segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011




Sem nexo

* Por Clóvis Campêlo

Gritei como um louco varrido, doido, doído, dorido, colorido.
A noite era imensa, vazia, vadia.
Eu eu a queria como se quer uma coisa qualquer, possível, acessível, temível.
A chuva caía e se encaixava como uma luva naquele cenário.
O asfalto molhado refletia no chão o neon, a lua oval da Esso, a marca monarquista da McDonalds, os signos da república democrátrica capitalista.
O sumo do consumo.
Era assim que a via.
Era assim que havia de ser.
Era assim.
Apenas uma mulher sensual, objeto do meu prazer.
Aquilo seria prova dos nove fora nada.
Chove chuva para apagar o fogo do meu desejo, meu ensejo de possuí-la, de tê-la a qualquer preço.
Que todos se fudessem: o guarda Ambrósio, o pé torcido dela, os transeuntes, a moral, a cultura e a civilização.
Naquele momento, eu era um bicho e queria sexo sem nexo.

* Poeta, jornalista e radialista de Olinda/PE

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