quinta-feira, 29 de dezembro de 2011



Antevisão do futuro

O homem, desde tempos imemoriais, remotíssimos, provavelmente desde que tomou consciência de si e de tudo o que o rodeia, sempre teve um desejo recorrente – que, pessoalmente, considero impossível – que é o de avançar no tempo e prever o que “irá” acontecer no futuro. Mas como, se ninguém sabe sequer se na hora seguinte estará vivo? Achar que isso seja possível é pensar que os fatos, todos os fatos, têm sequência lógica. É não levar em consideração o fator “acaso”. É entender que tudo já está predeterminado e que, para saber o que irá acontecer dentro de uma hora, ou uma semana, ou um mês, um ano, um século, um milênio, basta ter um dom especial para captar do nada esta antevisão.

Que me perdoem os crédulos, mas considero essa crença ridícula. Nem mesmo sei se, caso houvesse essa possibilidade, ela seria benigna e até mesmo útil. Como você se sentiria se soubesse de forma antecipada que no final deste dia, por exemplo, sofreria um grave acidente? “Ah, se soubesse, poderia me prevenir”, dirá o sujeito crédulo, para justificar sua pretensão, julgando que aquilo que afirmo é o maior dos disparates. Mas... poderia?

Raciocinem comigo. Se pudesse (ou se puder), não estaria fazendo nenhuma previsão, e muito menos uma profecia. Detectaria, apenas, um “perigo” potencial (o que nem mesmo requer que se tenha um dom especial para se saber, basta contar com bom senso).

Qualquer pessoa minimamente sensata sabe, por mais burra que seja, que se pular de uma ponte para o abismo, sem nada que o antepare, irá se esborrachar no chão. Ou que, se puser a mão no fogo, sofrerá graves queimaduras. E vai por aí afora. Para que isso se tratasse mesmo de uma previsão, e não apenas de um temor ou de algo ditado pela experiência, teria que acontecer exatamente como previsto. Ou seja, teria que ser inevitável. E, neste caso, o sujeito sofreria duas vezes: ao prever o acidente do qual não poderia escapar e tão logo este ocorresse. Portanto, é muito bom que não se possa saber antes o que irá ocorrer mais adiante.

Coisas diferentes (mas não muito) são as extrapolações. Mesmo estas, vêm acompanhadas de uma série de condições, de muitos “ses”. Se porventura você tiver dados rigorosamente exatos em mãos, poderá, em determinadas circunstâncias (e exclusivamente naquelas), “prever”, com razoável margem potencial de acerto, que irá ocorrer um resultado “x”. Isto “se”... Se nenhum fator for alterado, por exemplo. Ou se os dados estiverem mesmo rigorosamente corretos. Ou se as circunstâncias forem as adequadas, e vai por aí afora.

Todo este longuíssimo preâmbulo tem por finalidade introduzir um assunto que pretendo tratar com você, paciente leitor, com a maior objetividade que meus conhecimentos (que sequer são além da média) permitem, nos próximos dias. Refere-se a uma suposta “profecia maia” que preveria o fim do mundo (no caso, do planeta Terra) em 2012. Alguns, na hipotética interpretação do que os gurus dessa outrora notável civilização norte e centro-americana “teriam previsto”, chegam ao requinte de fixar até data exata para que isto ocorra: 21 de dezembro de 2012. Só faltou marcarem o horário para isso.

Existe a possibilidade do mundo acabar? Existe! Não especificamente nesta data. Isto pode ocorrer tanto hoje, quanto em alguns milhões ou bilhões de anos. E o que me dá a certeza dessa possibilidade de extinção? A lógica. Todos os dias competentes e esforçados astrônomos observam explosões de estrelas, ocorridas há milhões, quiçá bilhões de anos e que, dada a inconcebivelmente imensa dimensão do universo, só agora a visão desses cataclísmicos acontecimentos é detectada por seus cada vez mais potentes telescópios, mesmo com a luz percorrendo 300 mil quilômetros por segundo.

Ora, se isso ocorre alhures, com tamanha freqüência e há tanto tempo, por que o nosso sol – e, por conseqüência, seu séquito de planetas – escaparia desse destino? Não escapará. Só que ninguém pode prever quando isso irá ocorrer. E muito menos com exatidão. Isso é para lá de ilógico. Se essa suposta profecia, por um desses absurdíssimos acasos, se confirmar, ninguém irá criticar, claro, estas minhas sensatas contestações, pois não restarão nada e ninguém para tal. Muitíssimo menos existirá este texto. A possibilidade concreta disso ocorrer, todavia, beira ao zero absoluto.

Há uma corrente, no entanto, que esposa a tese de que os maias não previram exatamente o fim do mundo, mas apenas o término de um ciclo e o início de um novo. Acessando o blog “Porque 2012”, leio a seguinte explicação sobre a versão catastrófica da suposta previsão: “Segundo a cosmologia Maia, o Planeta Terra possui 5 grandes ciclos ou eras, cada um com cerca de 5.125 anos. Para eles, 4 já passaram. ‘Os 4 ciclos anteriores terminaram em destruição. A profecia maia do juízo final refere-se ao último dia do 5º ciclo, ou seja, 21 de dezembro de 2012’ diz Steven Alten”, escritor norte-americano de ficção científica.

E o texto do referido blog prossegue: “O quinto e atual ciclo também terminará em destruição? O que irá desencadeá-la? A resposta pode estar em um raro fenômeno cósmico que os maias previram há mais de 2.000 anos. ‘A profecia maia para 2012 baseia-se em um alinhamento astronômico. Em dezembro de 2012, o sol do solstício vai se alinhar com o centro de nossa galáxia. É um raro alinhamento cósmico. Acontece uma vez a cada 26.000 anos’ diz John Major Jenkins, autor do livro Maya Cosmogenese 2012”
.
E o texto do blog conclui a explicação desta forma: “A cada 26.000 anos o sol se alinha com o centro da Via Láctea. Ao mesmo tempo ocorre outro raro fenômeno astrológico, uma mudança do eixo da terra em relação à esfera celeste. O fenômeno se chama Precessão. A data exata disto tudo é 21 de dezembro de 2012. ‘A Terra oscila lentamente sobre seu eixo mudando nossa orientação angular em relação a galáxia. Uma precessão completa leva 26.000 anos’" . E bla-bla-blá, bla-bla-blá. Você crê nisso tudo? Eu não!

As coisas vão acontecer dessa forma? E, especificamente, em 21 de dezembro de 2012? Ouso afirmar que não. A “tese” bem que se presta a uma boa história de ficção científica, mas só a isso. Como ciência, todavia, não se sustenta. E quem foram, afinal, esses maias para que suas profecias (se é que as fizeram de fato) ganhem tanta credibilidade e sejam levadas a sério? Sobre isso, e outras considerações, convido-os a refletirem comigo nos próximos dias.

Boa leitura.

O Editor.



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3 comentários:

  1. Estou ainda curtindo o famoso frevo do mestre Capiba, Trombone de prata: “Ouvi dizer que o mundo vai-se acabar,/ Que tudo vai pra cucuia,/ O sol não mais brilhará./ Mas se me derem/ Um bombo e uma mulata,/ E um trombone de prata,/ O frevo bom viverá....”, rsrs
    Fora de brincadeira, gostei do editorial!
    Abração, Pedro!

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  2. Vejo esses urubus decretando o nosso fim como
    se na vez deles pudessem ser poupados...
    Se o mundo vai acabar ou não e quando a mim
    pouco importa, enquanto o futuro estiver
    logo ali, sigo com esperança de dias melhores.
    Meus sonhos não tem prazo de validade.
    Abração Pedro

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  3. Não acredito, mas durante a leitura, mesmo concordando com o impossível, senti um certo temor. Bobagem pura, pois meus infernos são bem mais concretos do que tudo isso.

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