O linchamento
* Por Jair Lopes
A palavra linchamento tem origem no EUA e deriva do nome Lynch, o qual tanto pode ser do coronel Charles Lynch que praticava “justiça” com as próprias mãos durante a guerra da independência, como do capitão William Lynch que mantinha um comitê independente encarregado de manter a ordem no condado de Pittsylvania por volta de 1870. De qualquer forma, independente de onde surgiu o nome, o linchamento traduz um ato de “justiça” sumária, em que a população, com ou sem razão, aplica sanções ao acusado de crime. Esses justiçamentos em geral acabam na morte do acusado.
A história registra que em quase todas as culturas existe ou existiram os linchamentos. Parece que tantos mais atos foram praticados, quanto menos aparatado juridicamente o Estado se encontrava. Embora, paradoxalmente, como se percebe pelo registro histórico, tenha sido praticado intensamente nos EUA até 1960 onde é notório um arcabouço jurídico de monta. Lá também, nos EUA, o linchamento foi amplamente usado como terrorismo racial contra negros e a Klu Klux Klan foi notória linchadora, principalmente nos estados do sul. De qualquer forma, o linchamento o mais das vezes é um ato de multidões inflamadas, e, ainda que quase sempre tenha um viés de espontaneidade, muitas vezes é resultado de incitação por parte de líderes naturais.
O que fica claro, seja o linchamento “justo” ou não, é a irreversibilidade do resultado, porquanto na quase totalidade dos casos o ato resulta em morte. Aqui no Brasil, os linchamentos já apresentaram, sobretudo no século XIX, uma conotação diretamente racial, como nos EUA; contudo, sua motivação foi sendo modificada ao longo do tempo. Atualmente, em nosso país, essas ações violentas aparecem, sobretudo, como uma atitude de combate ao crime e à criminalidade. Seguidamente os meios de comunicação nos mostram os horrores de pessoas linchadas em plena rua por motivos até fúteis.
Recentemente em São Paulo, após passar mal, perder o controle do ônibus que dirigia, atingir três carros, três motos e atropelar um homem de 26 anos, o motorista Edmilson dos Reis Alves foi linchado por cerca de 40 pessoas. O linchamento ocorreu por volta das 23h30 de domingo, 27 de novembro, no Jardim Planalto, zona leste de São Paulo.
Também, assim como os meios de comunicação evoluíram, os atos de linchamento pegaram uma carona nesse comboio e mostraram sua cara adaptada às mídias, mas nem por isso menos nociva ou destrutiva. O caso da Escola Base em março de 1994 é um evento típico. Dois alunos de quatro anos deram a entender a seus pais que haviam sido abusados na escola, pelos diretores. Os pais registraram a queixa na delegacia do Cambuci e a imprensa tomou conhecimento. O delegado que assumiu o caso executou as diligências necessárias na escola e mandou as crianças para o IML. Nada foi constatado na escola e tampouco o IML positivou qualquer violação das crianças. Achando que não havia recebido a atenção necessária, a mãe de uma das crianças entrou em contato com a Rede Globo. Naquela mesma noite, o Jornal Nacional noticiava o acontecido. Mesmo com nada realmente comprovado, todos os grandes veículos de São Paulo abraçaram a denúncia e deram manchete sobre o caso. Notícias que resultaram na depredação da escola e também no linchamento moral dos envolvidos. Estava estabelecido um caso de linchamento midiático que resultou na morte cívica de dois cidadãos que, depois se provou cabalmente, eram inocentes.
Com advento da internet e das redes sociais, o linchamento deu mais um salto qualitativo - um upgrade para falar na linguagem da Web - passou a mostrar uma cara eletrônica. Hoje, 16/12/11, a imprensa tradicional e as redes sociais mostraram com detalhes uma mulher maltratando um cãozinho que acabou morrendo. O ato dantesco, filmado por um vizinho, foi feito na frente de sua filhinha de três anos o que aumentou a indignação da comunidade facebuquiana e dos espectadores dos jornais televisivos. Parece que pelo fato de ser um caso em que a vítima maior é um cão, como os demais casos congêneres neste país, não vai dar em nada. Daí então, as comunidades das redes sociais se mobilizaram e instituíram um linchamento cibernético. Publicaram em várias páginas e sites os dados completos, como nome, fotos, endereço, CPF, RG e telefone da perpetradora. Até onde essa exposição poderá afetar a tranquilidade da mulher não se sabe, mas inaugurou-se um linchamento que, ao contrário dos antecessores, não vai eliminar fisicamente ninguém, mas poderá causar a morte virtual da acusada.
Assim considerado, está estabelecido esta modalidade menos letal de linchamento, que aos olhos de pessoas adeptas da não violência deve aparecer até aceitável.
• Escritor
* Por Jair Lopes
A palavra linchamento tem origem no EUA e deriva do nome Lynch, o qual tanto pode ser do coronel Charles Lynch que praticava “justiça” com as próprias mãos durante a guerra da independência, como do capitão William Lynch que mantinha um comitê independente encarregado de manter a ordem no condado de Pittsylvania por volta de 1870. De qualquer forma, independente de onde surgiu o nome, o linchamento traduz um ato de “justiça” sumária, em que a população, com ou sem razão, aplica sanções ao acusado de crime. Esses justiçamentos em geral acabam na morte do acusado.
A história registra que em quase todas as culturas existe ou existiram os linchamentos. Parece que tantos mais atos foram praticados, quanto menos aparatado juridicamente o Estado se encontrava. Embora, paradoxalmente, como se percebe pelo registro histórico, tenha sido praticado intensamente nos EUA até 1960 onde é notório um arcabouço jurídico de monta. Lá também, nos EUA, o linchamento foi amplamente usado como terrorismo racial contra negros e a Klu Klux Klan foi notória linchadora, principalmente nos estados do sul. De qualquer forma, o linchamento o mais das vezes é um ato de multidões inflamadas, e, ainda que quase sempre tenha um viés de espontaneidade, muitas vezes é resultado de incitação por parte de líderes naturais.
O que fica claro, seja o linchamento “justo” ou não, é a irreversibilidade do resultado, porquanto na quase totalidade dos casos o ato resulta em morte. Aqui no Brasil, os linchamentos já apresentaram, sobretudo no século XIX, uma conotação diretamente racial, como nos EUA; contudo, sua motivação foi sendo modificada ao longo do tempo. Atualmente, em nosso país, essas ações violentas aparecem, sobretudo, como uma atitude de combate ao crime e à criminalidade. Seguidamente os meios de comunicação nos mostram os horrores de pessoas linchadas em plena rua por motivos até fúteis.
Recentemente em São Paulo, após passar mal, perder o controle do ônibus que dirigia, atingir três carros, três motos e atropelar um homem de 26 anos, o motorista Edmilson dos Reis Alves foi linchado por cerca de 40 pessoas. O linchamento ocorreu por volta das 23h30 de domingo, 27 de novembro, no Jardim Planalto, zona leste de São Paulo.
Também, assim como os meios de comunicação evoluíram, os atos de linchamento pegaram uma carona nesse comboio e mostraram sua cara adaptada às mídias, mas nem por isso menos nociva ou destrutiva. O caso da Escola Base em março de 1994 é um evento típico. Dois alunos de quatro anos deram a entender a seus pais que haviam sido abusados na escola, pelos diretores. Os pais registraram a queixa na delegacia do Cambuci e a imprensa tomou conhecimento. O delegado que assumiu o caso executou as diligências necessárias na escola e mandou as crianças para o IML. Nada foi constatado na escola e tampouco o IML positivou qualquer violação das crianças. Achando que não havia recebido a atenção necessária, a mãe de uma das crianças entrou em contato com a Rede Globo. Naquela mesma noite, o Jornal Nacional noticiava o acontecido. Mesmo com nada realmente comprovado, todos os grandes veículos de São Paulo abraçaram a denúncia e deram manchete sobre o caso. Notícias que resultaram na depredação da escola e também no linchamento moral dos envolvidos. Estava estabelecido um caso de linchamento midiático que resultou na morte cívica de dois cidadãos que, depois se provou cabalmente, eram inocentes.
Com advento da internet e das redes sociais, o linchamento deu mais um salto qualitativo - um upgrade para falar na linguagem da Web - passou a mostrar uma cara eletrônica. Hoje, 16/12/11, a imprensa tradicional e as redes sociais mostraram com detalhes uma mulher maltratando um cãozinho que acabou morrendo. O ato dantesco, filmado por um vizinho, foi feito na frente de sua filhinha de três anos o que aumentou a indignação da comunidade facebuquiana e dos espectadores dos jornais televisivos. Parece que pelo fato de ser um caso em que a vítima maior é um cão, como os demais casos congêneres neste país, não vai dar em nada. Daí então, as comunidades das redes sociais se mobilizaram e instituíram um linchamento cibernético. Publicaram em várias páginas e sites os dados completos, como nome, fotos, endereço, CPF, RG e telefone da perpetradora. Até onde essa exposição poderá afetar a tranquilidade da mulher não se sabe, mas inaugurou-se um linchamento que, ao contrário dos antecessores, não vai eliminar fisicamente ninguém, mas poderá causar a morte virtual da acusada.
Assim considerado, está estabelecido esta modalidade menos letal de linchamento, que aos olhos de pessoas adeptas da não violência deve aparecer até aceitável.
• Escritor
Recebi alguns convites através do face para publicar o cruel ato e a foto da agressora
ResponderExcluirmas não aceitei nenhum, não sou de dar "moral"
para essas coisas. Essa mulher já está condenada
pelo domínio público.
Fiquei indignada como tantos outros mas mover uma ação fomentando ódio não é comigo.
Abraços