Queixas
* Por Ana Flores
Ele mesmo dissera que se ela não estivesse satisfeita que fosse se queixar ao bispo. E ela foi. Contou tudo o que havia se passado entre eles: a acusação de ser ela a culpada dos pesadelos dele, os encontros só em dias sorteados no calendário, e não deixou de mencionar que ele não a queria com as unhas dos pés pintadas de vermelho, como ela sempre usara até conhecê-lo. Quando ela terminou, o bispo apenas disse, com a voz baixa e calma de quem passou a vida a ouvir queixas: "Volte hoje à noite, às dez. E venha com as unhas dos pés pintadas de vermelho."
Ele mesmo dissera que se ela não estivesse satisfeita que fosse se queixar ao bispo. E ela foi. Contou tudo o que havia se passado entre eles: a acusação de ser ela a culpada dos pesadelos dele, os encontros só em dias sorteados no calendário, e não deixou de mencionar que ele não a queria com as unhas dos pés pintadas de vermelho, como ela sempre usara até conhecê-lo. Quando ela terminou, o bispo apenas disse, com a voz baixa e calma de quem passou a vida a ouvir queixas: "Volte hoje à noite, às dez. E venha com as unhas dos pés pintadas de vermelho."
• Professora de Português na Escola Americana do Rio de Janeiro; autora do livro didático Muito Prazer! (Curso de Português do Brasil para estrangeiros), e de Corporco e outros contos, da Editora Blocos; tradutora para o português do livro Para defender-se dos escorpiões, do autor argentino Fernando Sorrentino; terceiro lugar no concurso de contos eróticos da revista Staus (1978) e primeiro lugar no Júri de Escritores do concurso Arremate o Conto (2000); cronista dos jornais de bairro Guia Humaitá e Folha da Gávea.
Não me queixarei ao bispo então...
ResponderExcluirAcho melhor guardá-las para mim
ou então resolver tudo na marra mesmo.
Adorei o texto.
Abraços