segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


Erro emocional

O catarinense Cristóvão Tezza, quando indagado, recentemente, por que continua ainda lecionando e não se dedica exclusivamente às letras – já que já ganhou tantos prêmios literários nos últimos anos – afirmou uma coisa que nós, que somos do ramo, sabemos de sobejo, mas que o leigo desconhece. Ou seja, que no Brasil “talvez” (e note bem, “talvez” apenas) existam, no máximo, quatro escritores (e olhem lá!) que podem viver apenas de literatura. Eu por exemplo só conheço um nessas condições: Paulo Coelho. Os demais...

E olhem que Tezza tem tudo para ser um desses quatro. Pelo que afirmou, todavia, não é. Com 14 livros publicados (o 14º foi lançado em outubro de 2010), já conquistou, como informei acima, diversos prêmios, entre os quais um da Academia Brasileira de Letras e o Jabuti de 2008 de Melhor Romance, com “O filho eterno” (esta obra também lhe valeu, no mesmo ano, os prêmios da Portugal Telecom e da revista “Bravo!”). Portanto, quando afirmo que fazer literatura no Brasil não é bom negócio (nem financeiro e sequer de prestígio), não estou choramingando, como alguns me acusam. Limito-me a ser realista e nada mais.

“Se as coisas são tão difíceis, como você pinta, por que continua insistindo em produzir tanto, se o sucesso é meramente lotérico e a probabilidade de fracasso é tão grande?”, já me perguntaram. Boa pergunta. Mas não tenho resposta para ela. Não sei explicar a razão de tamanha insistência da minha parte. Paixão? Vaidade? Esperança? Masoquismo? Pode ser tudo isso, como pode, também, não se tratar de nada disso. Ademais, não estou só nesta indigesta empreitada, mas na ilustre companhia de milhares de brasileiros que buscam lugar ao sol na literatura nacional.

Mas, voltando a Cristóvão Tezza, informo, para quem não o conhece, que se trata de um competente e requisitado professor de Linguística da Universidade Federal do Paraná. Reside e trabalha há tantos anos nesse Estado, que muitos acham que seja paranaense. Não é. Nasceu em Lages, em Santa Catarina, em 1952, mas mudou-se, quando tinha dez anos de idade, para Curitiba, onde está até hoje. Integrou-se à vida da cidade. Transformou-se em autêntico cidadão curitibano.

Tezza deve amar de paixão essa cidade. E por que afirmo isso? Não, ele não me disse. Aliás, sequer o conheço pessoalmente. Cheguei a essa conclusão pelo fato dele fazer de Curitiba cenário de boa parte das histórias que escreve. Seus personagens transitam, com familiaridade e desenvoltura, pelas ruas, becos e praças da capital paranaense e, não raro, visitam seus principais pontos turísticos, que apresentam aos leitores. Se isso não é gostar da cidade, não sei o que seja ter paixão por algum lugar. Eu, por exemplo, sou apaixonado por Campinas, cenário de muitas das minhas histórias.

Mas, como ia dizendo, Cristóvão Tezza lançou, em outubro de 2010, seu 14º livro que tem tudo para se transformar em best-seller. O enredo é intrigante, os personagens, fascinantes, e o texto, como sempre, é primoroso. Aliás, era de se esperar que fosse. Afinal, o autor é um expert no idioma.

O novo romance narra as esperanças e temores de um casal de apaixonados. Beatriz, que é revisora, apaixona-se à primeira vista pelo escritor, que conheceu na noite anterior e cujo texto foi contratada para revisar. Paulo Donetti, de 42 anos, por sua vez, sonha que finalmente encontrou a mulher que vem procurando há anos, que esteja disposta a conduzi-lo.

A história começa com o escritor desabafando, numa frase truncada: “cometi um erro emocional...”. É a partir dessa declaração que a trama passa a ser urdida e desenvolvida. Não por acaso, o título do romance emerge dessa afirmação. Beatriz e Paulo pouco conversam ao longo da narrativa. Todavia, os dois passam e repassam as suas vidas nas lembranças de cada um deles. Com isso, criam uma ligação intensa, provavelmente à sua revelia até.

Todo escritor – salvo uma ou outra exceção – é parecido em suas reações em relação a cada livro que conclui. Por melhor que enredo e texto tenham ficado, sempre resta uma pontinha de frustração no autor, por achar que poderia ter ficado melhor. Eu, pelo menos, sou assim. Antes de dar alguma obra como pronta, reviso, e reviso, e reviso. Faço acréscimos (poucos) e corto, sem dó e nem piedade, não raro capítulos inteiros.
Tezza confessa que também sentiu essa natural insegurança. Em entrevista dada ao Caderno G, do jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, perguntado se estava preocupado com a repercussão que o novo livro poderia ter, respondeu: “Quando comecei a escrever, não estava preocupado, mas à medida que o romance foi ficando pronto, senti aquele ‘medo de sair na rua’ que sempre tenho quando termino um livro. Depois, passou”.

Não sei qual o sentimento de vocês, mas também me sinto assim após cada “parto da montanha”. Fico com a sensação que todos com quem cruzo já viram o livro e que encontraram nele mil e um defeitos que não percebi. Felizmente, isso dura pouco e logo passa. Quanto a mais detalhes sobre o romance “Um erro emocional” (Editora Record), de Cristóvão Tezza, não direi mais uma palavra sequer. Se quiserem saber o desfecho comprem o livro, ora bolas! Imaginem o trabalho que ele deu até ficar pronto!

Boa leitura.

O Editor.

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2 comentários:

  1. Fico imaginando por quantas mãos passam um livro
    se cuidam dele ou se o jogam por aí...
    Eu não sei se nas primeiras semanas após "parir"
    uma obra literária, eu dormiria o sono dos justos
    ou amargaria com uma insônia caprichosa.
    Abração

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  2. O seu jeito de começar uma quase briguinha com os leitores tem um grande efeito de estimular a curiosidade. Dessa vez ficou como um trailer de cinema. E dos bem feitos.

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