sábado, 27 de agosto de 2016

Os erros do meu português ruim


* Por Clóvis Campêlo



Já se disse que a mão que afaga é a mesma que apedreja.

E é a verdade mais verdadeira.

Não pensem, porém, que haja alguma contradição nisso.

É tudo uma questão de crença.

Apenas.

Sorrimos e beijamos quando nos identificamos com o outro e tentamos destruí-lo quando achamos que as suas idéias e ideais podem ameaçar a nossa síntese ideológica, arduamente construída e mantida, sabe lá Deus, com quantas contradições e dissimulações.

Mas, graças ao Todo Poderoso, somos humanos e isso faz parte do contexto dos humanos.

Já pensou como seria chato sermos um poço de coerências e certezas cartesianas?

Eu mesmo não me suportaria!

E muito menos suportaria o outro.

Esse jogo enganatório faz parte do relacionamento humano.

Poetas, ou não, somos fingidores.

Só assim o mundo torna-se suportável.

E brincamos de esconder dos outros as nossas imperfeições do mesmo modo que procuramos descobrir neles os pontos fracos e meter o dedo nas feridas.

Fazer sangrar!

Isso diminui a nossa sensação de impotência e nos torna maiores, gigantes perante nós mesmos.

O sofrimento alheio nos redime, nos faz crescer.

Tudo isso porque somos humanos e filhos de Deus.

Tudo ao mesmo tempo agora!

Realmente, a vida é bela.

Como é belo o sonho, as utopias, as possibilidades do que não se realizou (ainda!).

É isso o que nos alimenta, o que sacia a nossa fome de novidades.

É esse o unguento preferido para as nossas próprias feridas.

É assim, tomando os outros como medida, que nos sentimos nós mesmos, que temos a dimensão da nossa grandeza e da nossa pequenez.

A vida é bela por que é ilusória e transitória.

O tempo é quem nos trai, reduz, elimina.

E quanto a isso não há o que se fazer!

Recife, 2008

* Poeta, jornalista e radialista.


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