Herois olímpicos esquecidos para todo o
sempre
As Olimpíadas, em suas cerca de duas centenas de edições –
contando as da Antiguidade e as da era moderna, iniciadas em 1896 – produziram
uma infinidade de “heróis dos esportes”. A imensa maioria, no entanto, jaz
sepultada, para sempre, na implacável “cova do esquecimento”. Qual a razão?
Isso se deve, basicamente, a dois fatores. O primeiro é que, embora fossem
celebridades no seu tempo, seus feitos atléticos não foram registrados por
ninguém. Convenhamos, dadas as dificuldades de se escrever livros, em passado
até nem tanto remoto, muita coisa, em praticamente todos os campos de
atividade, deixou de ser registrada para a posteridade. Assim, esses “heróis do
esporte” acabaram esquecidos tão logo os que testemunharam seus feitos (ou
ouviram dizer deles) morreram. Aí... babau!! Sua suposta imortalidade
revelou-se “mortalíssima”. Pois é, sic transit gloria mundi...
A segunda razão é a precariedade dos registros feitos.
Muitas dessas façanhas foram, sim, documentadas por escrito. Todavia, esses
textos se perderam pelas razões mais diversas: incêndios em bibliotecas,
destruição deles por serem considerados “sacrílegos” por determinadas
sociedades fanáticas, a não divulgação por parte dos seus escassos
proprietários (é preciso ter em conta que edições de míseras duas dezenas já
eram consideradas best-sellers) e que, mesmo não destruídos, podem estar por
aí, sem que se saiba onde, etc.etc.etc. Imagine o leitor quantas histórias
deliciosas se perderam por estas e por outras razões!!! E tudo isso pensando
nos campeões olímpicos, nos vencedores, que no seu tempo foram alçados à condição
de heróis, ganhando estátuas em praças públicas de suas respectivas comunidades
e sendo mais que meras celebridades, para se transformarem em lendas entre seus
contemporâneos.
Possivelmente, porém, (desconfio, até, que provavelmente) as
melhores histórias, caso fossem escritas, até pela dramaticidade que envolvem,
não seriam, ou não foram, as dos vencedores, dos campeões, dos bem-sucedidos,
mas as dos fracassados, dos que se decepcionaram e decepcionaram os que por
eles torciam e neles confiaram, os vencidos, enfim. E destes nunca ouvi falar
que alguém tenha sequer cogitado de tratar. Vale aqui (ou pelo menos valeu)
nesses casos o adágio popular: “aos perdedores, as batatas”. Traduzindo para o
simples, troquemos, apenas, os tubérculos pelo implacável esquecimento. Isso
vale tanto para os atletas das Olimpíadas da Antiguidade, quanto para as
contemporâneas.
Aliás, nos 28 Jogos Olímpicos de Verão realizados desde
1896, até aqui, são pouquíssimos os campeões cujo simples nome é lembrado sem
necessidade de se recorrer a anotações. Sem nenhum exagero, uma pessoa de
excelente memória e que trabalhe com esportes consegue citar, sem erro, quando
muito, dez campeões. E olhem lá!!! Tente, caro leitor, tirar a prova dos nove.
Cite, sem precisar mencionar as modalidades, todos os heróis olímpicos de que
se lembra. Se conseguir lembrar o equivalente aos dedos das duas mãos, você é
um fenômeno, acredite. Se há essa dificuldade com personagens dos últimos 120
anos, imaginem os da Antiguidade, de cerca de 2500 anos!!! E isso, reitero, em relação aos vencedores. Quanto aos perdedores...
É como se nem mesmo tenham existido.
Ainda assim, pesquisando em várias fontes, “descobri” uma
dezena de heróis olímpicos da Grécia Antiga. Se suas histórias são verdadeiras
ou não é questão de crença. É impossível provar sua veracidade ou inverdade.
Provavelmente têm alguma coisa de real e muito de lenda. Afinal, “quem conta um
conto, aumenta um ponto”. Aliás, dificilmente só um. Provavelmente, aumenta
dezenas ou mais. É o caso, por exemplo, do herói olímpico Orsippus de Megara.
Na Grécia Antiga, não havia o costume de apor sobrenomes aos nomes. Usava-se,
em vez disso, acrescentar a denominação das cidades de que procediam.
E o que fez esse cidadão (além de se tornar campeão
olímpico) para ter seu nome preservado para a posteridade? Inovou!!! No
distante ano de 720 a. C., durante a prova de corrida da 15ª edição dos Jogos
Olímpicos da Grécia Antiga, Orsippus de Megara venceu a disputa cruzando a
linha de chegada completamente nu! Hoje, se algum atleta, num assomo de
insanidade, ousasse fazer isso, seria, no mínimo, desclassificado. E teria
muita sorte se não fosse preso, acusado de “violento atentado ao pudor”. Orsippus,
todavia, “revolucionou” sua modalidade. A partir dele, o hábito de correr sem
roupas se tornou comum entre os gregos. Antes dele, os corredores competiam
vestidos com túnicas.
Acredita-se que Orsippus, tendo percebido que sem roupa
ficaria com os movimentos mais soltos, despiu-se durante a prova e viu sua
teoria ser comprovada: venceu com facilidade. Quem não gostou disso foram as
mulheres casadas. Ou seus respectivos cônjuges. Elas foram proibidas, desde
então, pelos seus maridos, de assistirem às corridas pedestres. Provavelmente
(e tenho plena convicção disso) os “machões” temiam que suas “caras metades”
fizessem comprometedoras comparações de seus “dotes” com os dos atletas. É ou
não é uma história pitoresca que, por causa do inusitado, sobreviveu ao tempo e
ao esquecimento?
Boa leitura.
O Editor.
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O diferente fez a diferença!
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