segunda-feira, 17 de janeiro de 2011




Vai pro inferno com seus três zagueiros!

* Por Renato Manjaterra

Tem técnico que simplifica o futebol. Torcedor pode ser burro, passional, mas no meu time são pelo menos 3 mil presentes e presentes há anos. Serão mesmo 3 mil burros? Já os jogadores, esses podem ser quantos forem, são todos burros mesmo... Então o futebol deve ser traduzido em um barato simples, para onze burros verem o que 3 mil pacientes apaixonados veem.

E tem técnico que acha o contrário. Que técnico é iluminado, vê mais do que os outros, desde os burros das chancas até os experientes pagantes... Todo técnico "moderno" joga com três zagueiros. O nosso agora nem é mais do 3-5-2... é do vanguardista 3-6-1... não sei se é o que ta tendo no elenco da Ponte no momento ou se ele é o novo Mourinho, Mitchels, se ele vê um esporte que eu não consegui ver ainda...Aacho que ele é a reencarnação de algum general épico ou de um xamã, um pajé.

Quem sou eu para debater com um desses charlatões que ganham lá seus 50, 100 mil por mês? Eles estão certos e o futuro vai jogar os laterais lá no baú onde restam os ponteiros. No futuro serão três zagueiros. E isso não será defensivo, pelo contrário, porque dos lados do meio de campo serão escalados alas. Igual no futsal!

Por enquanto, enquanto as escolinhas não formam os modernos alas, a gente vai jogar com laterais mesmo nos lugares, tá bom? Mas a criançada que vá se acostumando. E não é nem isso que me deixa intrigado. É que além desses laterais avançados, com bom toque para tabelar e autorização para apoiar o ataque sem obrigação de fechar a defesa, o esquema com três zagueiros pressupõe... três zagueiros.

Tive o cuidado de conversar com dois amigos do Zé que treinam fut. Um no Projeto Bugrinho e outro na Escolinha do Cruzeiro. Nenhum quer ser zagueiro, mas também nunca ouviram falar de líbero. Acho que se qualquer um de nós for a uma escolinha, pode perguntar "quem aqui quer ser atacante?". Muitos vão levantar a mão. "Quem aqui quer ser... meia de ligação?" Mais uma meia dúzia (os melhorzinhos e os mais franzinos)... Até mesmo se você perguntar "Quem aqui quer ser zagueiro?", alguns mais grandalhões vão levantar a mão.

Experimenta agora perguntar "Quem aqui quer ser líbero?" Onde eu quero chegar? Quero dizer que não temos cultura de três zagueiros, não formamos zagueiros que joguem em três e enquanto não tivermos seres humanos preparados para isso, não adianta termos técnicos. Escalar três zagueiros é desguarnecer, promover bateção de cabeça e desorganizar. Além de perder uma vaga no time que começa que poderia ser preenchida por um meia, um atacante. Mas o currículo e a reputação e a vaidade nessa hora falam mais alto. E o treinador moderno acha mais importante ser moderno do que ser treinador. E vamos que vamos.



Nota do Editor: Renato Manjaterra é a voz do torcedor interiorano no Literário.

* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

Um comentário:

  1. Não acho que o torcedor seja burro, acho-o
    apenas apaixonado demais.
    Já o técnico tem por obrigação estar anos luz
    adiante.
    Bom te rever.
    Abração

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