Misteriosa civilização
À simples menção a 2012, boa parte das pessoas, de imediato, associa esse período, o segundo ano da segunda década do século XXI do terceiro milênio da Era Cristã, a um suposto fim do mundo. Praticamente todos os veículos de comunicação, de alguma forma, mencionaram isso. É verdade que nenhum noticiou a sério, como se fosse alguma possibilidade iminente ou mesmo concreta. Alguns citaram essa “profecia” apocalíptica para ridicularizar a idéia, acompanhada de brincadeiras de toda a sorte a respeito. Outros fizeram-no somente a título de informação, de que a versão existe e circula mundo afora.
Para que o assunto ganhasse projeção, a bem da verdade, muito contribuiu o filme catástrofe, dirigido por Roland Emmerich, estrelado por John Kusack, Chiwetel Ejiofor, Amanda Peet, Oliver Platt, Danny Glover, Thandie Newton e Woody Harrelson, que tem justamente esse título: “2012”. Não tardaram a aparecer teorias para justificar essa remotíssima possibilidade (tudo é possível nesse universo de dimensões inconcebíveis, talvez infinitas, com tantas e tamanhas misteriosas forças atuando). A mais popular delas é uma hipotética profecia maia, interpretada de acordo com o gosto e a fantasia de quem a menciona.
A pergunta que há bom tempo ouço por aí, sempre que se menciona essa remotíssima possibilidade do mundo se acabar em 2012 (reitero que, embora não acredite em absoluto que isso irá acontecer, sempre é possível que eu e todos os demais céticos estejamos equivocados), é quem foi esse povo ao qual tanta gente dá tamanho crédito? Quando e onde viveu? O que lhe aconteceu para de uma das mais espantosas civilizações do passado, regredir tanto ao ponto de hoje vegetar em meras e miseráveis comunidades, sumamente carentes, que habitam parte do México e de alguns países da América Central?
Tudo o que se refira aos maias está revestido de inegável mistério, de dezenas e dezenas de questionamentos, de dúvidas e de espanto. Qual a sua origem, por exemplo? Há quem assegure que eles seriam remanescentes do suposto continente perdido, a Atlântida, engolido pelo mar em uma hecatombe talvez sem precedentes na Terra, que teria ocorrido entre 12.000 e 10.000 AC (e que minha intuição, embora sem nenhuma base em provas ou evidências, me cochicha ao ouvido que existiu mesmo e que foi avançadíssima em todos os sentidos). Alguns historiadores, no entanto, acreditam que os maias tenham sido uma ramificação da cultura olmeca que povoou a região entre os anos de 500 AC e 1.150 DC. Outros, ainda, asseguram que sua origem foi muito anterior a esse período. Situam seu apogeu entre 1.500 e 150 AC.
Tanta controvérsia e espanto sobre a origem, ou provavelmente mais, desperta, nos estudiosos, a forma como esse poderoso e florescente império se desagregou. Ao contrário do que ocorreu com os aztecas e os incas, os maias não foram conquistados por ninguém. Sua magnífica civilização simplesmente se dissolveu. Lá um belo dia, sem mais e nem menos, a população de suas cidades as abandonou, intactas, sem sinal de luta ou de qualquer tipo de violência, com os campos arados e semeados (mas jamais colhidos). O que aconteceu? Alguma epidemia? Dissensões políticas? Catástrofe climática? Todas estas, e muitas outras hipóteses têm sido levantadas, sem que haja a mais remota comprovação de nenhuma.
Num ponto, todavia, todos os estudiosos, historiadores, antropólogos, arqueólogos e demais pesquisadores concordam: a civilização maia foi uma das mais espetaculares e assombrosas de todas que já existiram não apenas no chamado Novo Mundo (que a rigor nem é tão novo assim), quanto em qualquer outro lugar do Planeta. Estão aí as cidades que deixaram, relativamente modernas até para os padrões atuais, com suas praças monumentais e seus templos, primores de engenharia. Está aí seu calendário, o mais exato já feito até hoje, tanto ou mais do que o atômico.
Em épocas tão remotas, quando muitos povos mal saíam das cavernas primitivas, o império maia já era dotado de recursos que o restante da humanidade viria a desenvolver, apenas, séculos, quando não milênios depois. Embora os pesquisadores assinalem que seu apogeu se verificou na Era Cristã, há comprovações arqueológicas de que por volta de 1.500 AC –quando no Norte da África e no Oriente Médio Egito e Babilônia constituíam-se em superpotências mundiais e rivalizavam em esplendor e poder – esse povo já se organizara num vasto império que abrangia boa parte do México atual e dos cinco países que formam a América Central. Isso, cerca de 600 anos antes da fundação da cidade de Jerusalém. Ou quase 800 anos antes de Roma ser edificada.
Suas obras, como ressaltei, sobreviveram ao tempo e ao desgaste natural que este causa e estão aí, a comprovar seu talento e sua pujança. Outras civilizações pré-colombianas rivalizaram com o império maia, depois que este se dissolveu, mas nenhuma o superou. Um desses casos foi o dos aztecas, conquistados pelo espanhol Fernão Cortez. Outro, foi o dos incas, na América do Sul, que em seu apogeu controlou parte considerável do continente que se estendia do atual Equador ao extremo Sul do Chile, com população estimada em até oito milhões de habitantes (uma exorbitância na época).
Os historiadores sabem, e nos mínimos detalhes, como se deu o declínio e a extinção dessas duas civilizações, embora as circunstâncias da sua conquista não deixem de ser intrigantes. O mesmo já não se pode dizer em relação aos maias. Por que seus habitantes abandonaram suas casas, seus campos, suas cidades, seus magníficos templos, deixando para trás todos os seus bens?
O mistério, talvez, possa, um dia, ser desvendado caso alguém consiga decifrar as inscrições que seus habitantes deixaram. Por enquanto, a chave dessa decifração continua desafiando os pesquisadores. Ainda não apareceu um Champolion contemporâneo que encontrasse uma “Pedra de Roseta” para lançar luz sobre essa bem elaborada escrita.
No caso dos maias, cabe a caráter a observação feita pelo escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, a respeito da totalidade da população latino-americana: “Nessas nossas terras onde se misturam todas as culturas e todas as idades humanas, a diversidade de vozes parece infinita”. Não só parece. Na verdade, é.
Mas nenhuma dessas vozes lançou ínfima réstia de luz sobre o que levou à desagregação desse que foi dos mais notáveis e florescentes impérios que já existiram no passado. Qual o tipo de tragédia que pôs fim ao império dos maias? Estão aí, a desafiar nossa curiosidade e nossa competência de hábeis investigadores, pistas e mais pistas, representadas por quase intactas, cidades, como Tikal, Uaxactum, Bonampak, Palenque, Copán e Chichén Itzá, entre outras.
Boa leitura.
O Editor.
À simples menção a 2012, boa parte das pessoas, de imediato, associa esse período, o segundo ano da segunda década do século XXI do terceiro milênio da Era Cristã, a um suposto fim do mundo. Praticamente todos os veículos de comunicação, de alguma forma, mencionaram isso. É verdade que nenhum noticiou a sério, como se fosse alguma possibilidade iminente ou mesmo concreta. Alguns citaram essa “profecia” apocalíptica para ridicularizar a idéia, acompanhada de brincadeiras de toda a sorte a respeito. Outros fizeram-no somente a título de informação, de que a versão existe e circula mundo afora.
Para que o assunto ganhasse projeção, a bem da verdade, muito contribuiu o filme catástrofe, dirigido por Roland Emmerich, estrelado por John Kusack, Chiwetel Ejiofor, Amanda Peet, Oliver Platt, Danny Glover, Thandie Newton e Woody Harrelson, que tem justamente esse título: “2012”. Não tardaram a aparecer teorias para justificar essa remotíssima possibilidade (tudo é possível nesse universo de dimensões inconcebíveis, talvez infinitas, com tantas e tamanhas misteriosas forças atuando). A mais popular delas é uma hipotética profecia maia, interpretada de acordo com o gosto e a fantasia de quem a menciona.
A pergunta que há bom tempo ouço por aí, sempre que se menciona essa remotíssima possibilidade do mundo se acabar em 2012 (reitero que, embora não acredite em absoluto que isso irá acontecer, sempre é possível que eu e todos os demais céticos estejamos equivocados), é quem foi esse povo ao qual tanta gente dá tamanho crédito? Quando e onde viveu? O que lhe aconteceu para de uma das mais espantosas civilizações do passado, regredir tanto ao ponto de hoje vegetar em meras e miseráveis comunidades, sumamente carentes, que habitam parte do México e de alguns países da América Central?
Tudo o que se refira aos maias está revestido de inegável mistério, de dezenas e dezenas de questionamentos, de dúvidas e de espanto. Qual a sua origem, por exemplo? Há quem assegure que eles seriam remanescentes do suposto continente perdido, a Atlântida, engolido pelo mar em uma hecatombe talvez sem precedentes na Terra, que teria ocorrido entre 12.000 e 10.000 AC (e que minha intuição, embora sem nenhuma base em provas ou evidências, me cochicha ao ouvido que existiu mesmo e que foi avançadíssima em todos os sentidos). Alguns historiadores, no entanto, acreditam que os maias tenham sido uma ramificação da cultura olmeca que povoou a região entre os anos de 500 AC e 1.150 DC. Outros, ainda, asseguram que sua origem foi muito anterior a esse período. Situam seu apogeu entre 1.500 e 150 AC.
Tanta controvérsia e espanto sobre a origem, ou provavelmente mais, desperta, nos estudiosos, a forma como esse poderoso e florescente império se desagregou. Ao contrário do que ocorreu com os aztecas e os incas, os maias não foram conquistados por ninguém. Sua magnífica civilização simplesmente se dissolveu. Lá um belo dia, sem mais e nem menos, a população de suas cidades as abandonou, intactas, sem sinal de luta ou de qualquer tipo de violência, com os campos arados e semeados (mas jamais colhidos). O que aconteceu? Alguma epidemia? Dissensões políticas? Catástrofe climática? Todas estas, e muitas outras hipóteses têm sido levantadas, sem que haja a mais remota comprovação de nenhuma.
Num ponto, todavia, todos os estudiosos, historiadores, antropólogos, arqueólogos e demais pesquisadores concordam: a civilização maia foi uma das mais espetaculares e assombrosas de todas que já existiram não apenas no chamado Novo Mundo (que a rigor nem é tão novo assim), quanto em qualquer outro lugar do Planeta. Estão aí as cidades que deixaram, relativamente modernas até para os padrões atuais, com suas praças monumentais e seus templos, primores de engenharia. Está aí seu calendário, o mais exato já feito até hoje, tanto ou mais do que o atômico.
Em épocas tão remotas, quando muitos povos mal saíam das cavernas primitivas, o império maia já era dotado de recursos que o restante da humanidade viria a desenvolver, apenas, séculos, quando não milênios depois. Embora os pesquisadores assinalem que seu apogeu se verificou na Era Cristã, há comprovações arqueológicas de que por volta de 1.500 AC –quando no Norte da África e no Oriente Médio Egito e Babilônia constituíam-se em superpotências mundiais e rivalizavam em esplendor e poder – esse povo já se organizara num vasto império que abrangia boa parte do México atual e dos cinco países que formam a América Central. Isso, cerca de 600 anos antes da fundação da cidade de Jerusalém. Ou quase 800 anos antes de Roma ser edificada.
Suas obras, como ressaltei, sobreviveram ao tempo e ao desgaste natural que este causa e estão aí, a comprovar seu talento e sua pujança. Outras civilizações pré-colombianas rivalizaram com o império maia, depois que este se dissolveu, mas nenhuma o superou. Um desses casos foi o dos aztecas, conquistados pelo espanhol Fernão Cortez. Outro, foi o dos incas, na América do Sul, que em seu apogeu controlou parte considerável do continente que se estendia do atual Equador ao extremo Sul do Chile, com população estimada em até oito milhões de habitantes (uma exorbitância na época).
Os historiadores sabem, e nos mínimos detalhes, como se deu o declínio e a extinção dessas duas civilizações, embora as circunstâncias da sua conquista não deixem de ser intrigantes. O mesmo já não se pode dizer em relação aos maias. Por que seus habitantes abandonaram suas casas, seus campos, suas cidades, seus magníficos templos, deixando para trás todos os seus bens?
O mistério, talvez, possa, um dia, ser desvendado caso alguém consiga decifrar as inscrições que seus habitantes deixaram. Por enquanto, a chave dessa decifração continua desafiando os pesquisadores. Ainda não apareceu um Champolion contemporâneo que encontrasse uma “Pedra de Roseta” para lançar luz sobre essa bem elaborada escrita.
No caso dos maias, cabe a caráter a observação feita pelo escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, a respeito da totalidade da população latino-americana: “Nessas nossas terras onde se misturam todas as culturas e todas as idades humanas, a diversidade de vozes parece infinita”. Não só parece. Na verdade, é.
Mas nenhuma dessas vozes lançou ínfima réstia de luz sobre o que levou à desagregação desse que foi dos mais notáveis e florescentes impérios que já existiram no passado. Qual o tipo de tragédia que pôs fim ao império dos maias? Estão aí, a desafiar nossa curiosidade e nossa competência de hábeis investigadores, pistas e mais pistas, representadas por quase intactas, cidades, como Tikal, Uaxactum, Bonampak, Palenque, Copán e Chichén Itzá, entre outras.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Desconhecia que o final desse povo tinha sido assim.Editorial útil e instrutivo.
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