domingo, 11 de dezembro de 2011







Carta ao leitor desta crônica

* Por Rosana Hermann


São mais de onze horas da noite, estou de pijamas em minha casa e acabei de recusar um convite profissional que poderia me render um milhão de dólares. Em outras palavras, já sou velha o suficiente para fazer o que bem entendo mas continuo jovem o bastante para acreditar que há coisas mais importantes do que o dinheiro.

Este mesmo desprendimento que faz com que eu trabalhe sem remuneração em algumas atividades me fortalece na hora de exigir que as pessoas que são pagas façam seu trabalho com o mínimo de competência, coisa que não acontecem em diversos setores, incluindo o jornalismo.

Tenho encontrado estudantes de faculdades de comunicação tão desinformados que me arrepiam até a cartilagem dos artelhos. Um dia, convidada para ser paraninfa de uma turma de formandos de uma faculdade de jornalismo quase tive um colapso. Os discursos eram primários, cheios de erros crassos, sendo que apenas uma aluna conseguiu falar pior do que os professores. Juro pela vida dos meus familiares que ela começou seu discurso no dia em que nasceu e só terminou quando o texto chegou até os dias de hoje. E mais, diante de uma platéia de centenas de pessoas semi-adormecidas e entediadas, ela, totalmente emocionada, não nos privou de falar, inclusive, de como aprendeu a usar o peniquinho. Foi um dos momento mais constrangedores que já presenciei.

Mas o pior é que tenho visto na Internet entre profissionais. Não falo do engano, do erro de digitação, daquele deslize de quem sabe a forma correta e sem querer, faz algo de errado. Falo da ignorância mesmo, aliada à burrice, como no caso de um site muito visitado que publicou a foto de uma apresentadora descendo de um prédio por uma corda, numa cena de um comercial de TV e deu a manchete dizendo que a moça estava fazendo ‘rafting’ na Paulista.

Outro site também sobre famosos não publica fatos mas suposições. Suas manchetes começam com perguntas como ‘factóide?’ ou ‘será?’ e o que segue, bem, são suposições e conjecturas sobre coisas que podem ou não ter acontecido, transformando o que seria uma notícia em uma dúvida aberta sobre celebridades. Já a editora de um canal de fofocas confundiu ‘teaser’ com ‘case’ e explicou que ‘case, no jargão publicitário, é uma forma de pré-apresentar um produto mas sem revelar o que é’.

Não há novidade na incompetência. A gente sabe com é que estas pessoas chegam lá. E, claro, como nada acontece quando ela erra ou acerta ela nem se interessa em melhorar ou aprender. E ainda fica com ódio mortal de quem aponta seu erro.

O que nos resta, então, é isso. Juntar coragem e denunciar, expor os absurdos que encontramos, na esperança de que outras pessoas percebam que o rei está nu. Como diz meu marido, o mínimo que podemos fazer é constranger estas pessoas, jogando luz sobre o ridículo de seus papéis. Como se vê, o peniquinho do discurso da estudante era só um alerta, um prenúncio para o incrível monte de merda que diariamente é atirado nos ventiladores da mídia. Tem dias que eu acho que vai faltar ventilador.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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