domingo, 18 de dezembro de 2011







Os homens ocos

* Por Thomas Stearns Eliot

I

Nós somos os homens ocos,
nós somos homens empalhados
apoiados uns aos outros
a cabeça cheia de palha. Ai de nós!
Nossas vozes rouquenhas, quando sussurramos juntos,
são suaves e não têm sentido
como o vento na relva seca
ou os pés dos ratos que passam sobre o vidro quebrado
na nossa adega vazia.
Feio sem forma, sombra sem cor,
força paralisada, gesto sem movimento;
os que já cruzaram
com o olhar para a frente, o outro reino da morte
recordam-se de nós – se é que assim seja –
não como almas perdidas, exaltadas, mas simplesmente
como homens ocos
homens empalhados

II

Olhos, não ouso fitá-los nos sonhos
no reino do sonho da morte
estes não aparecem;
os olhos são a luz solar
numa coluna partida
ali está uma árvore que balouça
e há vozes na canção do vento
mais distantes e mais solenes
que uma estrela que se apaga.
Que eu não mais me aproxime
do reino do sonho da morte
que use disfarces
pêlo de rato, pele de corvo, sarrafos cruzados
num campo
fazendo o que o vento faz
e não mais –
não aquele encontro final
na região crepuscular.

III

Esta é a terra morta
esta é a terra do cacto
aqui as imagens de pedra
são erguidas, aqui elas recebem
a súplica da mão de um morto
sob a cintilação de uma estrela que se apaga
é assim
no outro reino da morte
despertar a sós
no instante em que estamos
tremendo de ternura
lábios que beijariam
até a laje partida.

IV

Os olhos não estão aqui
não há olhos aqui
neste vale de estrelas moribundas
neste vale oco
esta garganta partida dos nossos reinos perdidos.
Neste último reduto de encontros
nós nos agrupamos
e evitamos falar
reunidos nessa praia de rio cheio
sem vista, a não ser
que os olhos desapareçam
como a estrela perpétua
rosa multifoliada
a única esperança
do reino do crepúsculo da morte
dos homens ocos.

V

Aqui vamos andando à roda da pêra silvestre
pêra silvestre, pêra silvestre,
aqui vamos andando à roda da pêra silvestre
às cinco horas da manhã
entre a idéia e a realidade,
entre o gesto
e o ato
desce a Sombra
pois o reino é teu.
Entre a concepção e a criação,
entre a emoção
e a resposta
desce a Sombra
a vida é muito longa
entre o desejo
e o espasmo
entre a força
e a existência,
entre a essência
e a descendência
desce a Sombra.
Pois o reino é teu,
pois tua é
a vida é
pois tua é
é assim que acaba o mundo
é assim que acaba o mundo
é assim que acaba o mundo
não com um estrondo, mas com um gemido.

(Tradução de Bezerra de Freitas).


• Poeta norte-americano, naturalizado inglês, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura

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