiadas pelo coronel João bezerra, Virgulino é celebrado na quadrinha: Lampião tem muita ideia/Sua vida está segura/Atirá nele é bobaje/A bala bate e não fura/A mulé de Lampião é danada pra luxá/Perfume de toda carta/Tem dentro de seu borná.
Lampião é morto com Maria Bonita e mais onze cabras. Em julho de 1938.
*Ranulfo Prata – Lampião
*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Ainda me assombro com as narrativas
ResponderExcluirsobre o cangaço, mas acompanho sem piscar
a cada linha.
Abraços