Seita exótica
* Por Jair Lopes
* Por Jair Lopes
A gente ouve falar de comportamentos estranhos ligados, muitas vezes, à fé ou a crenças, como aquelas pessoas que se deixam crucificar nas Filipinas, por exemplo. Alguns indivíduos que se auto infligem açoitamento numa espécie tortura para expiação por supostos pecados, e outras excentricidades menos ou mais chocantes para nossa cultura judaico-cristã. Se observarmos com mais atenção, verificamos que a Índia, ocupada com centenas de culturas, religiões e idiomas distintos, é o país onde mais se pode encontrar esses comportamentos exóticos.
Assim, encontrei em livro a descrição de uma “seita” que me pareceu a mais estranha que tomei conhecimento: “Os Babas de pé”. Esses tais Babas de pé são homens que fizeram votos de nunca mais sentar ou deitar. Ficam de pé dia e noite até o fim de suas cansativas e atormentadas vidas. Rezam, cantam e trabalham de pé. Até dormem de pé, suspensos por arreios que os mantém apoiados nos pés sem, contudo, caírem quando ficam inconscientes.
Nos primeiros cinco ou dez anos nessa posição, suas pernas incham. O sangue circula lentamente pelas veias exaustas e os músculos engrossam. As pernas ficam imensas, inchadas a ponto de não ter mais um formato identificável, e se cobrem de furúnculos varicosos de cor púrpura, dá impressão que estão atacados de elefantíase. Os dedos se tornam grossos e carnudos como salsichas. Nos anos seguintes, aos poucos, as pernas se tornam mais e mais delgadas. Com o tempo, sobram apenas os ossos cobertos com uma fina camada de pele e as marcas das veias ressecadas.
A dor é terrível e onipresente. Espinhos de agonia atravessam os pés a cada passo. Atormentados, torturados, os Babas de pé nunca param. Mudam constantemente de posição, de um pé para outro, em uma dança oscilante e suave que para quem vê é tão fascinante como uma dança de sete véus.
Alguns dos Babas fizeram seus votos ainda muito novos, com dezesseis ou dezessete anos de idade. Parece que são “convocados” por algo semelhante à vocação que em outras culturas leva pessoas a se internarem em conventos, a se tornarem padres, rabinos ou imanes. Um número maior, compostos de homens mais velhos, renunciou ao mundo como preparação para a morte e próximo nível de encarnação. Não são poucos os Babas que foram empresários, homens bem sucedidos nos negócios, que tiveram uma vida pregressa desregrada em busca do prazer mundano. Outros foram homens santos que passaram por outros credos, e dominado outros sacrifícios punitivos antes de fazer o voto final dos Babas de pé. Há também criminosos – ladrões, assassinos, chefões da bandidagem e até mesmo comandantes militares com passados condenáveis – que procuram perdão ou expiação nas infinitas agonias do extravagante voto.
Segundo um observador, o sofrimento dos Babas torna seus rostos radiantes como rostos de santos, de seres que encontraram alguma verdade que foge ao conhecimento comum. Cedo ou tarde, no meio de uma dor que não pára de crescer, cada Baba assume um ar de beatitude luminosa e transcendente. A luz produzida pelas agonias que sofrem, jorra de seus olhos, seus rostos são fontes humanas de reluzentes sorrisos torturados. E aqui vem uma possível explicação para esse fenômeno luminoso num rosto que deveria apresentar um esgar de tortura inominável: os Babas passam noite e dia, a vida inteira, fumando haxixe. Voluntariamente, aceitam a tortura de uma vida ereta, mas mergulham na letargia de um estado de consciência alterado em virtude da droga. Para finalizar, nenhum Baba consegue tornar-se longevo, suas vidas são abreviadas muito antes da média dos demais indianos. Obviamente a combinação de drogas com uma existência sempre em posição ereta é potencialmente letal (prá não dizer imbecil), e ser humano algum jamais deveria optar por experiência tão radical.
• Escritor
Assim, encontrei em livro a descrição de uma “seita” que me pareceu a mais estranha que tomei conhecimento: “Os Babas de pé”. Esses tais Babas de pé são homens que fizeram votos de nunca mais sentar ou deitar. Ficam de pé dia e noite até o fim de suas cansativas e atormentadas vidas. Rezam, cantam e trabalham de pé. Até dormem de pé, suspensos por arreios que os mantém apoiados nos pés sem, contudo, caírem quando ficam inconscientes.
Nos primeiros cinco ou dez anos nessa posição, suas pernas incham. O sangue circula lentamente pelas veias exaustas e os músculos engrossam. As pernas ficam imensas, inchadas a ponto de não ter mais um formato identificável, e se cobrem de furúnculos varicosos de cor púrpura, dá impressão que estão atacados de elefantíase. Os dedos se tornam grossos e carnudos como salsichas. Nos anos seguintes, aos poucos, as pernas se tornam mais e mais delgadas. Com o tempo, sobram apenas os ossos cobertos com uma fina camada de pele e as marcas das veias ressecadas.
A dor é terrível e onipresente. Espinhos de agonia atravessam os pés a cada passo. Atormentados, torturados, os Babas de pé nunca param. Mudam constantemente de posição, de um pé para outro, em uma dança oscilante e suave que para quem vê é tão fascinante como uma dança de sete véus.
Alguns dos Babas fizeram seus votos ainda muito novos, com dezesseis ou dezessete anos de idade. Parece que são “convocados” por algo semelhante à vocação que em outras culturas leva pessoas a se internarem em conventos, a se tornarem padres, rabinos ou imanes. Um número maior, compostos de homens mais velhos, renunciou ao mundo como preparação para a morte e próximo nível de encarnação. Não são poucos os Babas que foram empresários, homens bem sucedidos nos negócios, que tiveram uma vida pregressa desregrada em busca do prazer mundano. Outros foram homens santos que passaram por outros credos, e dominado outros sacrifícios punitivos antes de fazer o voto final dos Babas de pé. Há também criminosos – ladrões, assassinos, chefões da bandidagem e até mesmo comandantes militares com passados condenáveis – que procuram perdão ou expiação nas infinitas agonias do extravagante voto.
Segundo um observador, o sofrimento dos Babas torna seus rostos radiantes como rostos de santos, de seres que encontraram alguma verdade que foge ao conhecimento comum. Cedo ou tarde, no meio de uma dor que não pára de crescer, cada Baba assume um ar de beatitude luminosa e transcendente. A luz produzida pelas agonias que sofrem, jorra de seus olhos, seus rostos são fontes humanas de reluzentes sorrisos torturados. E aqui vem uma possível explicação para esse fenômeno luminoso num rosto que deveria apresentar um esgar de tortura inominável: os Babas passam noite e dia, a vida inteira, fumando haxixe. Voluntariamente, aceitam a tortura de uma vida ereta, mas mergulham na letargia de um estado de consciência alterado em virtude da droga. Para finalizar, nenhum Baba consegue tornar-se longevo, suas vidas são abreviadas muito antes da média dos demais indianos. Obviamente a combinação de drogas com uma existência sempre em posição ereta é potencialmente letal (prá não dizer imbecil), e ser humano algum jamais deveria optar por experiência tão radical.
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