terça-feira, 16 de agosto de 2016

Pílulas literárias 238


* Por Eduardo Oliveira Freire


REPETITIVAMENTE

Sempre se sentiu num filme, mas, ninguém acreditava nele. Quando morreu e a escuridão surgiu com os créditos rolando, os outros ficaram perplexos de ele ter sempre falado a verdade. Entretanto, tinham a esperança de que se esqueceriam desta verdade e retomariam suas vidas quando alguém assistisse ao filme. Já o protagonista, estava cansado de viver repetitivamente a mesma história. Além de não aguentar mais ouvir as trilhas sonoras que o perseguiam o tempo inteiro.

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ATRAÇÃO FATAL

Uma bolha de sabão, ao encontrar um cacto, aproxima-se dele ao ponto de estourar de prazer.

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REPENTINAMENTE

Clarice está linda como sempre, mas parece uma morta viva. De repente, atravesso sua cabeça com uma furadeira. Percebo-me num apocalipse zumbi.

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ROSTO-ABISMO

Quem via sua selfie nas redes sociais caía literalmente de um precipício. Entretanto, mesmo acumulando várias pessoas dentro de si, o homem do rosto-abismo ainda se sentia vazio e solitário. Atravessava alta madrugada a adicionar pessoas em suas redes sociais e a fome aumentava até transcender sua existência.

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O QUADRO MAIS VALIOSO DO MUNDO

Num incêndio o colecionador de obras de arte perdeu quase todo o acervo. Mas não se sentiu tão desesperado, pois salvou o quadro de sua avó. Apesar de ele não ter valor artístico em relação aos críticos e ao mercado de arte.

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INTERTEXTO

Sonhei com dinossauro e acordei com um político conhecido discursando na tevê sobre ética. Lembrei-me do conto de Monterroso: "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá".

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PROVISÓRIO

Quando dei a descarga, despedi-me do cocô. De repente, senti saudade. Minha avó me pegava no colo para ver as fezes indo embora. Ela se foi há anos. Quantas pessoas e merdas se foram da minha vida! Tudo é tão provisório...

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* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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