sexta-feira, 28 de janeiro de 2011




“As meninas” de Lygia de Fagundes Telles

* Por Eduardo Oliveira Freire


Por uma indicação de uma querida professora comprei este livro para ler. Da autora li o conto fantástico As Formigas e A disciplina do amor. O livro é classificado como de contos, porém encontrei alguns. Os outros pareciam fragmentos de memórias e de pensamentos anotados em um caderno que ora parece um mosaico ora uma colcha de retalhos.

O romance As Meninas conta a história de três jovens que vivem num período conturbado de descobertas e repressão. Lião ativista política, luta contra a ditadura militar. Ana Clara, viciada, vive a ter alucinações. Lorena, irônica é, para mim, a mais enigmática das três. Aparenta ser uma estudante universitária dondoca, fútil e alienada, mas no decorrer da história, mostra sua personalidade complexa. Viviam num pensionato de freiras.

A narrativa é em primeira pessoa, as personagens narram seus pensamentos, desejos, delírios e o ponto de vista que uma tem da outra. Logo, esta estrutura narrativa produz um clima intimista, que muitas vezes constrói imagens insólitas ou fantásticas. “O tecido assim criado de presenças, esperanças, sonhos e frustrações, todo esse tecido com seus objetos e bichos é que encanta, atormenta e arrebata porque é esse o pungente universo de As meninas e dos leitores de Lygia Fagundes Telles.” ( Paulo Emílio Salles Gomes). O consciente e inconsciente estão o tempo todo em conflito e impulsionando a história.

O romance também tem características realistas. Mostra problemas, conflitos de uma geração que viveu numa ditadura, repressão sexual e familiar. O ano de publicação dele foi em 1973. A década de 70 foi considerada a dos “anos de chumbo” e do desbunde, apologia à liberdade sexual e ao uso das drogas. Tanto os hippies, quanto os estudantes revolucionários socialistas, detonavam a família, a moral e os bons costumes.

As protagonistas assimilaram de jeitos diferentes estes ideais novos e libertários. Ana Clara, para se esquecer do seu passado problemático, se entregou às drogas; Lião, à luta contra a ditadura e Lorena envolve-se com um homem casado, mas ainda é virgem. Fica submersa em vários conflitos emocionais e psíquicos, apesar de sua aparência serena.

Tive a impressão que o romance deixa muitas coisas em aberto, para o leitor viajar. Eu viajei bastante na maionese...


* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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