terça-feira, 11 de janeiro de 2011




Devaneios

* Por Evelyne Furtado

As palavras rebelam-se; não querem sair de mim. Tomam-me por inteira. Já não sou senhora delas; sou serva e como serva calo. Um silêncio confuso mora em mim. Sou feita de palavras ambivalentes: sombrios e esperançosos vocábulos. Ou antes, o contrário, pois a sombra ocupa o espaço da esperança.

Conflito, talvez seja esse o motivo da revolução. Venho investigando a razão. Razão? Era muito mais fácil sentir. Agora impera a indecisão: Querer e não poder. Querer mais que poder. Querer e não querer. Tão fácil esquecer enquanto ando na praia. Tão fácil me esquecer no mar. Andar sob o sol, segurando o chapéu com a mão. Receber o vento com alegria. Não falar, apenas ouvir o mar.

Difícil é alinhar palavras. Mais difícil organizar pensamentos. Quase impossível domar emoções. Aposto na respiração e ganho. Libertas palavras à toa, sem rigidez, nem ambição de ser boa nisso que faço. Tão bom como andar na areia molhada é não ter a vontade forte que tenho e que não se confunde com força de vontade, pois a última ainda não conquistei.

Eu treino força de vontade e paciência. Até bem pouco tempo exercia prazer e ilusão. Hoje não. Quem disse que precisa treinar o que é natural? Ninguém diria tal asneira. O que é instintivo flui como água, não requer disciplina. Escrever e ser paciente, sim, mas de preferência eu seria onda e espuma, vento e coqueiro, areia e mar. Eu seria somente praia a esperar.


• Poetisa e cronista de Natal/RN

5 comentários:

  1. Às vezes é o bastante deixar-se ser e estar, dando às palavras o devido e merecido descanso. No entanto, ao falar da falta delas, você nos presenteia com este belo texto. Imagine se elas lhe sobrassem...
    Gostei muito, Evelyne. Um beijo pra você.

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  2. E que venham mais devaneios Evelyne.
    Belo texto.
    Beijos

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  3. Um encerramento divino, bem poético!
    "Coisa de Evelyne!"
    Beijos.

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  4. Casamento perfeito entre o talento e a paisagem luxuriante: Evelyne e o mar natalense. O resultado dessa dupla é a prosa acima, com fortes tendências poéticas.

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  5. Marcelo, Núbia, Marleuza e Mara, obrigada. Um beijo para cada um.

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