quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Um sonho, uma onça


* Por Suzana Vargas

O sonho vela o escuro e é real
E o real é essa onça é esse sol

É mais real que as grades, que a comida
Do carcereiro, é mais real que a vida.

Com a sua avidez adormecida
A onça sonha, mas não sonha em vão

Em vão vai quem se prende à realidade
E imagina ser livre sem as grades.

Na verdade uma paixão nos prende a tudo
E mesmo cegos surdos mudos continuamos.

Mas pensemos na onça em sua cela
no seu sono velado à luz do dia

Que a obriga a dormir com seus limites:
o cheiro, a cor, ruídos rutilantes
(instintos e capim e terra e ar)
Por que imaginarmos diferente
Se o limite da onça é sonhar?

* Poetisa gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, autora de literatura infantil e ensaísta. Tem 16 livros publicados, entre os quais “Sombras chinesas” , “Caderno de Outono” (indicado ao Prêmio Jabuti) e “O amor é vermelho”.

2 comentários:

  1. Poema muito forte e bonito. Parabéns!Bjs

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  2. Não pensei que as onças sonhassem, mas talvez sonhem. Por outro lado sei que todos temos grades a nos impedir de voar, mas não de sonhar, pois nada pode segurar o pensamento.

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