sábado, 27 de novembro de 2010




Diário da Perua

Homens (quase) impossíveis

* Por Ruth Barros


Quem é que nunca teve tesão em homens inatingíveis? Por homens inatingíveis Anabel não quer dizer o Brad Pitt, o Harrison Ford ou mesmo os brasileirinhos Walter Moreira Salles ou Davi Moraes (ai, ai), deuses que só se corporificam para as pobres mortais nas telas ou nos palcos. Homens inatingíveis, queridos leitores, são aqueles que existem, estão por aí na nossa vidinha besta e a gente nunca vai chegar perto, a não ser na hora do oi e do tchau, isso é, caso a sorte nos sorria com algum tipo de intimidade com o desejado.

Há três categorias básicas de inatingíveis. A primeira é composta pelos já amarrados por outra e, para complicar, outra que nos seja muito próxima – o namorado da amiga, o marido da amiga, o chefe charmoso e casado (rolo e encrenca na certa), enfim, a lista de obstáculos é longa.

O terapeuta, o pediatra do filho, o advogado bacana, o dentista bonitão também fazem parte de uma longa lista que a compostura adverte para manter distância. Caso outro valor mais alto se alevante, a compostura, já batendo em retirada, alerta para que pelo menos se providencie a troca de terapeuta, pediatra ou qualquer outro serviço básico até então prestado pelo promovido à nova categoria, para que não se configure acúmulo de função.

A terceira categoria é especialmente dura para o ego de qualquer garota. É aquela muita-areia-para-o-meu-caminhãozinho, formada por sujeitos contra os quais não haveria qualquer problema, exceto o fato de aparentemente eles não enxergarem a gente. Os super disputados também estão nesse mesmo barco – a gente pode até pegar senha e esperar na fila, mas nossa vez nunca chega, tem sempre uma mais esperta ou mais gostosa na frente.

Reza a lenda que a Marta Suplicy conseguiu capturar a atenção do Eduardo jogando-o na piscina durante uma festa (ele pegou uma gripe super forte), mas acho esse método arriscado, assim como atirar-se na frente do carro dele. No caso do senador porque ele acabou trocado por um franco-argentino que não caiu na piscina e no caso do carro porque você pode se machucar seriamente ou estragar a viatura, coisa que deixaria qualquer homem furioso.

A resposta para esse tipo de problema pode estar nas voltas que o mundo dá. Minha amiga loura, bonita e esperta conta que, durante muitos anos, freqüentou o mesmo clube e secou um sujeito que nunca reparou que ela existia ou respirava:
-Eu era mocinha, lourinha, gordinha, classe média e ele era lindo, alto, moreno, rico e fazia faculdade de engenharia. Eu e minhas amigas babávamos por ele, que simplesmente não nos enxergava. Cresci, casei, mudei e a vida continuou. Um dia uma amiga me levou a uma festa de fim de ano de uma empresa. Fui toda loura e linda, com um vestido branco deslumbrante, que tinha comprado em Paris. Eu estava conversando com um grupo quando chegou um bonitão e pediu para me conhecer. Quase desmaiei de susto, mas respondi firme: “Já te conheço faz quase 20 anos”. Era ele, o esnobe do clube.

O final da história? Volto a bola para a protagonista:
- Fiquei meio tentada, mas não ia arriscar meu casamento (que já era o segundo nessa altura do campeonato) por um sonho do passado que nem me parecia mais isso tudo. Resolvi me divertir – contei quem eu era (ele custou a lembrar, é verdade), o tanto que já tinha arrastado de bonde por causa dele e caí fora, deixando o sujeito com um dos queixos mais caídos que já vi na minha vida.

Anabel Serranegra acha que um dos maiores encantos dos homens inatingíveis reside no fato de eles continuarem inatingíveis


* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.

Um comentário:

  1. Os ditados manjadíssimos rezam:
    Não se deve colocar o chapéu onde não se pode alcançar; não se deve dar um passo maior que as pernas. Dito e feito.

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