As razões do Quebra-Quilos
** Por Marco Albertim
Entre 1870 e 1874 são tantos os impostos cobrados na província, que por zombaria, diz-se que fora criado um tributo a ser pago após cada relação sexual. O certo é que são instituídos 32 novos impostos e extintos treze; aumentados os valores de 59 e diminuídos os de 36. A razão imediata daRevolta do Quebra-Quilos, é a aplicação de um novo sistema de pesos e medidas nas feiras. A lei 1.157, de junho de 1862, estabelecera prazo de dez anos para o sistema métrico decimal assumir o lugar de medidas antigas; ou seja, não será mais autorizado o uso de cuias, côvados, canadas, arrobas, palmos, onças, jardas e libras. Para agravar, os pequenos comerciantes são forçados a comprar balanças e pesos. Ajuntam-se a isto a multa de 100 mil réis e prisão de um mês para os recalcitrantes.
O Imposto do Chão pago pelo uso do espaço nas feiras – um tostão por carga. Arrecadadores abusam, posto que o comerciante, inda que já tenha pago na primeira tentativa de comércio, terá que pagar o mesmo valor caso ocupe outro lugar. Também o recrutamento militar, conhecido como Imposto de Sangue; e recrutamento forçado, de preferência entre membros do partido da oposição. Presos do Quebra-Quilos, diga-se, são enviados às fileiras do Exército ou da Armada. A lei 2.556, de setembro de 1874, se de um lado põe fim aos castigos físicos entre os militares, cria o recrutamento por sorteio. Isenta do serviço quem pode desembolsar uma quantia; livram-se graduados e estudantes; donos, feitores, administradores de fazenda com mais de dez trabalhadores; e caixeiros de estabelecimentos de comércio com capital de dez contos de réis ou mais.
De modo indireto, influenciam na revolta as hostilidades entre o Partido Conservador e o Liberal. Em Pernambuco, a responsabilidade é posta nos liberais porquanto os conservadores estão no poder. Mas a revolta ocorre na Paraíba, São Paulo e Minas Gerais. E onde os liberais governam, a culpa cabe aos rivais. Não há registro oficial de membros de um ou de outro grupo, nas arremetidas contra as coletorias; mesmo não se descartando as chances de desestabilizar o governo.
Ainda de modo indireto contribui para os recontros a Questão religiosa – conflito entre Igreja e governo do Império entre 1872 e 1875. Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Pernambuco, obediente ao papa Pio IX, combate a Maçonaria. Suspende de ordens um sacerdote maçom – a simbiose então era comum – e ameaça de excomunhão o maçom e membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Pernambuco, Antônio José da Costa Ribeiro. Este não se desliga da Maçonaria. A irmandade se recusa a cumprir as ordens do bispo; é interditada pelo próprio. Ora, a Constituição de então reza que as relações entre Estado e Igreja são reguladas com o aprazimento do governo. E no episódio das bulas Quanta Cura eSyllabus Errorum, contra a Maçonaria, o dispositivo não fora respeitado. Afora isso, as irmandades, argumenta o governo, são controladas pelo poder civil e não pelo religioso. Pedro II e o Conselho de Ministros decidem prender Dom Vital e o bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa; este último também proibira as confrarias religiosas de aceitarem maçons. Os bispos, no entanto, são anistiados meses depois pelo gabinete de ministros, presidido por Duque de Caxias.
Padres acusam o governo de ser anticatólico, fiéis acreditam; daí a crença do governo de que por trás das sedições estão os religiosos, sobretudo os jesuítas. O visconde do Rio Branco diz: “Minha convicção é que os impostos e os pesos foram pretextos habilmente escolhidos, mas que o movimento foi preparado pelos padres.* Rio Branco defende a deportação de jesuítas.
O padre José Antônio Pereira Ibiapina, formado no Seminário de Olinda, prega: “Não obedeçais ao governo, porque o governo é maçon!”* Provável que Ibiapina tenha instigado fiéis sob sua influência. Sua família fora perseguida porque participara da Confederação do Equador. No entanto, “(...) sua doutrina era marcadamente pacifista; os cangaceiros, de joelhos, lhe entregavam os trabucos, e as famílias inimigas se abraçam sob sua benção.”*
*Geraldo Irenêo Joffily – O Quebra-Quilo – a revolta dos matutos contra os doutores
**Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
** Por Marco Albertim
Entre 1870 e 1874 são tantos os impostos cobrados na província, que por zombaria, diz-se que fora criado um tributo a ser pago após cada relação sexual. O certo é que são instituídos 32 novos impostos e extintos treze; aumentados os valores de 59 e diminuídos os de 36. A razão imediata daRevolta do Quebra-Quilos, é a aplicação de um novo sistema de pesos e medidas nas feiras. A lei 1.157, de junho de 1862, estabelecera prazo de dez anos para o sistema métrico decimal assumir o lugar de medidas antigas; ou seja, não será mais autorizado o uso de cuias, côvados, canadas, arrobas, palmos, onças, jardas e libras. Para agravar, os pequenos comerciantes são forçados a comprar balanças e pesos. Ajuntam-se a isto a multa de 100 mil réis e prisão de um mês para os recalcitrantes.
O Imposto do Chão pago pelo uso do espaço nas feiras – um tostão por carga. Arrecadadores abusam, posto que o comerciante, inda que já tenha pago na primeira tentativa de comércio, terá que pagar o mesmo valor caso ocupe outro lugar. Também o recrutamento militar, conhecido como Imposto de Sangue; e recrutamento forçado, de preferência entre membros do partido da oposição. Presos do Quebra-Quilos, diga-se, são enviados às fileiras do Exército ou da Armada. A lei 2.556, de setembro de 1874, se de um lado põe fim aos castigos físicos entre os militares, cria o recrutamento por sorteio. Isenta do serviço quem pode desembolsar uma quantia; livram-se graduados e estudantes; donos, feitores, administradores de fazenda com mais de dez trabalhadores; e caixeiros de estabelecimentos de comércio com capital de dez contos de réis ou mais.
De modo indireto, influenciam na revolta as hostilidades entre o Partido Conservador e o Liberal. Em Pernambuco, a responsabilidade é posta nos liberais porquanto os conservadores estão no poder. Mas a revolta ocorre na Paraíba, São Paulo e Minas Gerais. E onde os liberais governam, a culpa cabe aos rivais. Não há registro oficial de membros de um ou de outro grupo, nas arremetidas contra as coletorias; mesmo não se descartando as chances de desestabilizar o governo.
Ainda de modo indireto contribui para os recontros a Questão religiosa – conflito entre Igreja e governo do Império entre 1872 e 1875. Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Pernambuco, obediente ao papa Pio IX, combate a Maçonaria. Suspende de ordens um sacerdote maçom – a simbiose então era comum – e ameaça de excomunhão o maçom e membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz de Pernambuco, Antônio José da Costa Ribeiro. Este não se desliga da Maçonaria. A irmandade se recusa a cumprir as ordens do bispo; é interditada pelo próprio. Ora, a Constituição de então reza que as relações entre Estado e Igreja são reguladas com o aprazimento do governo. E no episódio das bulas Quanta Cura eSyllabus Errorum, contra a Maçonaria, o dispositivo não fora respeitado. Afora isso, as irmandades, argumenta o governo, são controladas pelo poder civil e não pelo religioso. Pedro II e o Conselho de Ministros decidem prender Dom Vital e o bispo do Pará, Dom Antônio de Macedo Costa; este último também proibira as confrarias religiosas de aceitarem maçons. Os bispos, no entanto, são anistiados meses depois pelo gabinete de ministros, presidido por Duque de Caxias.
Padres acusam o governo de ser anticatólico, fiéis acreditam; daí a crença do governo de que por trás das sedições estão os religiosos, sobretudo os jesuítas. O visconde do Rio Branco diz: “Minha convicção é que os impostos e os pesos foram pretextos habilmente escolhidos, mas que o movimento foi preparado pelos padres.* Rio Branco defende a deportação de jesuítas.
O padre José Antônio Pereira Ibiapina, formado no Seminário de Olinda, prega: “Não obedeçais ao governo, porque o governo é maçon!”* Provável que Ibiapina tenha instigado fiéis sob sua influência. Sua família fora perseguida porque participara da Confederação do Equador. No entanto, “(...) sua doutrina era marcadamente pacifista; os cangaceiros, de joelhos, lhe entregavam os trabucos, e as famílias inimigas se abraçam sob sua benção.”*
*Geraldo Irenêo Joffily – O Quebra-Quilo – a revolta dos matutos contra os doutores
**Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
Lembro-me de uma conversa entre professor e aluno
ResponderExcluircom relação as taxas e impostos cobrados no "Brasil"
de ontem. A discussão gerou polêmica pois fazer analogias é um pouco perigoso...há que se priorizar
o contexto histórico sem estabelecer parâmetros.
A unica conclusão viável que chegaram foi a do
excesso e abuso dessas cobranças.
Ainda acompanhando.
Abraços
OBRIGADO,NUBIA.
ResponderExcluirMeu abraço.