Podre, cai a República Velha
** Por Marco Albertim
A Revolução de 30 em Pernambuco estoura na madrugada de 4 de outubro, pouco menos de 24 horas depois de pipocar no Rio Grande do Sul. Os rebeldes, com o apoio de populares, incluindo operários, tomam o Quartel da Soledade. Pasmos, arrebatados, apossam-se de “quatro mil fuzis novos, dois mil usados, metralhadoras pesadas e fuzis-metralhadoras, três caixas com granadas de mão, duas máquinas de carregar, revólveres e enorme quantidade de munição.”* Tomam parte os operários da Linha azul – usam o uniforme azul da Pernambuco Tramways.
Engrossam o levante os militares do 21º Batalhão de Caçadores, afora as adesões dos Tiros de Guerra 303 e 333. O desempenho dos comunistas chama a atenção do interventor Carlos de Lima Cavalcanti, que chama Cristiano Cordeiro para assumir a função de redator-secretário do Diário da Manhã, jornal do governo. Nas barricadas, pontificam os dirigentes comunistas Caetano Machado, Mota Cabral e Cristiano Marques. O flerte pouco duraria, porquanto a 6 de dezembro seguinte estoura a greve geral dos padeiros; à frente, José Caetano Machado. Os padeiros exigem jornada de oito horas diárias. O coronel Muniz de Farias, que comandara operários, inclusive padeiros, na tomada do Quartel da Soledade, reprime sem hesitação a greve.
Cordeiro não tivera lugar nas barricadas; cronistas o consideram teórico tão somente. A seu lado, Pedro Elói Pereira Calado; fora preso em 1925, e encabeçará o Levante de 1931.
Estácio Coimbra, então governador, foge com assessores e chefes militares a bordo de embarcações nos fundos do Palácio do Governo. É domingo, 5 de outubro. A Chefatura de Polícia é ocupada. Militares e civis ali presos são soltos e recebem armas para combater os legalistas. O Quartel do Dérbi se rende no começo da tarde do mesmo dia. Segue-se a capitulação do Regimento de Cavalaria. Carlos de Lima Cavalcanti toma posse como governador.
No mesmo dia, a Casa de Detenção do Recife é cercada. Os manifestantes querem linchar João Dantas, ali preso. Dantas é suspeito de ter assassinado João Pessoa, cogitado a vice-presidente na chapa com o gaúcho Getúlio Vargas, para suceder os governos da República Velha.
À tarde, Dantas e Augusto Caldas, seu cunhado, são encontrados mortos na cela. A versão oficial dá conta de que Caldas fora estrangulado, via carótida, por um bisturi empunhado por Dantas. Lençóis, fronhas e travesseiros são queimados. Moreira Caldas, irmão do cunhado de Dantas, não crê na versão oficial.
Carlos de Lima mantém-se no governo até l937. É um dos donos da Usina Pedrosa, e dos jornais Diário da Manhã e Diário da Tarde. O desemprego é agravado com a Lei dos 2/3, que assegura o monopólio do comércio e da indústria aos portugueses. O Mata-mata-marinheiro ressurge; padarias, pastelarias e botequins são objetos de quebra-quebra. Em 8 e 9 de novembro de l931 dois populares são mortos pela polícia.
O 21º BC, avesso aos expediente da Velha República, resiste a reprimir as insatisfações populares. Pedro Elói Pereira Calado, fiscal de Imposto de Consumo e ex-chefe de polícia, é o crânio civil da revolta. Brício Pompílio Bentes Filho, capitão farmacêutico, articula a adesão de militares. O engenho militar fica por conta dos oficiais Alcides Cardoso, José Pessoa, Gerôncio Quintero, Arisatóteles Evangelista, Sabino Silva, Otávio Leite, Agapito Colares e Heli Coutinho. Ainda o concurso do capitão da Força Pública, José Muniz de Andrade, e dos sargentos Severino Rangel e Oscar Rangel. Estivadores, operários da Great Western e da Pernambuco Tramways, também.
Madrugada de 29 de outubro, Brício Pompílio assume o comando do 29º BC. É morto com um tiro o capitão Nereu Gilberto de Morais Guerra, chefe do quartel. Outra vez o Quartel da Soledade é tomado. 1.200 fuzis são entregues a populares. Em volta do Recife, Paulista e Olinda perdem o domínio de delegacias, postos policiais e estações ferroviárias.
O interventor Carlos de Lima abriga-se no navio Araçatuba, do Lloyd Brasileiro, inda que recebendo uma comissão dos revoltosos para as negociações do cessar-fogo. A reação no dia seguinte, porém, não agirá com rogos...
** Por Marco Albertim
A Revolução de 30 em Pernambuco estoura na madrugada de 4 de outubro, pouco menos de 24 horas depois de pipocar no Rio Grande do Sul. Os rebeldes, com o apoio de populares, incluindo operários, tomam o Quartel da Soledade. Pasmos, arrebatados, apossam-se de “quatro mil fuzis novos, dois mil usados, metralhadoras pesadas e fuzis-metralhadoras, três caixas com granadas de mão, duas máquinas de carregar, revólveres e enorme quantidade de munição.”* Tomam parte os operários da Linha azul – usam o uniforme azul da Pernambuco Tramways.
Engrossam o levante os militares do 21º Batalhão de Caçadores, afora as adesões dos Tiros de Guerra 303 e 333. O desempenho dos comunistas chama a atenção do interventor Carlos de Lima Cavalcanti, que chama Cristiano Cordeiro para assumir a função de redator-secretário do Diário da Manhã, jornal do governo. Nas barricadas, pontificam os dirigentes comunistas Caetano Machado, Mota Cabral e Cristiano Marques. O flerte pouco duraria, porquanto a 6 de dezembro seguinte estoura a greve geral dos padeiros; à frente, José Caetano Machado. Os padeiros exigem jornada de oito horas diárias. O coronel Muniz de Farias, que comandara operários, inclusive padeiros, na tomada do Quartel da Soledade, reprime sem hesitação a greve.
Cordeiro não tivera lugar nas barricadas; cronistas o consideram teórico tão somente. A seu lado, Pedro Elói Pereira Calado; fora preso em 1925, e encabeçará o Levante de 1931.
Estácio Coimbra, então governador, foge com assessores e chefes militares a bordo de embarcações nos fundos do Palácio do Governo. É domingo, 5 de outubro. A Chefatura de Polícia é ocupada. Militares e civis ali presos são soltos e recebem armas para combater os legalistas. O Quartel do Dérbi se rende no começo da tarde do mesmo dia. Segue-se a capitulação do Regimento de Cavalaria. Carlos de Lima Cavalcanti toma posse como governador.
No mesmo dia, a Casa de Detenção do Recife é cercada. Os manifestantes querem linchar João Dantas, ali preso. Dantas é suspeito de ter assassinado João Pessoa, cogitado a vice-presidente na chapa com o gaúcho Getúlio Vargas, para suceder os governos da República Velha.
À tarde, Dantas e Augusto Caldas, seu cunhado, são encontrados mortos na cela. A versão oficial dá conta de que Caldas fora estrangulado, via carótida, por um bisturi empunhado por Dantas. Lençóis, fronhas e travesseiros são queimados. Moreira Caldas, irmão do cunhado de Dantas, não crê na versão oficial.
Carlos de Lima mantém-se no governo até l937. É um dos donos da Usina Pedrosa, e dos jornais Diário da Manhã e Diário da Tarde. O desemprego é agravado com a Lei dos 2/3, que assegura o monopólio do comércio e da indústria aos portugueses. O Mata-mata-marinheiro ressurge; padarias, pastelarias e botequins são objetos de quebra-quebra. Em 8 e 9 de novembro de l931 dois populares são mortos pela polícia.
O 21º BC, avesso aos expediente da Velha República, resiste a reprimir as insatisfações populares. Pedro Elói Pereira Calado, fiscal de Imposto de Consumo e ex-chefe de polícia, é o crânio civil da revolta. Brício Pompílio Bentes Filho, capitão farmacêutico, articula a adesão de militares. O engenho militar fica por conta dos oficiais Alcides Cardoso, José Pessoa, Gerôncio Quintero, Arisatóteles Evangelista, Sabino Silva, Otávio Leite, Agapito Colares e Heli Coutinho. Ainda o concurso do capitão da Força Pública, José Muniz de Andrade, e dos sargentos Severino Rangel e Oscar Rangel. Estivadores, operários da Great Western e da Pernambuco Tramways, também.
Madrugada de 29 de outubro, Brício Pompílio assume o comando do 29º BC. É morto com um tiro o capitão Nereu Gilberto de Morais Guerra, chefe do quartel. Outra vez o Quartel da Soledade é tomado. 1.200 fuzis são entregues a populares. Em volta do Recife, Paulista e Olinda perdem o domínio de delegacias, postos policiais e estações ferroviárias.
O interventor Carlos de Lima abriga-se no navio Araçatuba, do Lloyd Brasileiro, inda que recebendo uma comissão dos revoltosos para as negociações do cessar-fogo. A reação no dia seguinte, porém, não agirá com rogos...
*Capitão Heli Cavalcanti Coutinho – de Glauco Carneiro
**Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
**Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.
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