Quanto vale uma mulher
* Por Pablo Uchoa
– Adoro homem machão, forte, bruto!
Uma mocinha linda dizia isto para sua amiga na praia, e eu não me agüentei e tive de intervir.
– Minha filha – ponderei – tem certeza de que você não quer rever esta sua opinião?
– Absoluta! – ela arregalou os olhos. – Adoro homem que é macho.
Olhei para ela, olhei para o mar, tão doce, quase uma canção de Caetano Veloso. Carregando ainda os livros da escola.
Saio a caminhar, uma garotinha de seus dois ou três anos dança nos braços da mãe, sorridente. Nessa idade e já gosta do belo. Faço cara de tio, formulo em pensamento um conselho, aproveite bem antes que te visitem os hormônios, menininha.
O paradoxo do gênero feminino é ser tão sublime, tão sutil, tão delicado, e lhe restar o quê? – a porção bruta, retilínea (não só no desenho físico mas pior, no raciocínio) da raça humana: o homem. Injusta equação, donas.
Madalena, a sensível e sofisticada professorinha personagem de Graciliano Ramos em “São Bernardo”, arruinou sua própria vida ao aceitar casar-se com o fazendeiro Paulo Honório, um brutamontes. Honório era um brucutu como poucos, mas sabia matemática. Preocupavam-lhe os gastos com o casamento? Inquietava-lhe o dote a ser pago ao futuro sogro? Bem feitas as contas, ele calculava, saía ganhando em qualquer equação.
Um mestre. Entendeu que o mercado dos relacionamentos não é diferente de qualquer outro, em que as coisas valem um preço e se fazem negócios. Nada generoso com as madalenas, as românticas, que não gostam de fazer as contas e são avessas ao blefe.
Como aquela florzinha de olhos castanhos que se aproximou de mim quando eu jogava sinuca e vertia umas cervejas com uns amigos:
– Lindo... – ela deixou assim, no ar, um cochicho tão sutil que quase me fez chorar, ô, desperdício!
Pior, naquela noite ela me beijou na boca.
Isso eu achei uma péssima escolha.
No entanto retribuí, eu sou homem mas não sou besta, faço matemática, como Paulo Honório. O fazendeiro deixou como sucessor um grande amigo meu, que escutou essa história e comentou, relembrando um velho ditado onipresente nas conversas de macho:
– Se mulher não tivesse boceta eu nem lhe dirigia a palavra!
Eu encolho os ombros, meneio a cabeça, devo concordar? É um blefe, mas afinal crescemos ambos como homens, botando preço nas coisas e nas mulheres, trapaceando, pedindo truco com jogo mirrado.
Pobre Madalena. Gostava do abecedário e de educação moral e cívica, mas descuidou das equações. Acabou destruída, literalmente, pelo primeiro bronco que soube lhe regatear o preço.
*Jornalista, graduado pela USP em 2000. Trabalhou, por cinco anos, na TV Globo, como produtor e editor da Globonews e do núcleo de reportagens especiais do Jornal Nacional. Autor do livro-reportagem “Venezuela: a encruzilhada de Hugo Chávez” (Ed. Globo, 2003). Mora na Inglaterra e é pesquisador do Institute for the Studies of the Americas, da Universidade de Londres.
* Por Pablo Uchoa
– Adoro homem machão, forte, bruto!
Uma mocinha linda dizia isto para sua amiga na praia, e eu não me agüentei e tive de intervir.
– Minha filha – ponderei – tem certeza de que você não quer rever esta sua opinião?
– Absoluta! – ela arregalou os olhos. – Adoro homem que é macho.
Olhei para ela, olhei para o mar, tão doce, quase uma canção de Caetano Veloso. Carregando ainda os livros da escola.
Saio a caminhar, uma garotinha de seus dois ou três anos dança nos braços da mãe, sorridente. Nessa idade e já gosta do belo. Faço cara de tio, formulo em pensamento um conselho, aproveite bem antes que te visitem os hormônios, menininha.
O paradoxo do gênero feminino é ser tão sublime, tão sutil, tão delicado, e lhe restar o quê? – a porção bruta, retilínea (não só no desenho físico mas pior, no raciocínio) da raça humana: o homem. Injusta equação, donas.
Madalena, a sensível e sofisticada professorinha personagem de Graciliano Ramos em “São Bernardo”, arruinou sua própria vida ao aceitar casar-se com o fazendeiro Paulo Honório, um brutamontes. Honório era um brucutu como poucos, mas sabia matemática. Preocupavam-lhe os gastos com o casamento? Inquietava-lhe o dote a ser pago ao futuro sogro? Bem feitas as contas, ele calculava, saía ganhando em qualquer equação.
Um mestre. Entendeu que o mercado dos relacionamentos não é diferente de qualquer outro, em que as coisas valem um preço e se fazem negócios. Nada generoso com as madalenas, as românticas, que não gostam de fazer as contas e são avessas ao blefe.
Como aquela florzinha de olhos castanhos que se aproximou de mim quando eu jogava sinuca e vertia umas cervejas com uns amigos:
– Lindo... – ela deixou assim, no ar, um cochicho tão sutil que quase me fez chorar, ô, desperdício!
Pior, naquela noite ela me beijou na boca.
Isso eu achei uma péssima escolha.
No entanto retribuí, eu sou homem mas não sou besta, faço matemática, como Paulo Honório. O fazendeiro deixou como sucessor um grande amigo meu, que escutou essa história e comentou, relembrando um velho ditado onipresente nas conversas de macho:
– Se mulher não tivesse boceta eu nem lhe dirigia a palavra!
Eu encolho os ombros, meneio a cabeça, devo concordar? É um blefe, mas afinal crescemos ambos como homens, botando preço nas coisas e nas mulheres, trapaceando, pedindo truco com jogo mirrado.
Pobre Madalena. Gostava do abecedário e de educação moral e cívica, mas descuidou das equações. Acabou destruída, literalmente, pelo primeiro bronco que soube lhe regatear o preço.
*Jornalista, graduado pela USP em 2000. Trabalhou, por cinco anos, na TV Globo, como produtor e editor da Globonews e do núcleo de reportagens especiais do Jornal Nacional. Autor do livro-reportagem “Venezuela: a encruzilhada de Hugo Chávez” (Ed. Globo, 2003). Mora na Inglaterra e é pesquisador do Institute for the Studies of the Americas, da Universidade de Londres.
Está no ar a pergunta: " O que querem as mulheres?" A minha resposta: respeito. Quando somos respeitadas, em qualquer circunstância, tudo acontece da melhor forma. Para que isso ocorra temos de nos respeitar e respeitar a todos, numa corrente de ação e reação. Eu, pelo menos, funciono assim.
ResponderExcluirAcredito que o que existe é uma inversão
ResponderExcluirde valores...ou então eu sou jurássica mesmo
e penso diferente.
Ótimo texto