sexta-feira, 16 de dezembro de 2011



Confissão

* Por Suzana Vargas

Odiei minha mãe a vida inteira.

E ela percebia isso,
ah, se percebia,

(Olhos atentos
ao desapego da filha.
buscaram sempre outros sóis,
outras paragens
voz de comando evitavam).

Eu,
Bem contrária à brandura preservada
quebrava copos,
repetia quase sempre
o ano nas escolas,
se pudesse,
meu braço descuidava no encontrão.

Sonhava crimes incríveis
e entre facas,
uma vez o assassinato aconteceu.

Ela, que percebia minha ira,
não vai entender os versos
que lhe escrevo agora –
a raiva duplicada –

porque o ódio
se aproxima e muito
da paixão:
agredi-la no crepúsculo
ou na aurora
ainda é meu único modo
de tocá-la.

* Poetisa gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, autora de literatura infantil e ensaísta. Tem 16 livros publicados, entre os quais “Sombras chinesas” , “Caderno de Outono” (indicado ao Prêmio Jabuti) e “O amor é vermelho”.

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