Os erros do meu português ruim
* Por
Clóvis Campêlo
Já se disse que a mão
que afaga é a mesma que apedreja.
E é a verdade mais
verdadeira.
Não pensem, porém, que
haja alguma contradição nisso.
É tudo uma questão de
crença.
Apenas.
Sorrimos e beijamos
quando nos identificamos com o outro e tentamos destruí-lo quando achamos que
as suas idéias e ideais podem ameaçar a nossa síntese ideológica, arduamente
construída e mantida, sabe lá Deus, com quantas contradições e dissimulações.
Mas, graças ao Todo
Poderoso, somos humanos e isso faz parte do contexto dos humanos.
Já pensou como seria
chato sermos um poço de coerências e certezas cartesianas?
Eu mesmo não me
suportaria!
E muito menos
suportaria o outro.
Esse jogo enganatório
faz parte do relacionamento humano.
Poetas, ou não, somos
fingidores.
Só assim o mundo
torna-se suportável.
E brincamos de
esconder dos outros as nossas imperfeições do mesmo modo que procuramos
descobrir neles os pontos fracos e meter o dedo nas feridas.
Fazer sangrar!
Isso diminui a nossa
sensação de impotência e nos torna maiores, gigantes perante nós mesmos.
O sofrimento alheio
nos redime, nos faz crescer.
Tudo isso porque somos
humanos e filhos de Deus.
Tudo ao mesmo tempo
agora!
Realmente, a vida é
bela.
Como é belo o sonho,
as utopias, as possibilidades do que não se realizou (ainda!).
É isso o que nos
alimenta, o que sacia a nossa fome de novidades.
É esse o unguento
preferido para as nossas próprias feridas.
É assim, tomando os
outros como medida, que nos sentimos nós mesmos, que temos a dimensão da nossa
grandeza e da nossa pequenez.
A vida é bela por que
é ilusória e transitória.
O tempo é quem nos
trai, reduz, elimina.
E quanto a isso não há
o que se fazer!
Recife, 2008
* Poeta, jornalista e radialista.
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