terça-feira, 18 de janeiro de 2011




Por Deus!

* Por Evelyne Furtado


A dimensão do desastre é tão grande que não cabe inteiro na tela da TV. Cabe menos ainda na mente em quem o assiste na segurança de suas casas. Fala-se no número de vítimas. Desperta-se a solidariedade imediatamente. Discute-se a responsabilidade humana e a força da natureza. Por Deus!

Mas ninguém se fixa no assunto por muito tempo. Logo se passa às performances de Amy Winehouse, à novela que terminou e à que se inicia... Como não fazer festa para a chegada de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo? Sou flamenguista, mas fiquei, no mínimo, sem graça com tanta euforia enquanto o mundo desabava a poucos quilômetros dali.

E a vida continua no Big Brother Brasil, sim senhor! Talvez a mídia venha banalizando infortúnios e tal exploração da dor tenha causado certa insensibilidade. Mas nem mesmo sei se minha percepção é correta. A intensidade da dor tem efeito anestésico e diante do sofrimento amplificado o ser humano recua para um lugar seguro. Um refúgio.
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Creio que não se trate de indiferença, mas antes da impossibilidade de vivenciarmos a magnitude da aflição. Uma defesa como outras tantas que desenvolvemos para mantermos nosso equilíbrio psíquico. Contudo essa dor há de ser sentida para que as lições sejam cobradas com urgência. A habituação, nesses casos, é contrária à sobrevivência. Não podemos nos acostumar com o drama real sem reação.

Quanto aos meus sentimentos, confesso que não consigo expressá-los com clareza no momento. Mas minha alma esteve inundada esses dias, por mais que eu tenha evitado sofrer.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

6 comentários:

  1. Evelyne,
    Também estou aturdido com tudo o que aconteceu. E uma tragédia dessa magnitude é tratada como parte da pauta do dia, fato isolado sem causa nem consequência, entre um plantão e outro do BBB 11, aquela farsa roteirizada pela Rede Globo. Deus tenha piedade desse mundinho nosso...
    Um beijo, minha amiga.

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  2. É preciso que reflexões como a sua Evelyne, nos mostre a nossa incapcidade de sentir do tanto que deveríamos. Não é anestesia, mas tentativa de não envolver os sentimentos tanto quanto achamos que precisámos. Concordo com:"impossibilidade de vivenciarmos a magnitude da aflição". Isso é exato. As grandes catástrofes eram distantes, agora é no nosso quintal. Impossível acreditar, mas é bom que acreditemos para prevenir novos deslizamentos em cima de gente.

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  3. Aos que se foram...saudades.
    Aos que ficam...esperança.
    Abraços Evelyne

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  4. A verdade é que muitos de nós realmente se refugia em seu mundo particular enquanto a tragédia ocorre na casa ao lado. É nossa forma de sofrer menos, quando medidas para socorrer o outro fogem ao nosso alcance. Foi isso que vivi aqui em Goiás, que graças a Deus está situado no Planalto Central. Mas creia, mesmo tentando distrair minha tristeza com programas veiculados pelos meios de comunicação, minhas noites foram povoadas de pesadelos. É isso.
    Abraços Evelyne.

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  5. Estamos cada vez mais evitando o sofrimento, mas sem total sucesso. Um assunto a ser explorado.Obrigada por enriquecerem meu texto, amigos. Um beijo em cada um.

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  6. Evelyne,

    Diante de tantas tragédias eu resolvi responsabilizar o governo através da imprensa, publicado hoje no Jornal do Commercio:

    Medo

    A CEHAB, informou através desse conceituado jornal que a suspensão temporária dos serviços de pavimentação, drenagem e tudo que foi danificado, canos dos esgotos sanitários nasresidências(...), em Campo Grande, serão retomados ainda este mês pela empresa responsável pela obra do PAC. Acontece que os moradores das referidas ruas, estão apreensivos com o que aconteceu com as chuvas que causaram estragos no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Pois com esse desleixo, se começar a chover aqui, muitas casas serão inundadas devido ao grande número de entupimento nas galerias subterrâneas destinadas a escoar as águas da chuva. Depois, o Governo não diga que não foi avisado.
    Abração do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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