quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


Falta de incentivo e de apoio

A
Literatura é, sem dúvida alguma, em termos de incentivo e, principalmente, de apoio oficiais, a “prima pobre” da cultura brasileira. Pouco ou nada se faz para estimular a revelação de novos escritores e os que existem e têm atuação ativa, precisam fazer das tripas coração para publicarem seus livros. E, quem já passou por essa experiência sabe que, apesar de ser um parto da montanha, a publicação sequer é o obstáculo maior. A grande dificuldade está na distribuição e, principalmente, na divulgação da obra publicada (quando se consegue essa façanha).
Os recursos da propaganda ainda não chegaram ao mercado editorial e nunca entendi a razão. Afinal, quem não promove, se esconde. E quem se esconde, não vende. Levanta-se, a toda a hora, a questão do baixo índice de leitura do nosso povo, o que é atribuído, apenas, à falta de gosto e, consequentemente, de hábito das pessoas. Isso não condiz, no entanto, exatamente com a realidade, pelo menos não com toda ela. A ausência de escritores nacionais do mercado nacional (a maioria esmagadora de livros constantes dos catálogos das editoras é de obras produzidas fora do Brasil), tem muito a ver com isso.
“Ah, mas o Brasil não tem escritores de qualidade o suficiente para abastecer o mercado”, podem argumentar alguns editores, a título de defesa. Não tem? Eles têm certeza disso? Não é o que constato no meu cotidiano. Recebo, sem exagero nenhum, todos os dias, dezenas de textos literários, procedentes de todas as partes do País. Alguns (poucos) requerem, é verdade, reparos. Outros tantos são de qualidade de razoável para boa. No entanto, pelo menos 50% são excelentes! Porém, ao verificar o currículo dos autores, constato que a imensa maioria sequer assume a condição de escritor. Por que? Por não ter nenhum livro publicado. E por que não tem? Pela dificuldade de acesso às editoras.
Escritores (pelo menos com potencial para sê-lo), temos, portanto, aos montes, embora a imensa maioria seja inédita. Oito de cada dez deles, com certeza, irão desistir do sonho de lançar um livro e conseguir permanecer no mercado editorial. Provavelmente depois da terceira negativa das editoras em bancarem suas obras, não pensarão nunca mais nisso e tocarão suas vidas normalmente, fazendo da literatura mero hobby ou nem isso..
“Ah, mas existem incentivos fiscais para empresas que patrocinem eventos culturais, inclusive a publicação de livros”, dirão alguns, achando que este Editor é bastante mal-informado. Perguntaria a essas pessoas: vocês já se deram o trabalho de ir atrás desses recursos potenciais? Obtiveram êxito? Quantos livros patrocinados já publicaram? Conseguiram convencer os empresários que é totalmente vantajoso associar sua marca ao produto em questão? Puseram na cabeça deles que anos, décadas, séculos até, depois da publicação desse livro, sempre que alguém o abrir verá estampado o nome da empresa que o patrocinou? Eu já tentei. E desisti.
Ouvi, em muitas empresas: “se fosse um show, ou um filme, eu teria o maior prazer de patrocinar. Mas um livro?!!!” Quanto a apoios oficiais, a coisa é ainda pior. Volta e meia, o Ministério da Cultura divulga novos programas de incentivos culturais. Mas quando se trata de livros... As exigências são tantas, e tamanhas, que um mortal comum, mesmo que tenha a paciência similar à do patriarca bíblico Jó, finda por desistir da empreitada.
Todavia, das manifestações culturais de um povo, nenhuma é mais representativa e, sobretudo, duradoura, do que sua literatura. Os escritores consolidam, em suas obras, usos, costumes, maneiras de falar, de morar, de se comportar, de se vestir etc. do país em que vivem. Isso sem falar que são os autênticos guardiões do seu idioma. No entanto, entre nós...
O brasileiro lê pouco, de fato, ou pelo menos não na quantidade que corresponda ao tamanho da população do país, que é a quinta maior do mundo. Lê pouquíssimo, isso sim, muito aquém do que poderia e deveria ler. Afinal, estão aí estudos e pesquisas a comprovar esta triste realidade.
O quê, todavia, os governos, em suas diversas instâncias (municipais, estaduais e federal) fazem para incentivar a leitura? Criam e mantêm uma infinidade de bibliotecas públicas, por exemplo? Ou pelo menos nas escolas de sua alçada? Não! Dos mais de seis mil municípios brasileiros, a esmagadora maioria não tem uma única e reles biblioteca à disposição dos moradores.
Conferem incentivos fiscais à indústria editorial, no sentido de possibilitar o barateamento de custos, para que os livros não sejam tão caros como são? Não! Facilitam, de alguma maneira, a vida dos escritores, estimulando mais e mais brasileiros com talento literário a produzirem, publicarem e divulgarem suas obras? Conta outra piada! Claro que não!
E por que não fazem isso? Boa pergunta! Gostaria que algum secretário ou ministro, responsáveis, respectivamente, por secretarias municipais e estaduais de cultura, ou por este ministério, dessem essas respostas. Estou errado, pois, ou cometo algum tipo de injustiça ou de exagero quando afirmo categoricamente que a Literatura é a prima pobre da cultura? E não é?!

Boa leitura.

O Editor.

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2 comentários:

  1. Gostaria de ter estatísticas para
    te mostrar o contrário...gostaria.
    Beijos

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  2. O ciclo permanente do não leio porque não gosto e não gosto porque não leio não vai mudar tão cedo, mas nos colocar para pensar já é um começo.

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