Ainda Alice
**Por Evelyne Furtado
Mudou móveis de lugar. Separou para doação o que era para doar. Desfez-se do que a ninguém serviria. Rasgou papéis, fotos e lembranças sem mais serventia. Correu à pilha de roupas e retirou uma saia que lá não deveria estar. Aliviada, correu à cozinha. A água estava prestes a ferver. Passar café. Doces goles para dentro aquecer.
Na cabeça uma luta entre os assuntos para não pensar. Roupa de cama nova. Nem dava para contar os fios. Lençóis macios. Um banho demorado. Cheiro bom na casa e no corpo. Um arrepio de perda ao se despedir do que não deveria mais ver ou sentir. Com a toalha envolvendo os cabelos volta à mesa e pensa se não seria mais apropriado tomar uma chávena de chá. Com aquele calor nem café, concluiu.
Mas a outra xícara não resistiu. Levou-a consigo enquanto caminhava até a porta. Na parede todas as fotos que não conseguira rasgar. Na gaveta da mesinha achou o que estava a procurar. Deixou a xícara e segurou uma placa de madeira nas mãos.
Com o peito pesado, mas com a certeza de que naquele momento não dava para atrás retornar, fez um careta que lembrou um quadro de Dali. Na hora “h” deu alguns passos de costas, tropeçou e caiu no sofá. Aproveitou para voltar a sonhar. Com um sorriso no rosto era ela de novo. Naquela tarde quase pregou na porta, pelo lado de fora, uma tabuleta com os dizeres: Alice não mora mais aqui*.
* Título de filme da década de 70.
** Poetisa e cronista de Natal/RN
**Por Evelyne Furtado
Mudou móveis de lugar. Separou para doação o que era para doar. Desfez-se do que a ninguém serviria. Rasgou papéis, fotos e lembranças sem mais serventia. Correu à pilha de roupas e retirou uma saia que lá não deveria estar. Aliviada, correu à cozinha. A água estava prestes a ferver. Passar café. Doces goles para dentro aquecer.
Na cabeça uma luta entre os assuntos para não pensar. Roupa de cama nova. Nem dava para contar os fios. Lençóis macios. Um banho demorado. Cheiro bom na casa e no corpo. Um arrepio de perda ao se despedir do que não deveria mais ver ou sentir. Com a toalha envolvendo os cabelos volta à mesa e pensa se não seria mais apropriado tomar uma chávena de chá. Com aquele calor nem café, concluiu.
Mas a outra xícara não resistiu. Levou-a consigo enquanto caminhava até a porta. Na parede todas as fotos que não conseguira rasgar. Na gaveta da mesinha achou o que estava a procurar. Deixou a xícara e segurou uma placa de madeira nas mãos.
Com o peito pesado, mas com a certeza de que naquele momento não dava para atrás retornar, fez um careta que lembrou um quadro de Dali. Na hora “h” deu alguns passos de costas, tropeçou e caiu no sofá. Aproveitou para voltar a sonhar. Com um sorriso no rosto era ela de novo. Naquela tarde quase pregou na porta, pelo lado de fora, uma tabuleta com os dizeres: Alice não mora mais aqui*.
* Título de filme da década de 70.
** Poetisa e cronista de Natal/RN
Texto rico de imagens e sentidos, muito condizente com esta época do ano - de retrospectivas, perspectivas, mudanças que vingaram e outras que permanecem eternamente nos planos. Boa sorte pra Alice. E parabéns pra Evelyne.
ResponderExcluirHora de listar os feitos e mal-feitos e programar uma nova vida. Alice está conseguindo, e Evelyne, você também.
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