sábado, 1 de agosto de 2009


O sagrado na literatura

O sagrado, ou seja, a incessante busca do homem por seu Criador (não importa a forma, o poder e o comportamento que lhe empreste), sempre esteve, está e certamente estará presente na literatura. Antes mesmo da invenção da escrita, nos poemas que eram transmitidos oralmente de uma geração a outra, deuses, em geral antropomórficos ou representados por elementos da natureza (com formas misto animais e humanos, como os dos egípcios, ou representados pelo sol, pela lua etc.), estavam presentes nessas “crônicas” versificadas, que deram origem a inúmeros mitos, muitos dos quais sobrevivem até hoje. Claro que estão profundamente alterados em relação aos originais. Afinal, como diz o povo, em sua simples sabedoria, “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Homero, em suas “Illiada” e “Odisséia”, faz, dos moradores do Olimpo personagens que participam diretamente do cotidiano dos seus heróis e vilões. Despertam paixões, fazem intrigas, intrometem-se em guerras (a maioria provocada por eles) e influenciam decisivamente o destino de batalhas a favor de uma ou de outra facção. Ou seja, agem exatamente como nós, humanos, embora tenham, hipoteticamente, a prerrogativa da eternidade. O mesmo se verifica com a “Eneida”, do romano Virgílio. As epopéias indianas, “Ramaiana” e “Mahabarata”, igualmente têm deuses diretamente envolvidos no enredo.
Como se vê, o sagrado sempre esteve presente na literatura, mesmo a, digamos, “profana”, que nada tem a ver (pelo menos não diretamente) com esses textos literários. Antonio Vieira, por exemplo, legou-nos páginas maravilhosas e imortais, verdadeiros modelos da arte de escrever bem, com os seus famosos sermões.
Seus textos, frise-se, não foram escritos com a finalidade de vender livros. Certamente, o sacerdote sequer cogitava da possibilidade deles serem reunidos em volumes, publicados e posteriormente vendidos. Seu objetivo era mais pragmático: o de converter incréus e de “religar” os que já eram fiéis ao culto que propagava (no caso, o catolicismo) ao Deus em que sempre acreditou. Seus sermões, no entanto, são leitura obrigatória para quem queira conhecer, de fato (e a fundo), o que de melhor se fez até hoje em termos de literatura em língua portuguesa.
Para lê-los, não é necessário ser católico, nem mesmo cristão, ou sequer acreditar em Deus. A forma como esses sermões foram escritos é que fez com que sobrevivessem ao tempo e ao esquecimento. Claro que se o leitor juntar a ela seu precioso conteúdo, sairá muito mais enriquecido, não somente do ponto de vista cultural, lingüístico e literário, mas também (e sobretudo) espiritual da sua leitura.
Vieira sempre foi, é e certamente continuará sendo um dos escritores prediletos deste Editor, que não se cansa de ler, reler, analisar e dissecar seus sermões, embora se confesse um tanto cético em relação à maioria das religiões, que se restringem, no seu entender, a ritos, que lhe parecem sem sentido e significado, em detrimento do esclarecimento espiritual.
As editoras atuais reservam espaços enormes em seus catálogos anuais de publicações para temas religiosos ou “esotéricos” (o que vem a dar na mesma). E não nos referimos àquelas especializadas nesse tipo de livros, ligadas, via de regra, às inúmeras denominações religiosas.
Voltaremos, certamente, a este tema, tão vasto e, sobretudo, instigante, mas raramente abordado por críticos e historiadores de literatura. O objetivo é mostrar a você, leitor, os variados ângulos e os inúmeros aspectos desta às vezes frustrante, mas sempre fascinante arte de escrever.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. A literatura é uma riqueza tão grande, e muitos aspectos nos fogem, caro Pedro. Bom que a sua imaginação ventilada por tantas vertentes literárias que já visitou, nos alumie e indique outras rotas.

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