domingo, 11 de dezembro de 2011







Nietzsche

* Por Stefan George

Escuras nuvens avançam sobre a montanha.
Gélidas tempestades fustigam --- ainda meio outono
meio primavera...Eis a muralha
que encarcerou o Trovejador – era o único
entre os milhares de pó e névoa ao seu redor?
Ali lançou seus últimos relâmpagos rebotos
sobre planícies e cidades extintas.
Transpondo a longa noite para a noite eterna

crassa trota abaixo a massa – não a espantem!
Seria ferir medusa – ceifar erva!
Em instantes espera o silêncio celestial
o animal que o polui com elogios
e se ceva em fumos de mofo sufocando-o,
está prestes ao fim!
E então radiante reinarás através dos tempos
com a coroa ensangüentada como outros guias.

Tu redentor! de todos o mais infeliz –
marcado pelo destino atroz
nunca viste a sede da saudade sorrir?
Criaste deuses para logo despedaçá-los,
nunca uma obra te deu alegria ou alívio?
Aniquilaste em ti próprio o próximo
e ao sentires sua falta na absoluta solidão
soltaste um grito de dor e desespero.

Tarde demais chegou o suplicante para revelar-te:
não existem caminhos sobre cimos nevados
e pássaros apavorados ouviste – na miséria:
exilado no círculo onde o amor inexiste...
E quando a implacável e atormentada voz
soa como canto de louvor em soturnas noites
de luar – assim lamenta-se: devia ter cantado
essa nova alma e a palavra evitado!

* Poeta alemão, do livro "Crepúsculo".

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