terça-feira, 2 de novembro de 2010




Autoconhecimento

* Por Evelyne Furtado



Conheço-me quando percebo que não me conheço tanto assim, quando me descubro em um novo estado ou quando avalio de outra forma o passado.
Conheço-me quando autentico gestos ousados ou quando já não me identifico com passos dados, nem com versos nos quais não vejo graça ou nexo.
Conheço-me na penitência dos erros de ontem, na esperança do amanhã e na aceitação de hoje.
Continuo o autoconhecimento quando me abraço inteira: pétala e espinho.
Conheço-me na perturbação que me assalta ao descobrir que a vida a pele afaga, mas também a carne rasga.
Conheço-me quando me assusto pela distância percorrida e quando me canso antes da partida.
Conheço-me quando a minha face contrai-se diante de outra vontade tão legítima quanto a minha.
Conheço-me quando tento entender a realidade sem perder de vista a fé que me sustenta.
Conheço-me quando descubro em mim razão e era tão mais fácil acreditar ser apenas emoção.
Conheço-me quando me refaço a cada dia, integrando uma informação nova ou alcançando um ponto de vista diferente.
Por fim, conheço-me quando me rendo a um carinho, quando namoro o mar, quando cultivo uma flor e, principalmente, quando sei que o processo não termina aqui.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

3 comentários:

  1. Como estamos em permanente mutação, nunca conseguiremos nos conhecer realmente. Será um eterno andar em círculos. O lado princesa é fácil de manejar, mas o lado malvado, viramos a cara, procuramos negar. Mas como diz o ditado chinês, se não alimentarmos a bruxa(em outras palavras) ela morrerá. Vamos procurar ser bons e justos.

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  2. E que esse conhecer continue sempre sendo assim, um processo em andamento e jamais concluído. Belo texto, amiga Evelyne. Parabéns.

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