sábado, 6 de novembro de 2010




As frutas da Colômbia

* Por Urda Alice Klueger

Temos a mania, aqui no Brasil, de endeusar tu do o que é europeu e estadunidense, e de considerar a América Latina como o supra-sumo do subdesenvolvimento. Ainda se tem al gum respeito pelo México (leia-se: Cancun) e por algumas ilhas do Caribe, mas a América do Sul  Deus nos livre, a América do Sul é um lugar horrível, quem pensaria em conhecê-la de verdade, em gastar dinheiro fazendo turismo por ela, quando se pode ir com tanta facilidade à Disney?
Eu sou uma das raras pessoas do Brasil que gasta tempo e dinheiro para conhecer a América do Sul. Via de regra, nessas viagens, meus companheiros são europeus e israelen ses, que vêm às centenas, aos milhares, viajar pelo continente que o brasileiro despreza. Eventualmente, muito eventualmente, se encontra um brasileiro pelas rotas do nosso continente, e quando há algum, é alguém que comunga das nossas idéias, e como é bom encontrar aquele raro brasileiro, então!
Mas comecei este texto querendo falar das fru tas da Colômbia.
O brasileiro tem da Colômbia, como do resto do continente, uma péssima imagem. Sabe que lá há guerrilha e cocaí na, e nada mais. Nem lhe passa pela cabeça imaginar a grande fer tilidade da Colômbia, seu litoral paradisíaco, seu povo alegre e brincalhão. Eu viajei, faz pouco tempo, pela Colômbia, e fiquei pasma com a sua agricultura. Comecei uma longa viagem ao Sul, em lpiales, fronteira com o Equador, em direção a Bogotá, longa rota feita sobre os Andes, de excelentes estradas pavimentadas que en vergonhariam o Brasil, sem falar dos ônibus, espetaculares ônibus modernos, de forma aerodinâmica, todos dotados de ar condicionado e televisão, veículos que nem as melhores empresas de turismo têm no Brasil. Essa longa viagem de 24 horas em direção a Bogotá deu-me uma visão fantástica sobre a agricultura na Colômbia: os Andes, tão áridos na Bolívia, são extremamente férteis naquela região, e têm todas as encostas das montanhas cobertas de incontáveis e incontáveis campos agrícolas. Grande produtora de grãos e de café, cada quilômetro da Colômbia tem uma tonalidade dife rente de verde ou amarelo, dependendo do que se cultiva nele. A soberba visão daquelas montanhas quadriculadas pela agricultura tem uma doçura e uma grandeza que não dá para esquecer.
E depois, quando se desce os Andes, e o clima fica quente e propício ao cultivo de frutas tropicais, ah! é mais difícil de esquecer ainda! De Bogotá em direção ao Caribe, é es tonteante o tamanho das plantações de frutas! Creio que, só para atravessar um bananal já próximo do mar, devemos ter andado de ônibus por quase uma hora. E são bananais cuidados, as bananeiras plantadas em filas certinhas, cada um dos milhares de cachos de banana preso dentro de um saco, decerto para impedir o ataque de insetos. Há que haver ali um povo extremamente laborioso, para produzir tais efeitos, mesmo sob as ordens de uma plantation.
O clima quente do litoral caribenho da Colômbia, aliado aos cuidados que se dão aos pomares, produzem as mais fantásticas frutas que se possa imaginar.
Sempre achei que o Brasil era rico em frutas, mas perto das frutas colombianas, as nossas ficam pálidas e sem graça. Nunca poderei esquecer daquelas bananas, deliciosas, douradas, enormes (que o colombiano costuma comer junto com sopa de galinha), nem daqueles mamões de um tamanho descomunal, de uma doçura ímpar. Compra-se o mamão em fatias, fatias cuja carne tem a espessura de três dedos, e um pedaço daqueles equivale a uma refeição. Essas fatias de mamão vêm muito limpinhas, higienicamente acondicionadas em limpos sacos plásticos, nada tendo a ver com a sujeira que imaginamos dominar o terceiro mundo. E as goiabas, e os abacaxis, e as outras frutas que não conhecemos por aqui! É comum ver-se os vendedores de frutas nas ruas, com suas pirâmides de delícias coloridas, gentilíssimos, a nos querer conquistar com o que, parece, ser o grito de guerra do comércio colombiano:
 À la ordem! À la ordem!
É uma pena que a Colômbia esteja tão longe, e não seja possível ir-se lá de vez em quando. Valeria a pena fazê-lo por muitos motivos, e um deles, com certeza, seria aquela profusão fantástica e deliciosa de frutas.

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR

Um comentário:

  1. Sou fã de todas as frutas, a começar pelas frutas do cerrado, poucas hoje, após a dizimação do mesmo. Fiquei de água na boca com o seu texto, Urda, e entro em defesa de alguns turistas da América do Sul. Tenho um primo que já esteve diversas vezes na Colômbia, e em junho agora,ficou um mês na Venezuela. Alguns, assim como você, pensam diferente da maioria.

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