Self-made
man
O caminho para o sucesso é estreito e acidentado e poucas,
pouquíssimas pessoas conseguem atingir os objetivos que traçaram para suas
vidas. As atuais Olimpíadas são exemplo disso. Reúnem mais de cinco mil atletas,
de dezenas de modalidades e centenas de países, todos com o mesmo objetivo:
vencer. Todavia, apenas uma pequena quantidade deles chegará lá. A vida é
assim, não importa em que atividade se pretende obter êxito. As
pessoas que conseguem a façanha de chegar “ao cume da montanha”, todavia, não
raro se decepcionam com o fato da realidade ser muito aquém das suas delirantes
fantasias.
E qual é a meta suprema da maioria dos mortais? Quem
respondeu a fortuna, ganhou, de prêmio, uma viagem para a Síria e um bônus para
o Afeganistão. Brincadeiras a parte, podemos constatar, com facilidade, sem
qualquer esforço, que desde o mais abastado dos indivíduos, proprietário de
bilhões de dólares e de riquezas sem fim, ao indigente que, oprimido pela fome
e pela desnutrição, delira e elabora fantasias mirabolantes em torno, por
exemplo, de um imaginário prêmio de loteria, todos querem a mesma coisa: ter,
ter e ter, o máximo que puderem. Não é o objetivo primário dos atletas
olímpicos. Mas no fundo, no fundo, eles também sonham com isso. É parte da
natureza humana.
Não vem ao caso, aqui, considerar se esse objetivo é correto
ou equivocado e muito menos as razões do acerto ou do erro. O aspecto que trago
hoje à reflexão do paciente leitor não é este. Ouço, a todo o momento, por aí,
a afirmação de que, através do trabalho, ninguém consegue chegar à fortuna.
Discordo.
Admito que seja uma ocorrência raríssima, mas conheço
diversos casos em que isso ocorreu. Igual a mim pensa, por exemplo, boa parte
dos norte-americanos. A quantidade dos chamados “self-made men” nos Estados
Unidos, de onde procede a maioria dos milionários da atualidade, é, provavelmente,
a maior do mundo. E esses “bafejados pela fortuna”, que arrancaram o que têm
graças ao seu talento, à sua autodisciplina, à sua persistência e ao seu
trabalho, sentem imenso orgulho em declarar, sempre que têm oportunidade, a
origem das suas riquezas.
Tanto que biografias e mais biografias a seu respeito são
produzidas com fartura, muitas das quais se transformam em best-sellers que,
por conseqüência, engordam ainda mais suas quilométricas contas bancárias.
Manuais e mais manuais de auto-ajuda, que se propõem a ensinar o caminho das
pedras, ou seja, como se deve fazer para alcançar o sucesso e a fortuna,
esgotam edições e mais edições e são traduzidos para várias línguas.
Ninguém gosta da miséria, nem o mais despojado dos ermitões,
embora muitos a citem como virtude. Não vejo por que! Da minha parte, embora a
riqueza não seja exatamente o valor que mais preze e que me mova, nada tenho,
pessoalmente, contra ela. Nem contra os ricos. O que condeno neles são os
comportamentos que, via de regra, acompanham suas fortunas, como a arrogância,
a prepotência, a avareza, o egoísmo, a ostentação, o desperdício e tantas e
tantas e tantas outras maneiras de afronta aos desafortunados.
Tornou-se célebre a afirmação do carnavalesco paraense, que
se consagrou, por sua criatividade, no Carnaval do Rio de Janeiro, o saudoso
Joãozinho Trinta, que disse: “Quem gosta de miséria é intelectual. Pobre
aprecia a suntuosidade e a ostentação”. Claro que ele estava certo. Isto faz
parte, reitero, da própria natureza humana.
É óbvio que a fortuna não deve ser o único ideal de qualquer
pessoa, por pior que seja o seu caráter e por mais curta que seja a sua
inteligência. E já nem cito a principal razão, qual seja, a do teor da mensagem
do ex-atleta, bicampeão olímpico de corridas de meio-fundo e presidente do
Comitê Olímpico do Quênia, Kip Keino, que lembrou, na cerimônia de abertura das
Olimpíadas do Rio de Janeiro: “como mortais, nascemos sem termos absolutamente
nada e deixaremos este mundo da mesma forma como entramos nele: nus, sem coisa
alguma do que, em vida, consideramos que seja nosso”.
Quem coloca a riqueza como meta exclusiva de vida é
candidato infalível a monumentais frustrações. Se não conseguir seu intento (o
que é quase certo de acontecer), os motivos de decepção são evidentes.
Se tiver sucesso, mas não souber o que fazer com o que tenha
amealhado, logo haverá de perceber que apenas a riqueza não é capaz de
satisfazer seus desejos mais profundos, que não sejam os de caráter meramente
material. Refiro-me aos espirituais, muitos tão sutis e secretos, que nem a
própria pessoa sabe, com certeza, quais são.
Criticados ou endeusados, porém, o fato é que esses seres
bafejados pela fortuna – os Bill Gates, os Paul Gettys, os Rothschilds, os
Schlumbergers, os Rockfellers, os Guggenheims, os Carneggies etc.etc.etc. da
vida – são imitados, invejados e despertam profundo fascínio nas multidões.
Principalmente os considerados “self-made men”, que desbravaram seus caminhos
com ousadia e competência (não raro, com esperteza) e chegaram ao topo da
montanha dos seus sonhos. Prova disso é o sucesso das publicações voltadas para
a divulgação das suas festas magnificentes, das suas mansões, dos seus iates,
das suas amantes, dos escândalos (verdadeiros ou inventados) em que se envolvem
e de tudo, enfim, o que lhes diga respeito.
Não há, convenhamos, quem não se coloque no lugar desses
afortunados, pelo menos uma vez na vida, em suas mais secretas fantasias. Mesmo
(ou principalmente) os que negam isso com maior ênfase que, provavelmente, são
os que mais ambicionam a fortuna e a conseqüente notoriedade. Raros, raríssimos
não agem como o Fausto, de Johann Wolfgang Göethe. A maioria, como esse
personagem, vende a alma a Mefistófeles e se esquece que um dia o comprador irá
reclamar aquilo que adquiriu. Mas então...
Boa leitura!
O Editor.
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