sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011




"Por que você está chorando?"

* Por Adelcir Oliveira


Entrou no vagão e sentou-se. Trajava um vestido com predominância da cor amarela. Não era bonita. Quando olhei a segunda vez para ela a vi se maquiando. Eu estava em pé no vagão, junto a um amigo, com que conversava distraidamente. Ele me pediu que olhasse para a mocinha novamente. Assim o fiz e me deparei com ela em prantos. Deve ter brigado com o namorado, disse ao amigo. Ele teve o mesmo palpite. Mas claro, não tínhamos certeza alguma. E para escrever alguma história era imperioso que soubéssemos a razão do choro em pleno vagão de metrô.

O amigo desceu na estação Sé e se dirigiu à linha vermelha no sentido leste. Eu me sentei e vi que a mocinha havia trocado de banco. Ela ainda chorava. Na estação da Luz muitas pessoas entraram no vagão. Entre elas, uma mulher com algumas crianças. De repente, vi que uma delas conversava com a mocinha do choro.
- Por que você está chorando?

A mãe ficou um pouco sem graça. Mas crianças são assim mesmo, bastante sinceras e perguntam sem as amarras dos adultos. E é graças a esta menina, que deveria ter uns sete anos, que esta história é contada. A mocinha que chorava passou a explicar a razão e isso a acalmou.

A criança loira ouvia atentamente a explicação. Houve até filosofia para tecer as razões do choro. Não, não foi por causa de um namorado que ela chorou. Recebeu um telefonema e foi avisada que sua cachorra não resistiu e morreu. Do que morreu o cão não é sabido. Enquanto contou o motivo das lágrimas, a mocinha de vestido amarelo não chorou. E foi muito delicada com a menininha de cabelos dourados e olhar atento, que desceu primeiro e se despediu com beijo ao vento. O vestido amarelo foi na estação seguinte.

• Jornalista

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