terça-feira, 16 de agosto de 2016

Através do vidro

* Por Guilherme Sardas


No carro da frente,
Um menino me olha sereno
Através do grande vidro traseiro

Ele estava assustado
Poucos segundos atrás
Com o ritmo ao redor
E o diálogo dos pais

Mas quando me viu
As mãos balançando
O sorriso e as caretas
Minha boca elástica
Eu gritava um bolero dramático
Simulava a bateria no ar

Eu lembrava da piada obscena de minutos atrás
Eu lembrava de esquecer a angústia de ontem
Eu me sentia frágil, apesar de achar que tudo vai bem
E sentia uma vergonha de ver meu corpo tão indisciplinado assim

O menino acalmou
Recostou o queixo no encosto do banco
E ficou me olhando
Feito um cãozinho tranquilo
Que não se sente tão só.


* Jornalista e redator publicitário

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