Bem-vinda, Leah!
* Por Urda Alice Klueger
(Para Leah Pestana Ferreira)
Sei que teu maninho Rafael Bomani já te chamava antecipadamente de Flower[1], e então eu te digo, expandindo o peito: “Bem-vinda, Leah Flower!”
Chegas neste dia em que aqui o mundo parece perfeito, embora eu saiba que há o Iraque, e o Afeganistão, e Guantánamo, e o povo mapuche e o povo sarahui, e tantas outras barbaridades acontecendo por este planeta que é nosso, teu e meu, mas mesmo assim eu digo: “Bem-vinda, Leah Flower!”.
Queria que a tua vida fosse como esta que vivo por alguns dias em curtas férias roubadas das correrias habituais da vida, em muitíssimo harmonioso cenário de águas e plantas e passarinhos e borboletas, com um bosque de sombra só para mim e meu cachorro Atahualpa, tendo lá por cima um ceuzão azul com nuvens brancas navegando, e de vez em quando, fina poeira de chuva marcando o cristal do lago fronteiriço. No lago, ilhas e esculturas – a casa aqui próxima é a de um escultor que já se chamou Scaramouche e que mescla suas esculturas com as borboletas e os bosques e as ilhas. Vive-se, neste lugar, com a inocência dos paraísos perdidos, e quem sabe um dia venhas até aqui e vejas essas espadas de luz que dardejam com suavidade por dentre as copas das árvores, e que se espalham nos tapetes de grama e nos espelhos de água.
Seria tão bom te conhecer, Leah Flower! É possível que tal nunca aconteça, no entanto. Dentre outras, tens parte da minha genética e talvez em algum momento aflore em ti coisas que são minhas, e eu nunca saberei. Talvez aflorem em ti coisas do meu pai, da minha mãe, que são teus bisavós, mas estamos distantes demais para que eu possa saber tal e contá-las ao teu pai que, tão jovem, já tem poucas lembranças dos avós que já partiram. Envelheço – sou 58 anos mais velha que tu. Talvez nunca volte a atravessar o oceano para te conhecer – sabe-se lá se atravessarás o oceano para vir até mim enquanto eu estiver viva. É muito possível que eu só te veja por fotografias.
Queria te dizer, no entanto, das coisas que te desejo. Hás de nascer muito bonita, e então isto é coisa que não preciso te desejar. Desejo-te saúde, muita e muita, e inteligência, e muito amor do maninho e da maninha, e do papai e da mamãe, e que também tenhas um grande amor pela grande humanidade sofrida, e que nestes tempos de mudanças climáticas em que vais te criar nunca te falte nem água pura, nem alimento saudável, nem o abrigo para o frio, nem piedade para com os menos favorecidos, nem carinho para os que estarão sofrendo – ah! Leah Flower, minha querida, que possas sobreviver às mudanças do planeta com sabedoria e que conquistes no mundo um lugar como este aqui, com os verdes, as águas, as borboletas, as flores e a inocência – na verdade, o que mais te desejo, é que possas ser FELIZ!
Bem vinda a esta nova vida, minha Florzinha! Que ela te seja leve e bela!
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
* Por Urda Alice Klueger
(Para Leah Pestana Ferreira)
Sei que teu maninho Rafael Bomani já te chamava antecipadamente de Flower[1], e então eu te digo, expandindo o peito: “Bem-vinda, Leah Flower!”
Chegas neste dia em que aqui o mundo parece perfeito, embora eu saiba que há o Iraque, e o Afeganistão, e Guantánamo, e o povo mapuche e o povo sarahui, e tantas outras barbaridades acontecendo por este planeta que é nosso, teu e meu, mas mesmo assim eu digo: “Bem-vinda, Leah Flower!”.
Queria que a tua vida fosse como esta que vivo por alguns dias em curtas férias roubadas das correrias habituais da vida, em muitíssimo harmonioso cenário de águas e plantas e passarinhos e borboletas, com um bosque de sombra só para mim e meu cachorro Atahualpa, tendo lá por cima um ceuzão azul com nuvens brancas navegando, e de vez em quando, fina poeira de chuva marcando o cristal do lago fronteiriço. No lago, ilhas e esculturas – a casa aqui próxima é a de um escultor que já se chamou Scaramouche e que mescla suas esculturas com as borboletas e os bosques e as ilhas. Vive-se, neste lugar, com a inocência dos paraísos perdidos, e quem sabe um dia venhas até aqui e vejas essas espadas de luz que dardejam com suavidade por dentre as copas das árvores, e que se espalham nos tapetes de grama e nos espelhos de água.
Seria tão bom te conhecer, Leah Flower! É possível que tal nunca aconteça, no entanto. Dentre outras, tens parte da minha genética e talvez em algum momento aflore em ti coisas que são minhas, e eu nunca saberei. Talvez aflorem em ti coisas do meu pai, da minha mãe, que são teus bisavós, mas estamos distantes demais para que eu possa saber tal e contá-las ao teu pai que, tão jovem, já tem poucas lembranças dos avós que já partiram. Envelheço – sou 58 anos mais velha que tu. Talvez nunca volte a atravessar o oceano para te conhecer – sabe-se lá se atravessarás o oceano para vir até mim enquanto eu estiver viva. É muito possível que eu só te veja por fotografias.
Queria te dizer, no entanto, das coisas que te desejo. Hás de nascer muito bonita, e então isto é coisa que não preciso te desejar. Desejo-te saúde, muita e muita, e inteligência, e muito amor do maninho e da maninha, e do papai e da mamãe, e que também tenhas um grande amor pela grande humanidade sofrida, e que nestes tempos de mudanças climáticas em que vais te criar nunca te falte nem água pura, nem alimento saudável, nem o abrigo para o frio, nem piedade para com os menos favorecidos, nem carinho para os que estarão sofrendo – ah! Leah Flower, minha querida, que possas sobreviver às mudanças do planeta com sabedoria e que conquistes no mundo um lugar como este aqui, com os verdes, as águas, as borboletas, as flores e a inocência – na verdade, o que mais te desejo, é que possas ser FELIZ!
Bem vinda a esta nova vida, minha Florzinha! Que ela te seja leve e bela!
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Ah, que conversa gostosa e agradável, uma verdadeira lista de desejos, feitos por uma Fada Madrinha. Leah, antes de nascer, já é feliz.
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