Reescrevendo
a história
* Por Rodrigo Ramazzini
Há fatos na história que geralmente não
questionamos, apenas sabemos que ocorreram de tal modo, e assim nos acostumamos
a escutar e a retransmitir. O que poucos sabem, é como verdadeiramente alguns
deles aconteceram. A história a seguir narra como começamos a gloriar Jesus
Cristo, o como e o por quê Judas Iscariotes o traiu, bem como o motivo de
idolatramos o futebol no Brasil.
Tudo iniciou quando Jesus Cristo, o
treinador, criou um time de futebol no céu. Juntou os apóstolos, e formou a
primeira equipe que se têm notícias. Treino treinou durante meses, e já cansado
de tanto praticar, sem ao menos realizar uma partida oficial, resolveu desafiar
o Diabo a constituir um time também. Primeiramente, contudo, indagou a Deus
qual seria a sua opinião sobre este desafio. Deus, como presidente da
confederação de futebol, replicou: - Sabes tu o que fazes, meu filho Queres
jogar, jogue. Não tereis nada com isso. O que fazeis no máximo é indicar o
árbitro. E assim, o anjo Gabriel tornou-se Juiz de futebol.
Topado o desafio pelo Diabo, acertou-se
a data e o horário da partida com facilidade, no entanto, o problema surgiu na
hora de escolher o local: seria no céu ou no inferno? O anjo Gabriel, por uma
questão de justiça, achou melhor que a partida fosse realizada em um campo
neutro. Então, optou-se pela terra. Tirou-se um cara e coroa, sendo que o
vencedor teria o direito de escolher o lugar na terra que se realizaria a
partida. Vitória do Diabo, que não titubeou e lascou: - Eu escolho o Brasil!
Dia do jogo. Divulgada as escalações. O
time do Jesus iniciaria a partida com: o goleiro André, Pedro, João e Tiago.
Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus e Tiaguinho. Judas Tadeu e Simão. Com Judas
Iscariotes no banco de reservas. O Diabo, como um belo estrategista que era,
anunciou a seguinte escalação: Lúcifer, capeta, capeta, capeta, capeta, capeta,
capeta, capeta, capeta, capeta, capeta. Jesus não gostou da atitude do Diabo,
esboçou uma reclamação, refletiu, e achou que o melhor mesmo seria ganhar o
desafio.
Apita o árbitro. Começa a partida. O
time de Jesus marca um gol logo aos cinco minutos, com Mateus. Três minutos
após faz o segundo, um golaço de João. Judas Iscariotes então solicita para
entrar na partida, afinal, já está dois a zero, e segundo ele, praticamente
ganha. Judas insiste de cinco em cinco minutos para ingressar ao jogo. Jesus
apenas replica: - Calma! O time do Diabo faz o primeiro gol com o jogador de
camisa 7. E Judas Iscariotes logo diz: - Eu não falei que tenho que entrar,
para segurar o jogo Jesus, coloque-me, caso não, vamos acabar perdendo essa
partida. E Jesus novamente redargüiu: - Calma! Irritando mais ainda Judas
Iscariotes. E assim termina o primeiro tempo.
Depois
de passar o intervalo inteiro tentando convencer Jesus a colocá-lo na partida,
discutir com os companheiros no vestiário, Judas Iscariotes retorna ao campo,
senta-se no banco de reservas, que ficava atrás da goleira defendida por
lúcifer, e irritado faz um beiçinho. Jesus passa, olha, e apenas balança a
cabeça. Inicia-se o segundo tempo. A equipe do Diabo vem modificada, e
pressiona em busca do gol de empate. Gol esse que não tarda a acontecer. Aos 18
minutos do segundo tempo, cruzou-se a bola para a área, encontrando
certeiramente a cabeça do capeta número 9, dois a dois.
Jesus
em pé olha para o banco, Judas Iscariotes faz aquela cara de “eu não avisei” e
convicto que entrará na partida, levanta-se e inicia o aquecimento. O jogo
segue emocionante, com chances para ambas as equipes, quando aos 37 minutos da
segunda etapa, Tomé recebe o cartão amarelo. Judas Iscariotes se aproxima de
Jesus para receber as instruções, pois ele não manteria um jogador com cartão
amarelo em campo. Jesus olha para Judas Iscariotes e profere: - Este não é jogo
para você Judas. Sente-se lá e torça pelos demais. O sangue de Judas Iscariotes
“sobe à cabeça”, irritado, pragueja em um tom audível. Quando se senta
novamente no banco de reservas, acontece o lance que poderá mudar a destino da
partida.
O
árbitro Gabriel marca pênalti em Tiaguinho. Judas Iscariotes debate-se no
banco, não acreditando no que estava assistindo. Simão é escalado para batê-lo.
Coloca a bola na marca da cal. Neste instante, Judas possuído pela raiva contra
Jesus, levanta-se do banco e corre em direção à goleira. Sabedor dos artifícios
técnicos do Simão, pois treinavam cobranças de pênalti juntos, lado a lado, uma
cobrança para cada, Judas realiza o ato que historicamente o “consagrou”, e
grita para o goleiro: - É no canto direito! O goleiro escuta, e não sabendo se
era no seu lado direito ou o do batedor do pênalti, resolve atira-se para o seu
lado então. É a história. Placar final do confronto: Diabo 2 x 3 Jesus.
*
Jornalista e contista gaucho.
Agora mesmo estamos lidando com traidores.
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