terça-feira, 1 de fevereiro de 2011




Indefinição

* Por Evelyne Furtado



Você é o encontro do primeiro casal. É o choro, o berço e a mão que me ergueu. Você é ternura e secura, abrigo e abandono, lar e rua. Você é esboço e arte pura.Som de gaivotas, norte, proximidade do mar. Você é o amor e o avesso. Dono e posseiro.


Descuida e cuida. Luz e breu. Mel e sal. Leite derramado. Fome e desperdício. Você é manhã, tarde, noite e insones madrugadas. Você é tempo bom, é frio, é calor, é (meu) vento brando. Você é tempo desigual.


Você é o que olha, é, também, quem o olha e o olhar que o ignora. Intensa presença em dolente ausência, você completa e desfalca. Põe e tira. Acalma e desassossega. Arranha e sopra. Chega e sai.


Você é instinto e civilização. Memória e esquecimento. Desejo e solidão. Sonho e cotidiano. Mocinho e bandido. Herói ancestral. Você é Eros e Tânatos. Tantos. Múltiplas vontades, vagas possibilidades. Você é céu de brigadeiro e marcas de pneus na minha estrada. Rio que corre devagar. Você é mar aberto, âncora e vaporoso cais.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

5 comentários:

  1. Dizem que definir é limitar. Deixemos pois tudo indefinido, e chafurdemos conformados neste limbo amargo e doce que é viver. Belo texto, minha amiga.

    ResponderExcluir
  2. Acordamos com o sol no rosto e quando vamos para
    a varanda ele se foi dando vez a grossas nuvens
    cor de cinza.
    O riso dá a vez ao choro e o que dizer do espelho
    que vive nos traindo...ora estamos belas ora irreconhecíveis.
    Nada enfim é definitivo...
    Beijos

    ResponderExcluir
  3. O mundo costuma ser dual, assim como o amor e a análise que fazemos do objeto amado. É de praxe amarmos justo as personalidades complexas, que nos deixam confusos, pois atraem e afugentam.

    ResponderExcluir
  4. Sayonara, Marcelo, Núbia e Mara: Eu ddorei os comentários! Obrigada e beijos .

    ResponderExcluir