O
fantasma do silêncio
Nada assusta mais um escritor, e nem o
aborrece tanto, do que a mera possibilidade dos seus textos passarem em branco
e não serem lidos por ninguém. É o que muitos chamam de “o fantasma do
silêncio”. Se fosse para não ser lido, ele sequer perderia tempo e esforço (e
põe esforço nisso) para escrever o que quer que seja.
Não conheço um só escritor que não se
preocupe e não se aborreça com isso. Muitos podem, até, dizer que não ligam a
mínima. Vários deles dizem isso, de fato. Mas, estejam certos, ligam sim. E
muito!O que os aterroriza, sobretudo, é a sempre possível sombra do encalhe de
seus livros.
E olhem que nessa época de tantos
perigos e ameaças, motivos para terror é que não faltam. Estamos todos
assistindo, por exemplo, sem que nenhuma providência prática seja adotada, o
cada vez mais acelerado processo de aquecimento global, possivelmente já
irreversível, com a probabilidade de ocorrência de uma tragédia anunciada, de
proporções apocalípticas, cada vez mais iminente, apenas questão de tempo, para
se configurar.
Vemos, volta e meia, novos e poderosos
vírus aparecendo (muitos dos quais, suspeita-se, criados em laboratórios com o
objetivo de serem armas bacteriológicas), ameaçando exterminar multidões, com
incontroláveis pandemias. Entre estes, os mais recentes são os da gripe
aviária, que ainda não tem meios eficazes de imunização e a assustadora, tão
propalada e já atuante “gripe suína”. E há, ainda, dezenas, centenas, milhares,
milhões, bilhões de chateações, de todos os tamanhos e intensidades, a nos
azucrinarem no cotidiano.
De tudo isso, porém, o que mais assusta
o escritor é a possibilidade de ser ignorado. Não que ele seja alienado, longe
disso. Pelo contrário, ninguém é tão bem informado quanto quem se dedica a essa
atividade. Afinal, informação e realidade são matérias-primas do seu “métier”,
às quais acrescenta os indispensáveis ingredientes do talento, da sensibilidade
e, sobretudo, da criatividade.
Imaginem, por exemplo, a chateação de
um escritor que seja colunista de um jornal, ou uma revista (qualquer um,
famoso ou não, entre os quais me incluo), ao não receber um único e reles
comentário, de quem quer seja, nem mesmo dos parentes mais próximos (mulher,
filhos, sobrinhos etc.etc.etc.) àquilo que tão generosamente partilhou com
tanta gente!
Na maioria das vezes, não recebe a
mínima manifestação, nem mesmo um “gostei”, ou “detestei”, ou “concordo com
suas opiniões”, ou “discordo delas”. O retorno é zero, é o nada, é o silêncio,
o que nos deixa a desagradável sensação de estarmos pregando num desolador
deserto, para pedras, cactus, dunas e, eventualmente, para uma ou outra aranha,
escorpião, lagarto ou solitário chacal. Ou de estarmos falando sozinhos, numa
movimentada avenida, agindo como se tivéssemos ao nosso lado algum interlocutor
invisível, passando por malucos aos olhos dos transeuntes.
Destaque-se que o quadro de colunistas
dos principais jornais e revistas é constituído por profissionais do texto, que
vivem de escrever, todos vencedores (caso contrário, nem seriam cogitados,
quanto mais contratados). Nem sempre (ou raramente) são remunerados pelas
empresas responsáveis por tais veículos de comunicação. Aceitam colaborar
sobretudo para divulgar seus nomes, com vistas a incrementar a venda de seus
livros.
Normalmente, esses escritores cobram (e
muito caro, caríssimo!) por tudo o que escrevem (e com razão). E, para sua
felicidade (salvo as exceções de sempre), clientes é que não lhes faltam. Pelo
contrário, poderiam ser até em menor número, já que têm que se desdobrar em
cansativas jornadas de 14 horas diárias de produção, se não mais. São raros os
leitores que podem usufruir dos seus textos gratuitamente. É certo que jornais
e revistas têm preço. O leitor paga por eles. Mas o montante despendido não tem
comparação com o custo de algum livro, não importa qual. Ele tem, portanto,
acesso à produção de consagrados escritores quase de graça, além de contar com
outras tantas atrações que tais veículos trazem. O que se estranhas, todavia, é que, os que
podem usufruir dessa geralmente ótima produção literária não a usufruam. Por
que não aproveitar este privilégio? Sim por que não? Eu, como leitor,
aproveito, e muito.
Pregar no deserto cansa! Falar sozinho,
numa movimentada avenida, como um maluco, chateia. Em alguns casos, admito, a
culpa até pode ser nossa. Pergunto agora aos escritores (pergunta que também me
faço milhares de vezes): que tal espantarmos, e rápido, exorcizando-o de vez, o
horrendo e inconveniente “fantasma do silêncio”, fazendo a nossa parte? Como? Produzindo
textos cada vez melhores, que sejam, simultaneamente, atrativos e instrutivos
que, ao mesmo tempo que divirtam, informem, eduquem, induzam as pessoas a
pensar e tornem os leitores melhores?! É um desafio? Sem dúvida! E dos maiores.
É impossível de atingir esse grau de excelência? Não sei! Mas nunca saberemos
se não tentarmos. Tentemos pois!!!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Se ninguém leu, o texto não existiu. Para isso há os contadores de visualização, algumas vezes viciados, mas tem. Os que não se manifestam, pensam. Deverias escrever pelo menos uma frase sobre o que pensaram. Eu faço isso.
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