terça-feira, 30 de novembro de 2010




Um raio de luz na Escuridão

* Por Risomar Fasanaro

Eu estive no Rio de quinta, dia 25 deste mês, a domingo. Fui a dois eventos ligados à poesia, e pude sentir de perto o clima que vive sua população.
Caminhando nas ruas semi desertas daquela cidade que amo tanto, confirmei o que pensei sempre: as cidades têm alma, e o Rio estava triste, o Rio estava cinzento, cabisbaixo, de luto.
A cidade acostumada a ter suas ruas percorridas por pessoas “coloridas pelo sol” estava invadida por viaturas policiais, o som que ouvíamos era o de sirenes, e as pessoas com quem cruzávamos tinham um ar de preocupação, e a pressa dos que têm medo.
Mas mesmo no meio da escuridão que vive, há uma luz. E a encontrei em dois eventos poéticos: o lançamento do livro “Loucas Noites”, da poeta norte-americana Emily Dickinson, traduzido por Isa Mara Lando, e a exposição de Sílvio Tendler, “Há muitas Noites na Noite”: uma vídeo instalação sobre o “Poema sujo” de Ferreira Gullar que estará aberta até o dia 6 de dezembro.
Só ouvindo Isa declamar os poemas de E. Dickinson, no Califórnia Coffee, e só visitando a exposição de Sílvio Tendler, para se ter idéia do que se pode fazer com Poesia, esta arte tão mal compreendida.
Naquela cidade hoje encolhida pelo medo as pessoas tiveram a oportunidade ver o trabalho desses dois grandes artistas: Isa e Sílvio, que coincidentemente acontecem em locais diferentes, mas na mesma rua. Ambos ofereceram à cidade alguns instantes de esquecimento da violência que havia lá fora.
A exposição de Sílvio Tendler é um marco. Depois dela nunca mais se falará que poesia é uma arte distante dos simples mortais. Nunca mais ela será vista da mesma maneira.
Aberta à visitação no Teatro Oi Futuro- Rua visconde de Pirajá, 54, 2º andar – Ipanema. De terça a domingo, das 13 às 21 h.
E Isa Mara Lando estará vendendo o livro de E. Dickinson só no sábado, dia 4 de dezembro, no Califórnia Coffee- na rua Visconde de Pirajá, 540- térreo- Galeria Esquina de Ipanema a partir das 15h, quando contará passagens da vida da poeta além de ler alguns de seus poemas.

* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

6 comentários:

  1. Pois é Riso, mas o Rio é teimoso gosta
    de cor, de sorriso, de música. Esse caos que o mundo assistiu poderia ter sido evitado há tanto tempo...
    Mas, enfim, eu acredito de coração na restabelecimento
    da ordem.
    Que belo encontro você teve.
    Beijos

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  2. Obrigada, Núbia. Mal tive tempo de escrever esse pequeno comentário. Mas sei que logo, logo o Rio voltará à normalidade.
    Beijos

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  3. "Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil"

    É isso aí, Riso. Já foi publicado aqui no Literário, Balas Perdidas:

    "A maioria das vítimas
    é gente humilde e trabalhadora."

    Os instrumentos da morte que chegam nas mãos do crime vêm de onde? Será que não tem policiais envolvidos?

    Beijos

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  4. Música e poesia são calmantes poderosos. Aproximam pessoas. Tenho lido poemas com bem mais atenção do que antes. Ações desse tipo aproximam pessoas comuns dessa linguagem tão bem adjetivada por você: incompreendida. A incompreensão vem da falta de prática. E que o Rio de Janeiro volte logo a normalidade.

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  5. Gosto cada vez mais de poesia e Ferreira Gullar é um poeta que admiro. Muito bom ler seu testemunho sobre a luz que se manteve acesa no Rio durante esses dias dificeis. Bjs, Risomar.

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  6. Na era do Rádio ouvia-se muito na voz de Dalva de oliveira, a música: :"Se o doutor subir lá na favela/vai ver coisas de cortar o coração/barracos caindo/crianças chorando/pedindo pedaço de pão". E ainda: "barracão de zinco/pendurado lá no morro..." As autoridades nunca olharam e nem subiram os morros durante décadas, e hoje assistimos tudo isso, aonde iremos nós?

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